James Webb encontra química diversificada em "berçários" de planetas
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper |
Uma equipe de 11 países usaram os dados do telescópio James Webb para estudar os discos de formação de novos mundos rochosos ao redor de duas estrelas jovens. A pesquisa foi detalhada em dois artigos e descreve as condições iniciais desses "berçários" de planetas.
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Obtidos pelo espectrógrafo Mid-Infrared Instrument (MIRI), os dados trazem informações dos discos protoplanetários, como a composição dos gases e da poeira. Esses ambientes podem ser muito variados em elementos presentes, por isso é importante procurar principalmente aqueles que podem gerar mundos propícios à vida.
Nos artigos, aceitos para publicação na Nature Astronomy e no The Astrophysical Journal Letters, os autores relatam a presença de moléculas orgânicas complexas e incomuns como o benzeno, e uma peculiar pobreza de de água.
Disco seco e carbonos pesados
Em um dos artigos, Sierra Grant, pós-doutora no Instituto Max Planck de Física Extraterrestre (MPE), descreve um disco quente e seco em torno de uma jovem estrela de baixa massa chamada GW Lup. “Embora tenhamos detectado claramente moléculas com carbono e oxigênio, há muito menos água presente do que o esperado”, disse Grant.
Há algumas possíveis explicações para essa ausência de água, e uma lacuna no disco próxima à estrela poderia fornecer a resposta, especificamente se ela estiver além da linha de neve da água (região da órbita da estrela onde a temperatura cai o suficiente para certas moléculas congelarem).
Nesse caso, os planetas que nascerem ali definitivamente serão bastante secos e apenas cometas e outros objetos congelados da parte mais externa do sistema estelar poderiam enchê-los com água. Por outro lado, pode ser que algum planeta já esteja em formação, interagindo com o disco; então ele pode ter “roubado” a água do ambiente.
A equipe também detectou uma molécula de dióxido de carbono bastante rara, com um isótopo de carbono mais pesado que a “versão comum” do elemento — que por sua vez é encontrada apenas na superfície mais quente do disco, onde a temperatura chega a 225 graus Celsius. Onde apenas a molécula mais pesada está presente, a temperatura é de -75 graus Celsius.
Variedade de moléculas orgânicas
Já a estrela J160532, estudada por Benoît Tabone, pesquisador do CNRS no Institut d'Astrophysique Spatiale, França, apresenta um disco com riqueza incomum de hidrocarbonetos, como acetileno, diacetileno e benzeno, sendo os dois últimos encontrados pela primeira vez em um disco protoplanetário.
Certamente essas misturas, com maior presença de carbono do que de oxigênio e água, impactarão as atmosferas dos futuros planetas que “viverão” na órbita dessa estrela. A maior parte da água do disco pode estar presa no lado mais externo do disco, onde as observações não alcançaram.
Fonte: Instituto Max Planck de Astronomia, The Astrophysical Journal Letters, arXiv.org