Raio cósmicos podem ajudar a avaliar danos da guerra na Ucrânia
Por Danielle Cassita • Editado por Luciana Zaramela |

E se os múons, partículas energéticas formadas com raios cósmicos, ajudarem na avaliação dos estragos após o fim da guerra na Ucrânia? É esta a proposta da GScan, empresa da Estônia que trabalha com detectores que usam tais partículas, capazes de revelar rachaduras e fraturas ocultas em construções como prédios e pontes.
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Os múons nascem quando prótons altamente energéticos, núcleos atômicos dos raios cósmicos e moléculas da atmosfera da Terra se chocam. A “vida” deles é curta e intensa: eles existem por apenas 2 microssegundos, e depois, decaem em elétrons e antineutrinos. Mas, antes disso, estas partículas viajam à velocidade da luz — basta apenas 1 segundo para que cerca de 10 mil múons atinjam a superfície da Terra, mergulhando a centenas de metros de profundidade.
E foi na década de 1970 que pesquisadores usaram um experimento com detectores de múons para procurar câmaras ocultas em uma pirâmide no Egito, mas ainda demorou 50 anos para a tecnologia ser aprimorada. A GSCan é uma das empresas que conseguiu avançar no desenvolvimento, criando detectores que já foram usados em diferentes projetos. “Não há outra tecnologia no momento que possa mostrar o que tem dentro de um bloco de concreto”, disse Andi Hektor, cofundador da empresa.
Segundo ele, o sistema de raios X mais poderoso revela o que existe a até 20 cm de profundidade — já os detectores de múons revelam o que está oculto a dezenas de metros. Além disso, as partículas mostram detalhes do que existe nestas estruturas, como rachaduras invisíveis e câmaras preenchidas por líquidos.
Para isso, um sensor de uma fibra de plástico especial detecta a passagem de milhares e até milhões de múons conforme se aproximam do objeto. Ao combinar várias camadas das lâminas de fibra, os pesquisadores podem reconstruir a trajetória dos múons conforme atravessaram o material em diferentes locais.
Depois, outro detector posicionado no outro lado da estrutura de concreto mede como a trajetória dos múons mudou conforme as partículas subatômicas foram dispersas pelas irregularidades do material. “Com base nesta informação, podemos compor uma compreensão de como a trajetória pelo objeto muda, em média. Com base nisso, podemos fazer considerações sobre o material e o estado do material no objeto”, finalizou.
E, afinal, como usar estes recursos na prática? Bem, vamos considerar uma ponte danificada como exemplo. Neste caso, os detectores poderiam passar uma semana coletando dados de uma única parte da estrutura. No momento, a GSCan está discutindo com autoridades ucranianas a possibilidade de testar a tecnologia na Ponte de Paton, uma estrutura de 1.543 m construída em Kiev, na Ucrânia, há 70 anos.
“Eles obviamente têm preocupações diferentes no momento”, observou Hektor. “É algo que podemos fazer quando as condições estiverem mais adequadas, quando eles começarem a reconstruir tudo”, finalizou.
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Fonte: Space.com