Oumuamua | O 1º visitante interestelar 'é um 'exo-Plutão' — uma classe nova
Por João Melo • Editado por Melissa Cruz Cossetti |

O 1I/ʻOumuamua foi o primeiro objeto interestelar observado cruzando o nosso Sistema Solar — seguido pelo 2I/Borisov e pelo 3I/Atlas. O corpo celeste foi detectado em 2017, e uma pesquisa sugere que ele seja um pedaço de um “exo-Plutão”, uma classe inesperada de objetos que se assemelham ao planeta anão.
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As análises conduzidas por Steve Desch, pesquisador de exoplanetas da Universidade Estadual do Arizona, indicam que, em vez de ser formado por uma mistura de gelo de água, rocha e material remanescente da formação do Sistema Solar, o objeto interestelar pode ser composto por gelo de nitrogênio em estado quase puro.
"Tudo neste objeto é consistente com a ideia de que se trata de uma placa de gelo de nitrogênio, como a que vemos na superfície de Plutão”, destacou Desch.
Ele apresentou os resultados da pesquisa em julho de 2025, durante a conferência Progress in Understanding Pluto System: 10 Years After New Horizons (“Progresso na Compreensão do Sistema de Plutão: 10 Anos Após o Sobrevoo”, em tradução livre), realizada em Maryland, nos Estados Unidos.
O cientista acrescentou que o 1I/ʻOumuamua pertence a uma categoria diferente de objetos, mais rara de ser identificada, embora existam muitos deles no espaço.
Objetos originados por colisões espaciais
Os planetas se formam a partir da nuvem de gás e poeira que sobra após o nascimento de uma estrela. Nos primeiros milhões de anos, o ambiente é caótico, com astros em crescimento disputando espaço ao redor da estrela jovem.
No Sistema Solar, a movimentação dos planetas gigantes expulsou grandes quantidades de material gelado. Cientistas estimam que, no início, havia massa suficiente para formar cerca de 2 mil objetos parecidos com Plutão, além de outros 6 mil planetas anões maiores.
Em sua fala na conferência, Desch destacou que cada Plutão teria sido atingido por material equivalente à massa de Vesta, o segundo maior objeto do cinturão de asteroides — atrás apenas de Ceres.
A maior parte da superfície de Plutão é composta por gelo de nitrogênio, com presença menor de gelo de água. Em simulações realizadas por Steve Desch e Alan Jackson — também da Universidade Estadual do Arizona — os cientistas concluíram que a maior parte dos fragmentos expelidos de jovens “Plutões” era composta por nitrogênio.
A evolução do Sistema Solar redistribuiu esses objetos. Muitos evaporaram ao se aproximar do Sol, alguns foram arremessados para além da gravidade de Júpiter, outros ficaram presos na Nuvem de Oort, na borda do Sistema Solar.
Mas, a maior parte acabou vagando pelo espaço interestelar, junto com cometas e outros corpos de diferentes tamanhos.
Propriedades incomuns do ʻOumuamua
Dois artigos publicados em 2019 e 2021 no Journal of Geophysical Research: Planets detalharam como as propriedades incomuns do ʻOumuamua poderiam ser melhor explicadas por um fragmento de um objeto semelhante a Plutão.
"Como quase não tínhamos visto objetos assim no Sistema Solar, não esperávamos encontrar algo deste tipo. Mas deveríamos. Fragmentos de superfícies geladas de planetas anões como Plutão quase certamente foram ejetados do nosso sistema, e o ʻOumuamua nos ajudou a compreender a quantidade de material expulso”, explicou Desch em entrevista ao site Space.com.
Desde sua detecção, o objeto interestelar tem se mostrado muito menor que a maioria dos cometas. Ele também não apresenta composição típica de gelo de água, silicatos e carbono, mas sim é rico em nitrogênio congelado.
Essa composição aumenta o brilho do ʻOumuamua, o que facilitou sua detecção. Além disso, as pesquisas dos cientistas da Universidade Estadual do Arizona revelaram que o gelo de nitrogênio acelera o processo de evaporação, e o corpo celeste teria perdido mais de 90% da sua massa desde que entrou no Sistema Solar.
"Acredito que esses objetos dão um forte apoio à ideia de que fragmentos da superfície de Plutão fazem parte da população de corpos ejetados do Sistema Solar", disse Desch.
Ele acrescentou que espera que novas observações com telescópios como o Pan-STARRS, ATLAS e o Observatório Vera Rubin identifiquem outros objetos interestelares, ajudando a revelar detalhes sobre planetas anões extremos.
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Fonte: Space