Explorando Vênus: um resumo das missões que já estudaram o planeta vizinho
Por Danielle Cassita |
Na última segunda-feira (14), uma equipe de astrônomos anunciou a descoberta de fosfina, uma substância presente nas nuvens de Vênus que poderia ser um indício de vida por lá. Até termos certeza da origem da substância, é preciso realizar mais estudos, mas existem cientistas que acreditam que este possa ser o momento de visitar o planeta outra vez — e com mais cuidado.
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Existem pesquisadores que veem Vênus como um planeta que ficou em segundo plano na busca por vida — e é o caso de Paul Byrne, cientista planetário da Universidade da Carolina do Norte. Para ele, se o planeta estiver ativo e tiver algo produzindo fosfina em sua atmosfera, já podemos “esquecer” Marte. O problema é que Vênus não é nada fácil de se visitar: a pressão por lá é tão densa que pode até esmagar submarinos, e as temperaturas da superfície vão além dos 400 °C.
Mesmo assim, talvez este seja o momento de trabalhar em projetos para enfrentar novamente as duras condições venusianas — e não seria a primeira vez, já que quase 40 naves já foram lançadas para estudar o planeta infernal. Conheça algumas delas:
As missões soviéticas
O programa Venera, da União Soviética, iniciou as tentativas de exploração de Vênus em 1961. Nas décadas seguintes, o programa lançou dezenas de naves em direção ao planeta; algumas delas apresentaram falhas, mas mesmo assim a nação se tornou a primeira a pousar uma nave em outro mundo com a Venera 7. Não muito tempo depois, a União Soviética foi também a primeira a fotografar a superfície de outro planeta.
A primeira leva de naves soviéticas foi esmagada em Vênus como se fossem simples latinhas de alumínio. Assim, depois de muitas tentativas e erros, os soviéticos desenvolveram uma nave metálica de cinco toneladas, que foi criada para resistir às imensas pressões venusianas mesmo que fosse por apenas uma hora. Em 1975, a sonda Venera 9 resistiu por quase uma hora na superfície venusiana e se tornou a primeira a registrar imagens da superfície de Vênus: foi ali que nosso mundo conheceu seu vizinho.
As imagens que esta missão e as que vieram depois mostraram que o solo de Vênus era rachado e emitia um brilho esverdeado. Já outras missões da série Venera, realizadas na década de 1980, ajudaram os cientistas a compreenderem melhor os processos geológicos venusianos. Por fim, em 1985, a União Soviética finalizou os encontros com Vênus com as naves Vega, que levaram balões com instrumentos científicos e mostraram o potencial que sondas poderiam ter para flutuar nas nuvens do planeta.
A NASA no estudo de Vênus
Apesar de Marte parecer a favorita da NASA quando o assunto é o envio de missões presenciais, não pense que a NASA nunca esteve de olho em Vênus: os programas Mariner e Pioneer, das décadas de 1960 e 1970, deram a abertura necessária para uma investigação do planeta. A Mariner 2 chegou ao planeta em 1962, e se tornou a primeira nave estadunidense a ir para Vênus com sucesso. Essa missão descobriu que as temperaturas do planeta eram mais frias nas nuvens, mas extremamente altas em sua superfície.
Já em 1978, as missões Pioneer forneceram um olhar mais próximo de Vênus. As primeiras missões orbitaram o planeta por quase 14 anos e revelaram muito sobre a atmosfera venusiana, além de mostrarem que a superfície do planeta era mais suave do que a da Terra. Já uma segunda missão enviou um conjunto de sondas para a atmosfera venusiana e trouxeram informações sobre sua superfície e nuvens.
A sonda Magellan, da NASA, entrou em órbita em 1990 e passou quatro anos mapeando a superfície de Vênus e buscando evidências de placas tectônicas. Assim, a Magellan realizou o primeiro mapa global da superfície de Vênus, junto de mapas de seu campo gravitacional. No fim, descobrimos que quase 85% da superfície do planeta estava coberta por fluxos de lava antigos, o que indica um passado de possível atividade vulcânica. A Magellan foi a última visitante estadunidense em Vênus — embora outras naves da NASA tenham passado pelas redondezas para seguirem para seus destinos.
Outras agências espaciais
A Agência Espacial Europeia (ESA) lançou a missão Venus Express em 2005, sendo esta a primeira da ESA no planeta, e que orbitou Vênus por oito anos, confirmando que o planeta ainda podia estar ativo geologicamente.
Hoje, Vênus conta apenas com a companhia da sonda Akatsuki, lançada pelo Japão em 2010. Essa sonda “errou” o caminho para Vênus devido a um problema em seu motor conforme se dirigia à órbita, mas a equipe da missão conseguiu colocá-la na direção certa em 2015. Desde então, a missão transformou a visão que os cientistas têm sobre o planeta irmão da Terra. Ao estudar a física da camada de nuvens de Vênus, a missão revelou perturbações nos ventos do planeta, as ondas gravitacionais.
O que vem por aí?
Na verdade, já foram propostas diversas missões para Vênus e algumas agências espaciais declararam interesse em visitar o planeta. Então, já existem possíveis futuras missões no horizonte: por exemplo, a agência espacial indiana propôs uma missão para estudar a química da atmosfera do planeta, enquanto a Rocket Lab, empresa neozelandesa, pensa em enviar um pequeno satélite a Vênus.
A NASA também já analisou algumas propostas recentes — tanto que em 2017 duas delas foram finalistas do programa Discovery. No fim, a agência acabou selecionando um par de missões de asteroides. Entretanto, no mesmo ano a NASA considerou a missão Venus In situ Composition Investigations (Vici), que tinha o objetivo de colocar dois landers na superfície do planeta, mas não foi desta vez; a missão Dragonfly, que irá estudar a lua Titã, foi escolhida.
Na próxima rodada do programa Discovery, a agência poderá escolher entre as missões DAVINCI+ e VERITAS, que estão competindo contra missões destinadas às luas Tritão ou Io. A NASA poderá selecionar duas das quatro finalistas e, dependendo das que forem selecionadas, podemos esperar novas possibilidades para visitarmos Vênus.
Fonte: New York Times, NASA, ESA