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Soyuz 11 | A bizarra história das únicas pessoas que já morreram no espaço

Por| 27 de Junho de 2019 às 09h58

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courtesy of RKK Energia
courtesy of RKK Energia

A missão soviética Soyuz 11 foi a segunda tentativa da União Soviética de enviar astronautas à sua primeira estação espacial — a Salyut 1. A nave acomodando três cosmonautas (Georgi Dobrovolski, Vladislav Volkov e Viktor Patsayev) foi lançada no dia 6 de junho de 1971 e sua missão no espaço foi um sucesso. Contudo, quando a cápsula retornou à Terra, o que seria um momento de glória e comemoração abriu um capítulo para lá de assustador na história da exploração espacial: os três cosmonautas estavam mortos.

A tripulação a bordo da Soyuz 11 chegou com sucesso à Salyut 1 no dia após o lançamento, onde permaneceram por 22 dias. Isso marcou um recorde de permanência no espaço naquela época, que somente seria batido em 1973 com a missão americana Skylab 2.

Então, no dia 30 de junho de 1971, a turma de cosmonautas estava retornando à Terra com uma missão bem-sucedida nas costas. A reentrada da nave em nossa atmosfera aconteceu normalmente, sem nenhum indício de que algo estava dando muito errado por lá. Contudo, a equipe de recuperação soviética, ao abrir a escotilha da cápsula, teve o choque de ver que os três cosmonautas estavam mortos.

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Rapidamente a equipe local determinou que a causa da morte teria sido asfixia, provavelmente causada pelo rompimento de uma válvula cuja função era homogeneizar a pressão dentro da nave nos momentos finais antes da aterrissagem. Porém, com a falha, a tal válvula teria permitido que o ar dos cosmonautas escapasse para o espaço durante a descompressão — e seria impossível que eles consertassem o problema, já que o aparato estava localizado atrás dos bancos onde eles estavam não apenas sentados, como presos ao assento.

Acredita-se que o trio já não estava mais respirando ao menos por quinze minutos antes da aterrissagem, então eles já estavam mortos quando a nave foi recuperada aqui na Terra. Mesmo assim, a equipe de resgate tentou fazer procedimentos médicos de reanimação — sem sucesso. Hoje sabemos que mortes por uma grande e repentina queda na pressão do ar fazem com que o ar nos pulmões se expanda e rasgue o delicado tecido do órgão, com a descompressão também vaporizando a água dos tecidos moles do corpo, produzindo inchaço. De maneira contínua, esse cenário leva à criação de bolhas que impedem o fluxo sanguíneo — após apenas 60 segundos de descompressão, a circulação sanguínea é interrompida, cortando a oxigenação cerebral e, portanto, a pessoa acaba ficando inconsciente a partir daí.

Então, ainda que pareça reconfortante saber que os cosmonautas não sentiram tudo o que estava acontecendo em seus organismos após esse primeiro minuto, é fato que seus últimos 60 segundos de vida (no mínimo) foram desesperadores e muito dolorosos. Apesar de as autópsias oficiais permanecerem em sigilo na Rússia até hoje, atualmente temos esse conhecimento científico do que acontece quando um organismo vivo é submetido ao que os cosmonautas passaram: dores intensas no peito, abdômen e cabeça, para começar, seguido pelo rompimento de seus tímpanos, com sangue saindo por suas orelhas e bocas.

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Georgi Dobrovolski, Vladislav Volkov e Viktor Patsayev morreram quando a nave estava a aproximadamente 167 quilômetros acima da atmosfera, então eles são, até os dias atuais, as únicas pessoas que já morreram no espaço. Outras tragédias envolvendo lançamentos ao espaço e que resultaram na morte de astronautas aconteceram em Terra ou dentro dos limites da nossa atmosfera, e não no ambiente espacial.

Os três receberam um funeral de Estado e foram enterrados nos muros do Kremlin, que fica na Praça Vermelha em Moscou. Depois disso, a série de naves Soyuz foi extensivamente remodelada e, a partir daí, passou a acomodar apenas dois cosmonautas — o espaço adicional permitiu mais mobilidade a eles, o que de repente poderia ter salvado a vida da tripulação da Soyuz 11 caso eles tivessem tido a chance de se mexer para tentar, literalmente, tapar o buraco.

Com informações de All Things Interesting, Discover Magazine