“Duas caras”: anã branca tem um lado de hidrogênio e outro de hélio
Por Danielle Cassita | Editado por Patricia Gnipper | 21 de Julho de 2023 às 13h12
Uma estrela anã branca rara foi encontrada: um lado dela é formado por hidrogênio, e o outro, por hélio. Por isso, a anã branca recebeu o apelido de Jano, uma referência ao deus da mitologia romana conhecido por ter duas faces.
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Conforme as estrelas parecidas com o Sol envelhecem, elas se transformam em gigantes vermelhas. Após expandirem suas camadas externas, o núcleo destas estrelas se contrai e forma anãs brancas extremamente quentes. Em cinco bilhões de anos, quando nosso astro chegar ao fim de seu ciclo, algo do tipo vai acontecer.
A anã branca em questão foi encontrada pelo instrumento Zwicky Transient Facility (ZTF), do observatório Palomar. As mudanças de brilho em um dos objetos encontrados chamou a atenção dos pesquisadores, que decidiram estudá-lo mais a fundo.
Com novas observações, eles descobriram que ela gira em torno de si mesma a cada 15 minutos. A equipe usou também um espectrômetro, que revelou a presença do hidrogênio e ausência do hélio enquanto um lado dela estava no campo de visão e, ao observar o outro lado, somente o hélio apareceu.
Os autores ainda não sabem ao certo o que fez com que esta anã branca tenha lados tão diferentes, mas já têm algumas suspeitas. Uma possibilidade é que ela esteja passando por uma fase rara de seu processo evolutivo: segundo a autora principal Ilaria Caiazzo, algumas anãs brancas passam por uma transição, de modo que suas superfícies, antes dominadas por hidrogênio, passam a exibir hélio.
Portanto, a anã branca Jano pode estar no meio desta transição. Se este for o caso, surge outra pergunta: por que a mudança está acontecendo de forma desigual, com um lado evoluindo antes do outro? É possível que a resposta esteja nos campos magnéticos da estrela, que tendem a ser mais fortes em um lado do que no outro.
Segundo Caiazzo, essa diferença evita a mistura de materiais. “Se o campo magnético for mais forte de um lado, então aquele deve ter uma mistura menor e, portanto, mais hidrogênio”, sugeriu ela. Também é possível que os campos magnéticos afetem a pressão e densidade dos gases atmosféricos da anã branca, formando uma espécie de oceano de hidrogênio.
Para resolver o mistério de Janus, a equipe quer procurar outras estrelas semelhantes. Eles planejam novas observações com outros instrumentos, como o futuro observatório Vera C. Rubin. Ele está em desenvolvimento, e deve começar a estudar o céu nos próximos anos.
O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista Nature.