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Reações químicas de Titã são simuladas em tubos e revelam chances de vida

Por| Editado por Patricia Gnipper | 30 de Agosto de 2021 às 13h10

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NASA
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Titã, a maior lua de Saturno, possui uma atmosfera densa de nitrogênio e metano, além de mares de metano líquido e etano. Compreender essa composição inusitada é essencial para a busca por vida em outros mundos — por isso, uma equipe de cientistas fez uma série de experimentos em laboratório para simular as condições de Titã em frascos de vidro.

Liderados por Tomče Runčevski, os pesquisadores primeiro removeram o ar dos tubos de ensaio com uma bomba e adicionaram água gelada. Então, adicionaram nitrogênio, metano, etano e outros compostos orgânicos, e repetiram o procedimento variando a composição da mistura química. Em seguida, aplicaram pressão e reduziram a temperatura ao redor dos frascos.

Como resultado, eles descobriram que duas moléculas orgânicas abundantes em Titã, acetonitrila e propionitrila, se tornam uma única forma cristalina quando submetidas às condições daquela lua. Essas duas moléculas são tóxicas para humanos, mas se existir alguma forma de vida em Titã, elas talvez tirem proveito desses elementos para sobreviver.

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A acetonitrila e a propionitrila são formadas em Titã pela combinação de nitrogênio e metano sob a energia solar, além da importante atuação do campo magnético de Saturno e os raios cósmicos. Elas começam como um gás na atmosfera, depois se condensam em aerossóis e chovem na superfície lunar, para então se transformarem em pedaços de minerais sólidos.

Os astrônomos e astrobiólogos já conheciam algumas particularidades de Titã, desde a visita da sonda Cassini pelo sistema formado por Saturno e suas várias luas. Por exemplo, eles já sabiam que, por lá, a atmosfera é tomada por uma névoa amarelada que oscila em torno de 180 graus Celsius negativos, enquanto a superfície é coberta pelos lagos, mares e rios de metano líquido e etano. Esses gases participam de um ciclo em que evaporam, formam nuvens e depois chovem na superfície lunar, exatamente como o ciclo da água terrestre.

Por causa dessa química orgânica de Titã, os cientistas consideram esse mundo um potencial laboratório para estudar as reações químicas que ocorreram na Terra antes do surgimento da vida em nosso planeta. Entretanto, apenas a Cassini conseguiu observar Saturno e suas luas em detalhes, por isso as pesquisas sobre a química de lá são relativamente raras. É aí que entra a importância deste novo estudo.

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Um dos detalhes mais curiosos é que a face externa do cristal formado nos tubos de ensaio tinham uma leve carga elétrica em sua superfície, capaz de atrair outras moléculas, como a água. Esse pode ser um detalhe crucial para o estudo da vida no Sistema Solar, já que a água é necessária para formar os blocos de construção da vida baseada em carbono.

Isso não significa que existe vida em Titã, mas as condições para a vida estão lá. Estudos anteriores sugeriram que uma eventual forma de vida em Titã poderia ter o formato de cristais e, por isso, não a reconheceríamos. No entanto, a capacidade dos cristais atraírem moléculas de água torna as coisas mais interessantes. "Titã é a coisa mais próxima da Terra que pode abrigar vida de uma forma que a perceberíamos como semelhante à vida na Terra", disse Runčevski.

Apesar desses resultados promissores sugerirem que blocos de construção da vida podem se formar nas condições de Titã, Runčevski faz questão de deixar claro que este experimento não busca tentar tentando criar vida — apenas deseja entender se isso é possível ocorrer na lua de Saturno. “Não sabemos o básico sobre Titã, muito menos presumir que somos capazes de recriar a vida com os minerais de Titã”, diz ele. Runčevski suspeita que os cristais provavelmente se formaram ao redor dos lagos de Titã, conforme o etano líquido evapora e deixa esses compostos na costa.

Além disso, o próprio autor do estudo admite que a pesquisa é limitada, pois não considera todos os produtos químicos presentes em Titã e, portanto, pode obter apenas uma imagem simplificada do que realmente acontece por lá. A missão Dragonfly, da NASA, prevista para 2027, pode fornecer mais informações sobre a composição de Titã e encontrar novas pistas sobre as possíveis formas de vida.

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Fonte: EurekAlert, Live Science, Wired