Amazon "mata" discretamente jogo que deveria concorrer com Fortnite e Overwatch
Por Rui Maciel |
Crucible. Se você nunca ouviu falar desse nome, não se preocupe. A esmagadora maioria da população também não. Mas ele representa o fato que fazer um sucesso esmagador em uma área não significa que uma empresa possa dominar outras com a mesma competência - ainda que ela esteja relacionada com seu core business. É o caso da Amazon e sua primeira grande empreitada na área de games.
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Crucible é um game multiplayer online de grandes proporções, focado em PCs e que foi lançado pela gigante do e-commerce no final de maio deste ano. Apesar de ser gratuito e estar disponível na maior plataforma de jogos do mundo, o Steam, o título rapidamente saiu do top 100 do site e tinha menos de cinco mil jogadores em média - um belo problema se você quer competir de igual para igual com pesos-pesados como Fornite e Valorant, entre outros.
Menos mal que a Amazon soube identificar que o game não teria muito futuro - ou não teve paciência para trabalhar mais nele. No final de junho, a empresa retirou o jogo das lojas digitais e o colocou de volta em beta fechado, um termo de desenvolvimento que significa que o game não está completo. E, finalmente, em um post publicado no blog oficial do jogo, na última sexta-feira (9), a empresa anunciou a morte de Crucible. O texto diz:
"Em última análise, não víamos um futuro saudável e sustentável à frente. Essa avaliação nos levou a uma difícil decisão: vamos interromper o desenvolvimento de Crucible"
Ainda de acordo com o blog, todas as compras que os jogadores fizeram no game podem ser reembolsadas e a capacidade de comprar moeda do jogo já foi suspensa. A funcionalidade de matchmaking do título, que permite a modalidade multiplayer, será desativada "nas próximas semanas". Já a expiração final para partidas persoanlizadas se dará no dia 9 de novembro.
Falhas na promoção do jogo
Além de ser um jogo de tiro multiplayer online, Crucible traz também elementos de RPG, onde você comanda um entre dez personagens (intitulados “Caçadores”), cada qual com suas respectivas habilidades. Os jogadores se enfrentam em uma arena, competindo por um recurso chamado “Essência”, que pode ser usado para aprimorar suas técnicas. O título traz muitos elementos de outros games que já são bastante familiares aos fãs do estilo, como League of Legends e DOTA 2, ainda que ele também buscasse uma fatia do mercado de outros games como Fortnite e Valorant.
Considerado um game de nível "AAA", Crucible foi desenvolvido pelos estúdios Relentless e sua criação foi iniciada em 2014. A ideia era atrair dezenas de milhões de jogadores e, na sequência, transformá-lo em um grande jogo para e-sports.
Só que, além de não trazer grandes diferenciais em relação aos seus competidores, a promoção de Crucible também não foi das melhores. O contraste entre como ele foi lançado em comparação com Valorant (da Riot Games) ajuda a ilustrar por que o game da Amazon naufragou, enquanto seu rival teve sucesso.
Quando Valorant foi lançado este ano, ele estava disponível em um beta fechado que você só poderia acessar assistindo a streamers do Twitch jogarem o game ao vivo; por meio de um sistema "drop" vinculado às contas do Twitch, os espectadores ganhariam acesso gratuito à versão de testes para experimentá-lo. Desta forma, os novos jogadores de Valorant já tinham alguma ideia de como se deveria jogar o game, até porque eles viram o título sendo funcionando em tempo real.
Já no caso de Crucible, nas semanas anteriores e posteriores ao seu lançamento, a Amazon, dona (sim, DONA) do Twitch, não usou seu próprio serviço de streaming para promover o jogo. Não havia streamers principais jogando o game ou fazendo propaganda do mesmo. Também não havia nenhum trailer de Crucible rodando como anúncios e nenhum sistema de drop para que os interessados obtenham acesso antecipado. Da mesma forma, no YouTube, os anúncios de "Crucible" não estavam em lugar nenhum. Não tinha mesmo como dar certo.
No mais, Crucible tinha cerca de 25.000 jogadores simultâneos em seu pico, ocorrido em 21 de maio, um dia após o seu lançamento. Mas, em 22 de maio, o jogo já havia desaparecido da lista do Steam dos 100 games mais populares, registrando uma média dos já citados cinco mil jogadores simultâneos online.
O fato é que a Amazon gastou dezenas de milhões de dólares para desenvolver um game de grandes proporções, mas cometeu erros primários, algo fatal em um mercado ultracompetitivo e com usuários exigentes, o que acabou por condenar seus esforços. Agora, é torcer para que a empresa não faça o mesmo com New World, um jogo de MMO online e com lançamento previsto para 2021; bem como o Project Tempo, sua aposta para o streaming de games, para concorrer com o Stadia, serviço de cloud gaming do Google (que também não está lá essas coisas) e o Project xCloud, da Microsoft, lançado em setembro último e que chegou de forma mais estruturada e integrada ao ecossistema do Xbox.
Com informações da Business Insider
Fonte: Play Crucible