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Meteorito encontrado em Curitiba há 43 anos será analisado agora por cientistas

Por| 26 de Setembro de 2020 às 18h00

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Fábio Braz Machado
Fábio Braz Machado

Um meteorito raro caiu em Curitiba no ano de 1977 e destruiu o muro do quintal de uma família, no bairro do Uberaba. Agora, 43 anos depois, a rocha espacial pode ajudar cientistas a encontrarem pistas sobre a origem do Sistema Solar. A amostra de 1 kg permaneceu guardada esse tempo todo, mas os moradores recentemente decidiram procurar os especialistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), cedendo o objeto para estudos.

Entre as características que tornam esse meteorito especial está o fato de que ele é orientado. Isso significa que, durante sua entrada pela atmosfera terrestre, a posição da rocha permaneceu constante enquanto queimava devido ao atrito. Quando isso acontece, o meteorito nos mostra dois lados bem distintos. Estatisticamente, apenas 5% do total de meteoritos rochosos e 30% dos meteoritos ferrosos são orientados.

O professor Fábio Braz Machado, do Departamento de Geologia da UFPR, faz uma analogia comparando esse tipo de meteorito como uma gota de água no para-brisa de um carro. “Com o vento e com o carro em movimento, essa gota fica alongada, estirada. Com o meteoro é a mesma coisa. Ele estava em um vácuo e é atraído pela gravidade do planeta, quando entra em contato com a atmosfera da Terra, fica deformado em função do ar atmosférico”, explicou.

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A família que guardava o meteorito presenciou sua queda, 43 anos atrás. Embora o exemplar tenha ficado guardado durante um longo tempo sem o conhecimento dos cientistas, esse cuidado favoreceu na proteção da rocha contra a umidade — mas, infelizmente, algumas características importantes podem ter sido comprometidas pela tentativa dos moradores de conservar o artefato com verniz.

Outras coisas podem ter se alteradas com o tempo, como a capa envoltória enegrecida típica de meteoritos, que se perdeu um pouco ao passar dos anos. Apesar disso, após lixar algumas partes do material para retirar o verniz, Machado constatou que as texturas e estruturas internas estão bem preservadas, e já foi possível identificar a presença de cristais de olivina e de ferro.

De acordo com o professor, a família que conservou o meteorito deseja que ele fique em uma instituição científica, o que é ótimo para que análises sejam feitas. Aproximadamente 200 gramas ficarão com os cientistas, enquanto o restante “ficará em exposição para que todos que queiram entender mais sobre a origem da Terra e de outros planetas rochosos possam observar”, disse ele. Entretanto, Machado disse ao Canaltech que não há previsão de quando será possível realizar a exposição.

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Além disso, o professor Machado também revelou que, se as análises químicas derem certo, os cientistas registrarão o meteorito na Sociedade Internacional de Meteorítica e Ciência Planetária. Esse é o procedimento para que um comitê possa analisar os pedidos de aprovação de nomes. Ao ser aprovado, todas as informações do meteorito passam a constar na página do Meteoritical Bulletin, um banco de dados com informações de todos os meteoritos oficialmente catalogados no mundo.

Por que este meteorito é importante?

Embora os cientistas já saibam muito sobre o processo de formação de um sistema estelar (ou seja, uma estrela com planetas em sua órbita), existem muitas perguntas difíceis de responder a respeito do nosso próprio quintal planetário, o Sistema Solar. E os meteoritos do tipo condrito são muito importantes para pesquisas nesse sentido. “Tem importância humana”, declara o geólogo. “De onde viemos e para onde vamos? Saber exatamente a idade da Terra e como foi a formação do planeta é de fundamental importância”.

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Nosso sistema é relativamente jovem, e se formou há aproximadamente 4,6 bilhões de anos. No começo, havia apenas uma grande nuvem de poeira fina em volta do Sol, mas foi a partir dessa poeira que as colisões entre partículas começaram a acontecer, formando pequenas rochas que se aglutinaram cada vez mais. As mais pesadas ficaram mais perto do Sol e as mais leves, mais distantes, mas naquela época tudo era mais tumultuado que nos dias de hoje. Por isso havia muitas colisões.

Durante esses choques, surgiram meteoritos de muitos tipos. Entres os principais, temos os rochosos e os metálicos, e entre os rochosos, temos o tipo condrito. “Com o tempo, há a migração dos elementos mais pesados para a porção central dos condritos, o que chamamos de diferenciação química. O ferro e o níquel formam um núcleo e um manto. Quando isso acontece, o meteorito deixa de ser condrito e passa a ser um siderito em sua porção do núcleo e um acondrito em sua porção do manto.”

Esse foi o processo de formação do nosso planeta. Ou seja, a Terra é como um condrito e, por isso, os meteoritos do tipo condrito são importantes. Eles “apresentam a composição original do planeta Terra”, conforme explica Machado. “Por isso, para a ciência, os meteoritos desse tipo são extremamente importantes para entender melhor a origem do Sistema Solar, já que ainda existem muitas questões sem resposta nessa área”, conclui o professor.

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Mas também há uma função comercial. É que os cálculos usados em análises de condritos podem ser usados no setor da mineração, por exemplo. Machado disse que as análises podem ajudar na melhor compreensão das rochas e suas viabilidades econômicas para a exploração na região onde aconteceu o impacto, o que permite que os recursos da mineração sejam melhor aproveitados. “Com esse cálculo, podemos saber se um terreno ou área está enriquecido em nióbio, titânio, chumbo, e outros elementos, explica.

Além disso, há os colecionadores de meteoritos, por isso também há um valor financeiro para essas rochas. De acordo com o professor, os condritos são mais raros porque eles são facilmente alterados em função da umidade da Terra. Outros fatores também influenciam no valor, como o estado de conservação, de acordo com o geólogo. Se você viu o meteorito caindo e o pegou intacto, fresco, seu valor será maior.

Para a ciência, por outro lado, o que importa é a contribuição da química encontrada na amostra. Por isso, quanto mais fresco estiver, melhor. Neste caso ocorrido em Curitiba, a família preferiu que o exemplar ficasse em uma instituição científica, escolhendo a Universidade Federal do Paraná (UFPR). Os meteoritos destinados à ciência podem ser enviados para qualquer universidade próxima que tenha curso de geologia no escopo, explicou Machado.

Caso você encontre uma rocha suspeita, é preciso antes saber se ela pode ou não ser um meteorito. Depois, se desejar que ele fique nas mãos dos cientistas, basta entrar em contato com a universidade mais próxima e fornecer as informações sobre a rocha.

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Fonte: Com informações de UFPR