O norte magnético da Terra está mudando rapidamente. O que isso significa?
Por Patricia Gnipper |
O Modelo Magnético Mundial teve de ser atualizado nos últimos dias, pois o polo norte magnético da Terra está mudando mais rapidamente do que o normal. Isso significa uma mudança em sistemas de navegação.
O polo magnético da Terra é um ponto variável na superfície do planeta, para o qual as linhas do campo magnético apontam — o campo magnético protege o planeta contra as radiações espaciais, e há pássaros que usam o campo magnético para se guiarem em suas migrações. Em 2005, o polo norte magnético estava situado no norte do Canadá, mas como a orientação do campo magnético muda ao longo do tempo, acontece eventualmente o fenômeno da inversão geomagnética.
Essa inversão é justamente a mudança de orientação do campo magnético do planeta, quando os pólos norte e sul do magnetismo são invertidos. Durante a mudança, há um declínio da intensidade do campo magnético, que se recupera rapidamente após a nova orientação estar estabelecida. Mas isso acontece em uma escala de dezenas de milhares de anos (ou mais), com a mais recente inversão acontecendo há 78 mil anos.
Nos últimos cem anos, a direção das bússolas sempre avançou para o norte, mas nos anos mais recentes os cientistas começaram a perceber que a rotina do polo norte magnético estava mudando rapidamente, e ninguém soube explicar o porquê. As mudanças foram tão significativas que os cientistas começaram a trabalhar em uma atualização emergencial do Modelo Magnético Mundial, o sistema matemático que fornece as bases para a navegação, incluindo sistemas de telefones celulares. Só que, com a greve no governo dos Estados Unidos, essa atualização no Modelo precisou ser lançada com um certo atraso.
Contudo, na segunda-feira (4), o Modelo foi enfim atualizado, e o norte magnético correto já pode ser novamente localizado por pessoas em todo o mundo.
Entendendo melhor o norte magnético
O norte magnético é um dos "pólos norte" que temos na Terra. Existe o "norte verdadeiro", o extremo norte do eixo de rotação do planeta, que não está alinhado com a magnetosfera (a bolha magnética que protege o planeta). O campo magnético da Terra é ligeiramente inclinado a partir do eixo rotacional, e o extremo norte do ímã que fica no núcleo terrestre aponta para a costa noroeste da Groenlândia (o "polo geomagnético").
Já o norte magnético (que é o norte que nossas bússolas localizam) é definido como o ponto no qual as linhas do campo magnético apontam verticalmente. E, ao contrário do norte geomagnético, esse norte magnético é mais suscetível aos fluxos do ferro líquido que fica no núcleo da Terra. E, por isso, essas correntes "puxam" o campo magnético, fazendo com que o norte magnético se mova pelo globo ao longo do tempo.
Em 1831, James Clark Ross localizou o norte magnético em ilhas canadenses e, desde então, esse norte magnético vem marchando cada vez mais para o norte do planeta, e atravessou centenas de quilômetros somente nas últimas décadas. Enquanto isso, o oposto polar do sul magnético mudou pouca coisa nesse meio tempo.
Aí, para acompanhar essas mudanças, a National Oceanic and Atmospheric Administration e a British Geological Survey desenvolveram o Modelo Magnético Mundial para que qualquer pessoa do mundo conseguisse localizar o norte magnético adequadamente. A cada cinco anos esse modelo é atualizado, com esse intervalo de tempo servindo para que os cientistas verifiquem a precisão do modelo em relação a dados obtidos com observatórios magnéticos diversos.
Já nos anos 1990, o norte magnético começou a avançar mais rapidamente do que o registrado até então, e em 2018 os cientistas do projeto perceberam que o modelo logo estaria ultrapassado, inadequado para ser usado em sistemas de navegação baseados em magnetismo. A próxima atualização oficial somente aconteceria em 2020, mas precisou ser antecipada para este início de 2019, tamanha a mudança na direção do norte magnético que aconteceu recentemente.
Por que a mudança está acontecendo mais rápido e o que muda na prática
O polo norte magnético parece ser controlado por dois trechos de campo magnético, um sob o norte do Canadá e outro na Sibéria. O ponto canadense historicamente pareceu ser o mais forte, mas recentemente isso mudou, com o ponto siberiano ganhando cada vez mais força, como se ambos os pontos estivessem em um cabo-de-guerra e o canadense começasse a perder a batalha. Isso pode ser resultado de um jato acontecendo no núcleo do planeta, enfraquecendo o campo magnético que fica na região do Canadá — mas essa hipótese ainda não foi confirmada.
Contudo, para Ciaran Beggan, geofísico do British Geological Survey, não há indícios de que uma inversão geomagnética esteja acontecendo, "e mesmo que houvesse, os registros geológicos mostram que essas coisas tendem a levar alguns milhares de anos, no mínimo". Então podemos ficar tranquilos pois o planeta segue protegido das radiações espaciais graças a seu campo magnético, mesmo com essa mudança de direção.
Atualmente, o ponto do norte magnético está se movendo a 54 km por ano, sendo que, no ano 2000, essa velocidade era de 14 km/ano. E como a causa desse movimento vem de dentro do planeta, não há muito a fazer além de acompanhar as mudanças e atualizar os modelos que guiam sistemas de navegação em todo o mundo. Sistemas de navegação civis, como o GPS, por exemplo, não chegam a ser afetados de maneira significativa, já que suas principais fontes de referência são provenientes de satélites.
No entanto, a movimentação do norte magnético afeta bússolas, o que impacta diretamente na navegação marítima e na aviação, especialmente na região do Ártico. Organizações de navegação precisam saber a posição correta do norte magnético para se guiarem, e é justamente para isso que serve o Modelo Magnético Mundial, que acaba de ser atualizado.
Fonte: National Geographic, NOAA