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Será que o metano da lua Encélado está sendo formado por microorganismos?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 07 de Julho de 2021 às 11h55

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NASA
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Ao sobrevoar a lua Encélado, de Saturno, a sonda Cassini, da NASA, coletou amostras de plumas d’água que ocorriam por lá, cuja composição mostrava, entre outras substâncias, uma quantidade surpreendentemente alta de metano. Agora, um estudo feito por cientistas das instituições University of Arizona, Paris Sciences & Lettres University mostrou que, provavelmente, há algo produzindo o gás no fundo do oceano desta lua — mas ainda não se sabe exatamente que processo seria esse e menos ainda se seria o caso de haver microrganismos por lá; ou seja, tal possibilidade não pode ser descartada, apesar de não haver indícios quanto a isso.

Encélado é a sexta maior lua de Saturno e chamou a atenção dos cientistas quando a sonda Cassini sobrevoou sua superfície congelada e revelou a existência de um oceano sob a camada que reveste o satélite natural, tornando-a um local de interesse para a busca de sinais de vida. Já as plumas d’água que emergem de lá vêm alimentando pesquisas e especulações sobre o oceano, e mais ainda sobre a origem dos compostos que existem nelas, como o di-hidrogênio, metano e dióxido de carbono. 

O metano, especialmente, chamou a atenção da equipe por aparecer em níveis altos. “Queríamos saber: micróbios, como aqueles que “comem” o hidrogênio e produzem metano na Terra, podem explicar a quantidade surpreendentemente grande detectada pela Cassini?”, indaga Régis Fierréri, um dos principais autores do estudo. Uma opção seria procurar estes microrganismos, conhecidos como “metanógenos”, nas profundezas do mar de Encélado, mas essa é uma opção extremamente desafiadora e muito pouco viável atualmente.  

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Por isso, a equipe seguiu por outro caminho: com modelos matemáticos, eles calcularam a probabilidade de diferentes processos — incluindo a metanogênese biológica — explicarem os dados obtidos pela sonda. Esses modelos uniram a geoquímica à ecologia, e permitiram que analisassem os dados da pluma para modelar possíveis processos que explicassem o que foi observado. No fim das contas, a equipe descobriu que os dados correspondem ou a fontes hidrotermais microbianas, ou a processos que não têm relação com formas de vida, mas que são diferentes daqueles que conhecemos na Terra.

Em nosso planeta, o metano pode ser produzido pela atividade hidrotérmica, causada pelo contato da água fria do mar com alguma fonte de calor no fundo do oceano. Contudo, a maior parte da produção do gás por aqui vem da metanogênese, em que microrganismos produzem metano a partir do dióxido de carbono. Os resultados sugerem que mesmo a estimativa mais otimista dos possíveis processos  de produção do gás sem a ajuda de seres vivos ainda não são suficientes para explicar a concentração do metano com base na química hidrotérmica. Por outro lado, se a metanogênese biológica for considerada, a produção pode ser suficiente para coincidir com o que a Cassini observou. 

De qualquer forma, vale manter a cautela. “Obviamente, não estamos concluindo que há vida no oceano de Encélado”, alerta Ferriére. “Na verdade, queríamos entender a probabilidade de as fontes hidrotermais de Encélado serem habitáveis para microrganismos como os da Terra — e os dados da Cassini nos dizem que seria muito provável”, finaliza. Como a metanogênese biológica parece ser compatível com os dados, a equipe considera que, para rejeitar a hipótese de haver vida por lá, seriam necessários dados de missões futuras.  

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Além disso, o metano pode vir até da decomposição da matéria orgânica primordial que talvez esteja no núcleo de Encélado, e que pode ser parcialmente transformada nos compostos observados. Essa hipótese se torna mais viável se os pesquisadores descobrirem futuramente que a lua se formou por matéria orgânica de cometas: “tudo se resume a quão prováveis acreditamos que sejam essas diferentes hipóteses”, disse Ferriére. “Por exemplo, se considerarmos que a probabilidade de vida em Encélado é extremamente baixa, esses mecanismos alternativos se tornam muito mais prováveis”. 

O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Nature Astronomy.

Fonte: University of Arizona News