Detector de neutrinos chinês terá 10 mil vezes o poder do IceCube
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper |

No Oceano Pacífico Ocidental, a 3.500 metros abaixo da superfície do mar, pesquisadores chineses estão construindo o maior e mais avançado detector de neutrinos do mundo. Quando estiver em funcionamento em 2030, o instrumento vai conseguir encontrar muito mais destas partículas que os instrumentos atuais, e vai conseguir rastear de onde elas vieram.
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O Tropical Deep-sea Neutrino Telescope (TRIDENT), também chamado Hai ling (Ocean Bell em chinês) foi projetado para monitorar o mar ao seu redor em busca de interações de neutrinos com as moléculas da água. Essa é uma das únicas maneiras conhecidas de detectar essas partículas.
A dificuldade em observar os neutrinos se deve ao fato de serem partículas sem carga elétrica e terem massa bem menor que aquela de um elétron. Por isso, conseguem atravessar a matéria sem interagir com ela — incluindo nosso planeta, casas e nossos próprios corpos. Bilhões de neutrinos estão passando por você nesse segundo!
Eles também são chamados de partículas fantasma, e quando interagem com a água ou gelo, produzem um múon (outra partícula sub-atômica) e formam uma luz azulada conhecida como radiação Cherenkov. Ao detectar o efeito, o instrumento informa aos astrônomos que um neutrino foi detectado por ali.
Com a detecção, os cientistas vão ter em mãos informações detalhadas sobre o neutrino, como sua energia e a direção de onde veio. A equipe do TRIDENT escolheu uma região do oceano próxima ao equador para rastrear as partículas de todas as direções do céu com a ajuda da rotação da Terra.
A construção do TRIDENT já está em andamento em um local a cerca de 540 quilômetros ao sul de Hong Kong, a menos de 200 km da ilha mais próxima, que fornece infraestrutura para fornecimento de energia e transmissão de dados do detector gigante. Ele vai ter até 10.000 vezes a capacidade do IceCube, atualmente o maior detector de neutrinos do mundo.
Enquanto o IceCube tem 1 km cúbico abaixo do gelo do Polo Sul, o TRIDENT vai ser um detector com 7,5 km cúbicos preenchido com água do mar. O presidente do projeto, Jing Yipeng, disse que o telescópio vai ajudar a testar alguns problemas da astrofísica, como as simetrias espaço-tempo, a gravidade quântica e a matéria escura.
O estudo descrevendo o projeto foi publicado na Nature Astronomy.