Por que vemos tão poucas supernovas? A poeira da Via Láctea pode ser a culpada
Por Danielle Cassita |
As supernovas, eventos poderosíssimos, extremamente brilhantes e capazes de liberar enormes quantidades de energia, ocorrem algumas vezes por século com o fim da vida de uma estrela massiva — embora menos delas do que o esperado tenham sido identificadas e registradas. Em um novo estudo, pesquisadores propõem que, talvez, seja necessária uma combinação de pouca poeira espacial, distância certa e um toque de sorte para que possamos observar as supernovas a olho nu.
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Quando uma estrela massiva morre, ela causa uma impressionante explosão de supernova. A última observável a olho nu que foi registrada em fontes confiáveis é a célebre SN 1604, a Supernova de Kepler, cujos detritos, mesmo depois de 400 anos, continuam se movendo em alta velocidade. Na época, o fenômeno foi observado por astrônomos de todo o mundo, mas não se sabia bem como uma “nova estrela” daquelas aparecia no céu e, pouco depois, desaparecia.
Entretanto, nos últimos quatrocentos anos que já se passaram desde a ocorrência da SN 1604, não houve mais nenhuma explosão do tipo observada a olho nu no céu. Além disso, cientistas já calculam que a taxa de ocorrência de supernovas em galáxias semelhantes à nossa é de alguns eventos a cada cem anos. Assim, os astrônomos do novo estudo propõem a Via Láctea não diminuiu sua taxa de “produção” de supernovas, mas sim que nós é que não conseguimos vê-las.
Por exemplo, considere Cassiopeia A, um belíssimo resquício de uma supernova que, embora tenha explodido há mais de 300 anos, ninguém a viu. Então, para os pesquisadores, o motivo disso estaria na região em que elas acontecem: a maior parte das supernovas ocorre no disco da nossa galáxia que, além de fino e cheio de estrelas, tem também poeira bastante eficiente em bloquear emissões de luz. Embora o coração da Via Láctea tenha mais supernovas do que outras regiões, também há mais poeira por lá, o que reduz a visibilidade delas.
Por isso, para serem observáveis a olho nu, essas supernovas teriam que “obedecer” alguns critérios, como explodirem na direção certa, ou seja, perto o suficiente de nós e, claro, em um caminho livre da poeira. Ao combinar esses fatores com a estimativa da taxa de ocorrência das supernovas, é possível reconstituir os registros que temos das supernovas observáveis — e ficamos com aproximadamente 33% de chances de ver uma dessas acontecendo pela morte de uma estrela massiva, e 55% durante a destruição de uma anã branca.
Contudo, o problema não está completamente resolvido, pois, embora o modelo criado preveja que a maior parte das supernovas visíveis a olho nu tenha que ocorrer perto do centro galáctico, a maioria das que foram registradas não aconteceu por lá. A explicação para isso pode estar relacionada aos braços espirais da nossa galáxia, que poderiam causar processos de formação de estrelas e supernovas associadas. Assim, os pesquisadores reforçam a necessidade de estudos futuros sobre a questão.
O artigo, disponível em formato pré-print e que ainda será revisado por pares, pode ser acessado no repositório online arXiv.
Fonte: UniverseToday