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Análise | Assassin's Creed Odyssey é uma aventura épica pela Grécia Antiga

Por| 07 de Novembro de 2018 às 09h29

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Assassin's Creed é, sem dúvidas, uma das franquias mais bem-sucedidas da indústria dos videogames. Apesar disso, desde o lançamento de seu primeiro título, em 2007, a série passou por altos e baixos, fez muita gente sorrir e tantas outras chorar e, principalmente nos últimos anos, testou a paciência de quem é fã.

Ano após ano, a Ubisoft explorou a fórmula de gameplay e o plot dos Assassinos vs Templários até exauri-los por completo. O fundo do poço foi atingido com Assassin's Creed Unity, lançado com tantos problemas que era praticamente injogável. A partir daquele momento, finalmente ficou claro para a produtora francesa aquilo que há tempos vinha sendo apontado pelos fãs e pela crítica: a série estava cansada e precisava de uma pausa.

Leia também: A verdadeira história da franquia Assassin's Creed

O descanso só veio depois do lançamento de Syndicate em 2015. Naquele ano, pela primeira vez foi anunciado que Assassin's Creed não seria mais lançado anualmente. A folga provou-se revigorante e frutífera: Assassin's Creed Origins conseguiu inovar na medida certa e apresentou uma proposta diferente aos jogadores. Agora a Ubisoft foi mais além com Assassin's Creed Odyssey, que basicamente reúne todos os elementos e mecânicas que deram certo ao longo dos últimos 11 anos e os apresenta no mais belo, ambicioso e épico título de toda a franquia.

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Deus grego

À primeira vista, o que mais impressiona em Odyssey certamente é a qualidade gráfica. Se no passado a franquia foi duramente criticada por falhas visuais que afetavam dos cenários aos objetos e personagens, este novo Assassin's Creed passa a borracha para apagar tudo isso e se mostra aos jogadores como o jogo mais visualmente apelativo de toda a série.

Ao longo de suas quase 60 horas de jornada na campanha principal, o jogo surpreende a todo instante sobretudo pelas belíssimas paisagens que apresenta. Também não é para menos: o território da Grécia tem uma das formações geográficas mais curiosas e exóticas do mundo, com inúmeras ilhas distribuídas pelo Mar Egeu, a maioria delas com formação rochosa árida e outras com praias de areias branquíssimas. Some a isso as florestas presentes em Delfos, Corinto e nos arredores de Atenas e Esparta com a vastidão azul do mar e do céu e até mesmo a topografia de alguns lugares reproduzida à fidelidade (experimente passear por Cefalônia no Street View e faça a comparação com a Celafônia do jogo) e temos o ambiente perfeito para deslumbrar até mesmo aqueles que não são lá muito fãs do Modo Fotografia.

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Assassin's Creed Odyssey consegue representar toda essa riqueza e diversidade natural com maestria, valendo-se, além disso, de um bom sistema de mudança climática que aqui e acolá pode ajudar ou dificultar o cumprimento de uma missão e outra — sobretudo as que se desenrolam em alto mar sob um forte temporal. A competência nesse sentido é tanta que dá para cravar, com facilidade, que este é o mais belo Assassin's Creed já produzido pela Ubisoft, apresentando-se aos jogadores praticamente como um Deus grego, esteticamente perfeito.

Mudanças bem-vindas

Apesar de apelativo, o aspecto visual é apenas a isca que fisga e prende a atenção do jogador num título que inova em alguns aspectos, é rico em mecânicas e recheado de elementos que comprovadamente dão certo dentro de um Assassin's Creed.

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A principal mudança é em relação à história. Cronologicamente, Assassin's Creed Odyssey ocorre antes de todos os outros, mais especificamente em 431 a.C. na Grécia Antiga, durante a Guerra do Peloponeso, quando ainda sequer havia a Ordem dos Assassinos ou os Templários. Por esse motivo, pela primeira vez na história da franquia a Ubisoft retira o conflito entre as duas entidades do plano de fundo e trabalha uma trama diferente, cujo foco é o drama familiar dos irmãos Alexios e Kassandra, que você pode escolher no começo do game. Outros dois arcos se apresentam no decorrer da aventura, com o personagem descobrindo a existência de um culto que está por trás do conflito militar histórico e também de sua história pessoal, e eventos relacionados à Primeira Civilização.

Outra alteração significativa é que Odyssey abraça, em definitivo, as mecânicas e sistema de evolução dos action RPG da atualidade. Isso adiciona toda uma nova camada de gerenciamento e coleta de itens e torna a aventura mais desafiadora. Também há toda uma diversidade de armas e equipamentos que não só alteram o estilo de jogar como também incrementam atributos de armadura, dano, energia, etc. Para completar, como todo bom RPG, a evolução do personagem acontece a partir de um sistema de níveis e de três árvores de habilidade que praticamente definem o seu estilo de jogo: Caçador, Guerreiro e Assassino.

A cada nível avançado, você recebe um Ponto de Habilidade, que pode ser investido para melhorar uma dessas três habilidades. A de Caçador está mais relacionada à exploração e sobrevivência, permitindo que você se torne implacável em ataques a longa distância. As habilidades de Assassino, por sua vez, conferem mais furtividade e destreza para aqueles que prezam por ataques surpresa, sem serem vistos. Por fim, quem gosta do combate corpo a corpo e de se banhar de sangue, pode investir todos os seus pontos na árvore de habilidades de Guerreiro para se tornar um impiedoso e brutal mercenário. Claro, também é possível moldar um personagem balanceado, distribuindo os pontos com uma certa igualdade entre as três habilidades.

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Para completar a lista de novidades, pela primeira vez suas escolhas impactam o desenrolar da história de maneiras diferentes. Em algumas situações, a coisa toda toma proporções gigantescas, a exemplo de um determinado momento em que você é incumbido de salvar uma família que está prestes a ser despejada de seu vilarejo acusada de estar com uma doença terrível. Caso escolha ajudá-la, em pouco tempo você fica sabendo que a permanência deles ali deflagrou uma epidemia gigantesca e está dizimando toda uma região.

Por outro lado, há situações em que é imperceptível a forma como uma escolha altera o curso da história. Exemplo disso é que, em uma determinada missão, um cidadão pede ajuda a você para procurar por um familiar desaparecido. Está em suas mãos ajudá-lo de boa fé ou simplesmente cobrar pelo trabalho, apenas porque sim, já que o impacto disso na trama do jogo é nulo.

Mesmo assim a Ubisoft garante que não são os grandes momentos e as grandes decisões que determinam o final do jogo — que, por sinal, tem vários —, mas sim a soma de todas as deliberações, sejam elas grandes ou não.

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Mecânicas e elementos aprimorados

A adição desses elementos a Assassin's Creed Odyssey é uma prova de que, aos poucos, a Ubisoft está explorando novos ingredientes e reformulando o gameplay da franquia para conferir um novo fôlego a ela. Porém, é preciso ter uma fundação sólida e bem arquitetada para sustentar tudo isso, já que, sozinhas, essas novidades não são capazes de manter um jogo desta magnitude. E é aqui que a produtora mostra que soube reaproveitar e melhorar vários elementos que funcionaram no passado e ainda funcionam hoje.

Embora a campanha principal seja muito extensa, ainda há uma infinidade de coisas para fazer na Grécia Antiga de Odyssey. As missões secundárias são inúmeras e normalmente envolvem saquear determinados locais ou encontrar alguém para dar um recado ou acabar com ela. É mais do mesmo, já que tivemos esse tipo de side quest a rodo nos títulos anteriores. Porém, até nisso é possível perceber o esforço da Ubisoft para tornar a coisa toda mais atraente.

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Um bom exemplo é a adição dos caçadores de recompensa. À medida que você comete atrocidades mundo afora, cresce o interesse de algumas personalidades por sua cabeça. Para consegui-la, eles anunciam uma recompensa e esses caçadores — todos criados de maneira procedural — saem em sua busca. A coisa toda funciona como o nível de procurado de Grand Theft Auto, só que, ao invés de estrelas, aqui seu nível é mostrado em elmos vermelhos — quanto mais deles você tiver, mais fortes serão os caçadores que virão em seu encalço. E aí você tem três opções: enfrentá-los, pagar-lhes o valor da recompensa em troca de sossego ou ir em busca do mandante para assassiná-lo e acabar com isso de uma vez por todas.

Agora o mais interessante disso é que esse tipo de inimigo pode lhe encontrar a qualquer momento do jogo, inclusive durante batalhas no meio de missões. Se o seu nível de procurado for muito alto, dois ou três podem aparecer e, por normalmente serem mais fortes que os demais personagens, exigem que você altere toda a sua estratégia no meio do combate ou até mesmo desista da missão e fuja do local. É sufocante e desesperador, mas de um jeito divertido.

Os navios também estão de volta com aperfeiçoamentos. Antes presos às missões, agora eles são parte integral do jogo e você pode usá-los a qualquer momento para explorar o mapa gigantesco — afinal de contas você tem de cruzar o Mar Egeu rumo às diversas ilhas que compõem a Grécia. E, ao contrário do que muitos podem pensar, essas viagens para lá e para cá não são nem um pouco tediosas, já que a tripulação entoa belíssimas canções e Alexios ou Kassandra vibram quando uma corrente de vento favorável ajuda a nau a rasgar a imensidão azul adiante.

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E se há navios, também há batalhas navais. É praticamente impossível não se tretar com embarcações espartanas, atenienses e até mesmo piratas indo de um lugar para outro. Tais combates são desafiadores na medida certa e fazem o jogador se sentir verdadeiramente no comando daquela coisa gigantesca feita de madeira. Quando saímos vitoriosos, temos a opção de iniciar uma abordagem ao navio derrotado, acabar com sua tripulação e saquear seus tesouros.

Tal qual seu personagem, o seu trirreme — sim, ele é seu e tem nome: Adrestia — pode ser melhorado com materiais e dracmas, muitas dracamas (prepare-se para gastar). Além de poder melhorar a estrutura e os adornos do Adrestia, também é possível aprimorar as habilidades dos arqueiros e lanceiros, fora as defesas e resistência de cada um deles. Outro aprimoramento interessante é que agora é possível recrutar inimigos derrotados para serem tenentes de sua tripulação, e cada um deles incrementa os atributos da embarcação de maneiras distintas.

Revisionismo histórico apurado

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Poucas franquias da indústria do entretenimento utilizam o revisionismo histórico tão bem quanto Assassin's Creed, e isso não podia ser diferente em Odyssey. O recurso consiste em reconter eventos históricos reais e inserir neles novos personagens e acontecimentos para criar uma narrativa fantasiosa.

Embora isso soe simplório, sobretudo a quem aspira escrever suas próprias fanfics, a verdade é que exige uma vasta pesquisa para aproveitar eventos, fatos e personagens históricos adequadamente dentro da narrativa proposta. Felizmente, a Ubisoft foi muito feliz nesse aspecto em Odyssey.

Como já falamos, o game se passa durante a Guerra do Peloponeso, conflito entre Atenas e Esparta que se arrastou por quase três décadas. Para ambientar o jogador, entretanto, logo no começo o título retrata a derradeira Batalha das Termópilas, aquela retratada pelo filme 300, com o jogador controlando Leônidas em meio ao conflito contra 10 mil soldados persas. Morto no combate, tudo o que restou do Leão de Esparta foi sua lança com o DNA de duas pessoas: Alexios e Kassandra.

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É a partir daí que Assassin's Creed Odyssey se desenrola e fisga os que se interessam por História e pela Grécia Antiga. O jogo é competente e bem-sucedido não apenas em retratar e reproduzir locações, eventos e personagens históricos reais, como Péricles, Sócrates, Heródoto, Alcibíades e muitos outros, mas também ambientar e fazer o jogador se sentir parte de tudo aquilo. E grande parte desse mérito é devido ao seu personagem ser um mercenário.

Por não estar alinhado a nenhuma das cidade-Estado, você é livre para transitar tanto por Esparta quanto por Atenas. Graças a esse passe-livre você acompanha de perto não só as motivações de cada lado da história, mas também seus temores e algumas curiosidades. Um dos momentos que mais me marcou em minha jornada foi chegar a Atenas pela primeira vez e encontrar o centro civilizacional do Ocidente naquela época tomado pela tensão e receio de um ataque repentino de Esparta e uma população dividida entre seu líder Péricles e o demagogo Cléon. Aproveitando-se desse clima e lacunas históricas que envolvem esses personagens até os dias atuais, a Ubisoft cria algumas situações inusitadas, como a que o Pai da Democracia burla todo o sistema que ele próprio criou para salvar amigos de ataques pessoais ou até mesmo do ostracismo, fraudando votos ou armando contra seu próprio exército para isso

Apesar disso e de podermos escolher nos aliar aos atenienses e mudar o curso da História, Assassin's Creed Odyssey é certeiro em retratar desde costumes como um cumprimento pessoal daquela época (você acha que as pessoas apertavam as mãos há tantos anos?) às engrenagens que moviam toda a sociedade da Grécia Antiga. É o tipo de coisa que não só instrui e desperta a curiosidade de quem se interessa pelo assunto, como também demonstra o primor do vasto trabalho de pesquisa da produtora francesa.

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Ambicioso, único e encantador

Obviamente que toda essa grandiosidade não está imune a erros. Como todo trabalho executado por humanos, Assassin's Creed Odyssey carrega consigo alguns problemas, todavia nenhum deles é suficientemente grave a ponto de desabonar o game. A bem da verdade, os problemas são raros e bastante pontuais, como quando você está em uma missão por Esparta e mesmo assim é hostilizado e entra em combates contra seus soldados, mas não por sua iniciativa, e sim deles. A coisa é tão boba e rara de acontecer que a frustração não passa de um "Ué, o que está acontecendo aqui?".

No fim das contas, o saldo é mais do que positivo. A introdução de novas mecânicas que tornam este Assassin's Creed muitos mais um RPG de ação do que propriamente uma aventura foi muito bem executada. Já o retorno e melhoria de elementos antigos demonstra que a Ubisoft está trabalhando para não deixar a franquia repetir os erros do passado e aponta para um caminho diferente e promissor.

Pela vastidão de seu cenário, riqueza de detalhes e incontáveis horas de diversão, Assassin's Creed Odyssey certamente é o mais ambicioso e encantador título de toda a série. Que siga nesta direção e nos apresente ainda mais novidades em seu próximo capítulo.

Assassin's Creed Odyssey está disponível com menus, legendas e áudio totalmente em português para Xbox One, PlayStation 4 e PC. No Canaltech, o jogo foi analisado no Xbox One X com cópia gentilmente cedida pela Ubisoft.