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O que seria feito com o cadáver de um astronauta que morresse no espaço?

Por| 04 de Outubro de 2019 às 19h20

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O que seria feito com o cadáver de um astronauta que morresse no espaço?
O que seria feito com o cadáver de um astronauta que morresse no espaço?

Até então, pessoas morrendo no ambiente espacial ainda é algo que somente vemos em roteiros de ficção científica. Na verdade, temos o "causo" da Soyuz 11 e os únicos três astronautas que já morreram tecnicamente no ambiente espacial, mas suas mortes só foram descobertas quando a nave que levava o trio voltou à Terra. Já em um cenário hipotético em que uma pessoa morresse no espaço propriamente dito, fica a questão: o que seria feito com esse cadáver?

Caitlin Doughty, uma agente funerária norte-americana e autora de best sellers sobre o assunto, acaba de lançar seu novo livro, Will my cat eat my eyeballs? e criou também uma web série chamada Ask a Mortician ("pergunte a um agente funerário", traduzindo literalmente). E ela dá seu ponto de vista, enquanto uma verdadeira especialista em assuntos fúnebres, sobre o assunto da morte espacial.

Primeiro, como seria morrer no espaço?

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"Antes de falarmos sobre o que seria feito com um cadáver espacial, vamos mostrar o que suspeitamos que poderia acontecer se a morte ocorresse em um local sem gravidade e sem pressão atmosférica", ela começa a reflexão ao exemplificar uma astronauta apelidada de Dra. Lisa, que estaria do lado de fora da Estação Espacial Internacional (ISS) quando seu traje espacial teria sido atingido por um pequeno meteorito, abrindo um perigoso buraco ali.

Logo de cara, a especialista diz que "ao contrário do que você pode ter visto ou lido em ficções científicas, os olhos de Lisa não sairiam do crânio até que ela finalmente se despedaçasse em uma explosão de sangue e gelo". Doughty diz que Lisa, nesta situação, precisaria agir rapidamente assim que seu traje fosse violado buscando algum meio de sobreviver, pois ela perderia a consciência em um curto período de nove a onze segundos, apenas. Esses mais ou menos 10 segundos seriam todo o tempo que a astronauta teria para retornar a um ambiente pressurizado, mas, ainda assim, uma descompressão tão rápida acabaria a colocando em um estado de choque. "A morte chegaria antes que ela soubesse o que está acontecendo".

O corpo humano foi feito para sobreviver sob o peso da atmosfera da Terra (a pressão atmosférica) e, a partir do momento em que uma pessoa se encontrasse fora dessa pressão de 1 bar, os gases em seu corpo começariam a se expandir, com os líquidos se transformando em gás. Então a água de seus músculos seria transformada em vapor, que se acumularia sob a pele, distentendo as áreas do corpo para duas vezes o seu tamanho normal. Ainda, "a falta de pressão faria com que o nitrogênio em seu sangue formasse bolhas de gás, causando uma enorme dor, semelhante à que mergulhadores em águas profundas podem experimentar", garante a expert. Tudo isso seria sentido durante os mais ou menos 10 segundos em que Lisa ainda estaria consciente, com o alívio chegando na forma de perda de consciência enquanto o processo continuaria acontecendo em seu corpo.

Já depois de um minuto e meio, "a frequência cardíaca e a pressão arterial de Lisa cairiam, até o ponto em que seu sangue começaria a ferver, e a pressão dentro e fora de seus pulmões seria tão diferente que seus pulmões seriam rasgados", Doughty continua. Sem uma ajuda imediata, Lisa seria asfixiada rapidamente, e então teríamos um cadáver espacial com o qual lidar de alguma forma.

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E agora, o que fazer com o corpo?

Dificilmente agências espaciais como a NASA nunca elaboraram um protocolo para saber como lidar com o advento de um cadáver espacial, mas essas documentações não são publicamente conhecidas. Então a gente fica aqui "viajando" e questionando: O que seria feito com o corpo? Ele deveria voltar à Terra? Seria o caso de fazer um "funeral espacial"? A agente funerária tem respostas para os dois cenários.

No caso de trazer de volta o cadáver para o planeta, ela explica que "a decomposição pode ser desacelerada em baixas temperaturas e, por isso, Lisa precisaria ser mantida o mais fria possível". Na ISS, existe um compartimento gelado onde os astronautas armazenam coisas como lixo e restos de alimentos, pois as baixas temperaturas freiam a ação de bactérias, o que diminui então a podridão dos orgânicos e ajuda a manter a estação com um cheiro mais agradável. E esse mesmo compartimento mais frio da estação poderia servir para guardar o corpo da astronauta falecida até que uma nave fosse enviada para lá a fim de fazer a coleta. "Manter uma heroína espacial ao lado do lixo não seria a melhor jogada de relações públicas, mas a estação tem espaço limitado, e a área do lixo já possui um sistema de refrigeração; por isso faz sentido logístico colocá-la lá", explica Doughty.

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Já no caso de realizar um "funeral espacial", mantendo o corpo de Lisa longe da Terra, a especialista argumenta que esta escolha poderia ser uma maneira respeitosa de colocar astronautas para "descansar" eternamente. Ainda, "quão empolgados você acha que os nerds do espaço ficariam se tivessem a chance de flutuar todo o seu corpo morto pelo espaço?", ela brinca, com fundinho de verdade.

Afinal, "enterrar" marinheiros no mar sempre foi um jeito respeitoso de lidar com seus cadáveres, e a mesma ideia poderia ser transportada para o cenário espacial. "Portanto, embora tenhamos a tecnologia para construir braços robóticos para quebrar e congelar cadáveres espaciais, talvez pudéssemos empregar a opção mais simples de embrulhar a Dra. Lisa em uma bolsa para o corpo, deixando-o flutuar para longe", sugere a especialista.

No entanto, é preciso deixar a parte mais poética desta ideia de lado e considerar que o corpo da astronauta, ao menos por um bom tempo, acabaria se tornando mais um "pedaço" de lixo espacial. "As Nações Unidas têm regulamentos contra o lixo no espaço, mas duvido que alguém aplicasse esses regulamentos à Dra Lisa; afinal, ninguém iria querer chamar nossa nobre astronauta de lixo!".

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Outro porém da ideia de deixar o corpo de Lisa flutuando pelo espaço pode ser considerado ainda mais mórbido. Aqui na Terra mesmo, temos o caso de lugares extremamente altos e perigosos como o Monte Everest, onde cadáveres de aventureiros permanecem espalhados pelas trilhas de escalada e, a cada nova aventura, alpinistas têm de passar por cima de esqueletos preservados. "O mesmo poderia acontecer no espaço, onde naves precisariam passar pelo cadáver em órbita a cada viagem, dizendo: oh meu Deus, lá vai a Lisa novamente".

Além disso, é possível que, eventualmente, a gravidade de algum planeta acabasse atraindo o corpo de Lisa. "Se isso acontecesse, Lisa receberia uma cremação gratuita nessa atmosfera". Durante a entrada, a fricção do gás atmosférico superaqueceria os tecidos do corpo de Lisa, que seria rapidamente incinerado. No entanto, Doughty dá uma outra "viajada" a partir dessa ideia: ela levanta a possibilidade de alguma parte do corpo de Lisa se manter intacto na descida na atmosfera, e o impacto de seus restos poderia liberar microorganismos no planeta em questão, então "os esporos bacterianos de Lisa poderiam gerar vida em outro planeta".

E aí, será que a "gosma primordial" da qual surgiram as primeiras criaturas vivas na Terra tenha sido justamente a decomposição de algum ser vivo que morreu no espaço e acabou "caindo" em nosso planeta? Disso não sabemos, mas essa ideia é digna de uma ótima ficção científica, não?

Fonte: Popular Mechanics