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Formas de vida seriam irreconhecíveis se surgissem em Titã, lua de Saturno

Por| 09 de Março de 2020 às 18h20

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NASA
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A lua Titã, de Saturno, é um mundo que pode parecer com a Terra se você olhar para sua geologia com a presença de lagos e dunas. Mas as semelhanças acabam por aí. É que esses lagos são formados não por água, mas sim por metano e etano no estado líquido, e sua atmosfera é rica em nitrogênio, e não em oxigênio. Com essas características, Titã pode até permitir formas de vida, mas elas seriam irreconhecíveis.

É que, para qualquer forma de vida surgir em Titã, seria necessário um organismo capaz de resistir à temperatura de -170 graus Celsius. Mesmo para os micróbios semelhantes aos da Terra seria um mundo hostil. Ainda assim, nas regiões onde o metano líquido é abundante, a vida pode encontrar um jeito de acontecer, a partir de um bloco químico específico.

Martin Rahm, químico da Universidade Chalmers de Tecnologia, na Suécia, criou com seu colega uma simulação que aponta para a possibilidade de que o conjunto de condições em Titã seja capaz de gerar vida - pelo menos qualquer coisa como os micróbios que conhecemos. Caso isso aconteça, a vida por lá teria que ser bem estranha.

A ausência de água faria com que os organismos de Titã fossem bem diferentes. Qualquer ser microbiótico da Terra que fosse levado a um dos lagos de Titã teria bastante dificuldade, porque mesmo seres unicelulares terrestres são mantidos membranas feitas de moléculas gordurosas chamadas lipídios. Os lipídios formam uma estrutura que delimita todas as células vivas, uma espécie de barreira, porque certas partes atraem moléculas de água enquanto outras as repelem.

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Essas interações com a água orientam as moléculas em uma espécie de folha plana e flexível e evitam que as partes internas de uma célula se afastem. Mas os lagos de Titã não têm água para interagir e as temperaturas frias congelariam qualquer vida terrestre sólida. Então como uma protocélula - as primeiras e mais simples formas de vida - poderia prosperar? Uma equipe de pesquisadores sugeriu em 2015 que, no lugar dos lipídios, poderia haver uma molécula conhecida como acrilonitrila.

Na época, eles calcularam que as propriedades químicas da acrilonitrila permitiriam que uma molécula atraísse outra, em vez de interagir fortemente com o líquido circundante. Isso formaria uma membrana que, nas condições de Titã, permaneceria unificada e mole o suficiente para permitir o movimento. Dois anos depois, o observatório ALMA encontrou evidências da presença de acrilonitrila em Titã em quantidades suficientes para sustentar milhões de formas de vida unicelulares.

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Rahm ficou interessado nessa possibilidade, especialmente em uma previsão feita pela equipe de 2015: as células da vida de Titã seriam baseadas nessa molécula, com uma forma particular, sob condições específicas. Normalmente, a astrobiologia (o estudo sobre as possibilidades de vidas alienígenas) raramente chega a conclusões específicas o suficiente para testar com uma simulação em computador, mas desta vez foi diferente.

Rahm e sua colega Hilda Sandström criaram um programa de computador para simular como as moléculas flutuantes de acrilonitrila agiriam ao colidir com moléculas de metano a -183 graus Celsius. Eles descobriram que as moléculas se organizavam em um tipo de cristal rígido, como gelo ou sal de mesa, e não na folha plana e flexível das células mantidas por membradas feitas de lipídios. Então, concluíram que qualquer vida em Titã não poderia ter a superfície externa mole de todas as células da Terra.

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Jonathan Lunine, membro da equipe de 2015, elogiou esse trabalho como "excelente", mas disse que ainda há espaço para trabalhar com a ideia original. É que o cálculo de Rahm e Sandström assumiu um ambiente puramente de metano, mas os lagos de Titã contêm etano e outros componentes, que poderiam tornar as moléculas mais flexíveis.

Por outro lado, Rahm aponta outras maneiras pelas quais a vida também poderia sobreviver em Titã. Em primeiro lugar, a lua de Saturno provavelmente abriga um oceano subterrâneo de água líquida, onde as células lipídicas se sairiam bem. Ele também especula que as membranas podem não ser tão necessárias para as moléculas se manterem unidas quando se trata de um lugar gelado como Titã. Elas poderiam viver presas a uma rocha, esperando que os nutrientes flutuassem naturalmente através de mudanças sazonais ou vento. “Há movimento na superfície”, diz Rahm.

No entanto, ele admite e alerta que essas ideias são meramente especulativas e até mesmo improváveis. Sua pesquisa, porém, poderá ser útil para quando a NASA enviar o drone Dragonfly a Titã. Até lá, novos estudos como este poderão apontar quais tipos de moléculas o drone deverá procurar para tentar encontrar sinais de vida.

Fonte: Popsci