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Polos magnéticos também se invertem em exoplanetas. Como fica a habitabilidade?

Por| 25 de Fevereiro de 2021 às 07h30

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NASA
NASA

O campo magnético da Terra, fundamental para proteger nosso planeta das partículas do vento solar, não é estático. Os polos magnéticos costumam se deslocar para outros locais geográficos, e a longo prazo ocorre uma reversão, ou seja, os polos magnéticos norte e sul trocam de lugar. Isso acontece em intervalos de alguns milhares de anos e ainda não se sabe tudo a respeito desse tipo de evento, mas os cientistas estão convencidos de que o mesmo pode ocorrer em outros mundos.

Embora nós tenhamos o hábito de associar o norte magnético com o norte geográfico do nosso planeta, tratam-se de dois conceitos diferentes. O norte e o sul geográficos são físicos, mas os polos magnéticos se movem com certa frequência. Atualmente, o polo norte magnético está na Sibéria, por exemplo, mas durante uma reversão magnética ele irá lentamente em direção à Antártida, que fica no polo sul geográfico. Isso é algo natural e não há motivos para pânico, mas os cientistas querem entender melhor este processo.

Mais do que entender o evento de reversão magnética, alguns pesquisadores querem saber como ele funciona em outros planetas. É que, durante a reversão dos polos, o campo magnético global perde cerca de 90% de sua força, e isso pode fazer com que fiquemos um pouco mais vulnerável aos ventos e tempestades solares — mas isso não é um risco à vida em si, e uma prova disso é o fato de que já aconteceu algumas vezes antes na Terra e ainda estamos aqui.

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Por isso, alguns cientistas querem analisar o campo magnético de outros planetas para saber se eles proporcionam um ambiente favorável à vida. Compreender os campos magnéticos de outros planetas pode ser vital para avaliar se algum dos mais de 4 mil mundos que já encontramos ao redor de outras estrelas são potencialmente habitáveis ​​ou não. O primeiro passo para essa análise é detectar campos magnéticos nesses planetas, o que já é um grande desafio.

De acordo com Evgenya Shkolnik, professora associada de astrofísica da Universidade do Estado do Arizona, só foram analisados até agora o campo magnético de 15 planetas, ou menos. Os astrônomos parecem mais interessados nos mundos chamados de Júpiteres quentes, que são planetas gigantes gasosos como Júpiter, mas muito mais próximos de suas estrelas. Muitas vezes, eles completam uma órbita em poucos dias. Uma vez que eles são favoráveis ao estudo em comprimentos de onda de rádio, acabam se tornando alvos prediletos na detecção de campos magnéticos.

Reversões de campo magnético também ocorrem em Júpiter e Saturno, por isso os astrônomos afirmam ser "bastante plausível" que planetas de outros sistemas estelares com núcleos semelhantes ao da Terra podem sofrer reversões de polos também. Manasvi Lingam, professor assistente do Instituto de Tecnologia da Flórida, estudou a influência de campos magnéticos variáveis em outros mundos distantes na órbita de estrelas anãs vermelhas. Ele diz que muitos dos mesmos efeitos esperados na Terra durante as reversões também podem ocorrer naqueles planetas.

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Ainda falta muito para compreender com que frequência os campos magnéticos dos planetas de outros sistemas estelares se invertem, e isso pode ser crucial para saber se eles podem ser habitáveis ou não. Lingam afirma que “a supressão de campos magnéticos levará a maiores quantidades de radiação e taxas potencialmente maiores de erosão atmosférica pelo vento estelar”. Por isso, o comportamento das magnetosferas é um fator que merece maior atenção na busca por sinais de vida em outros mundos. Não só é importante encontrar campos magnéticos alienígenas, como também é necessário compreendê-los para que a potencial habitabilidade não seja descartada ao se observar uma reversão de polos.

FARSIDE: o telescópio que pode virar o jogo

Apesar de a detecção de campos magnéticos em outros sistemas estelares seja importante para a busca por vida alienígena, é também uma tarefa árdua, e a tecnologia atual ainda não é favorável a esse tipo de estudo. Na verdade, a tecnologia já existe, mas a falta de recursos em determinados projetos e instalações acaba impactando esse aspecto da pesquisa planetária. Mas isso pode mudar em breve, com instrumentos como o telescópio FARSIDE, um projeto que está atualmente em análise da NASA e outras organizações para uma possível construção.

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Mas o FARSEDE é um projeto ousado — ele seria construído na Lua, mais precisamente no lado afastado da Lua. É que a atmosfera terrestre, com todos os eventos naturais e sinais de rádio emitidos pelos incontáveis dispositivos eletrônicos, atrapalha e muito o estudo de outros planetas. Por isso, os cientistas querem construir um radiotelescópio na face lunar que nunca está virada para a Terra. Desse modo, a poluição “radiofônica” do nosso planeta não vai mais interferir na observação dos exoplanetas (mundos que orbitam outras estrelas que não o Sol).

Lá, os astrônomos estudariam uma série de fenômenos que não podem ser vistos através dos telescópios que ficam aqui, na Terra, nem mesmo pelos telescópios espaciais como o Hubble, que fica na órbita do nosso planeta. Um telescópio na Lua poderia nos mostrar até mesmo o que aconteceu antes de o universo formar suas primeiras estrelas e galáxias, ou os campos eletromagnéticos ao redor dos exoplanetas distantes. Essa pode ser uma das chaves principais para encontrarmos um mundo que seja, de fato, potencialmente habitável.

Por enquanto, o FARSIDE ainda é um sonho — mas não um sonho muito distante. Os cientistas sabem que falta um longo caminho a ser percorrido, e a ideia não passa de um projeto apresentado à NASA para um possível financiamento, mas estamos em um período da história onde essa tecnologia pode, de fato, se concretizar. Tudo o que os pesquisadores envolvidos no projeto precisam agora é de um financiamento de aproximadamente US$ 1 bilhão.

Fonte: Astronomy