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Contaminação planetária: como a exploração espacial pode aumentar os riscos?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 29 de Novembro de 2021 às 18h40

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Peter Fischer/Pixabay
Peter Fischer/Pixabay

A demanda crescente da exploração espacial aumenta as chances de eventuais microrganismos de outros mundos invadirem a Terra e vice-versa, em processos de contaminação planetária. Ao menos é o que conclui um estudo liderado por Anthony Ricciardi, professor de biologia de invasão na McGill University. Os autores alertam que microrganismos que "pegassem carona” em missões espaciais poderiam ser perigosos para espécies nativas.

Ricciardi considera que a busca por vida em outros planetas é um processo que pode trazer descobertas em um futuro não tão distante. “Entretanto, diante do aumento das missões espaciais — incluindo aquelas que pretendem trazer amostras para a Terra — é essencial reduzir os riscos de contaminação biológica em ambas as direções”, alertou. Por isso, os autores destacam a necessidade de mais estudos colaborativos entre astrobiológos que seguem na busca de vida extraterrestre e biólogos de invasão, responsáveis por estudar espécies invasivas na Terra.

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O professor acredita que, por enquanto, é possível somente especular os tipos de organismos que os astrobiólogos poderiam encontrar algum dia. “As formas de vida mais plausíveis seriam microbianas e provavelmente parecidas com bactérias”, sugeriu. Embora os riscos de contaminação interplanetária sejam extremamente baixos, eles ressaltam mesmo assim a necessidade de cautela em função dos impactos negativos que espécies invasivas já causaram na Terra.

As ações humanas já danificaram ecossistemas ao redor do mundo por permitir que organismos alcancem novos ambientes, algo que não aconteceria naturalmente — tanto que ecossistemas em isolamento geográfico, como aqueles em países parecidos com a Austrália, ficam ainda mais vulneráveis a esses processos, já que a vida selvagem por lá não tem adaptações evolutivas que permitiram lidar com essas invasões.

Evitando a contaminação planetária

De fato, as agências espaciais já estão cientes há tempos sobre os riscos de contaminação e vêm empregando políticas de proteção planetária. Contudo, o cenário atual pode exigir ainda mais cuidados. “Riscos sem precedentes são impulsionados pela nova era da exploração espacial, voltada para áreas que têm maiores chances de conter vida”, disse Ricciard. Isso inclui o trabalho de empresas de exploração espacial privada, como a SpaceX, que planeja lançar missões para Marte e além.

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Não é preciso ir longe para encontrar episódios de contaminação: basta lembrar da missão israelense Beresheet, que acabou se chocando com a superfície lunar em 2019 enquanto levava milhares de tardígrados no interior da nave. Esses seres microscópicos podem sobreviver em condições extremas, incluindo o vácuo do espaço. Embora um estudo publicado em 2021 tenha concluído que eles provavelmente não sobreviveram ao impacto, o episódio mostra o potencial de incidentes biológicos acontecerem.

Jennifer Wadsworth, astrobióloga da Lucerne University of Applied Sciences and Arts, considera que as luas e planetas sempre trocaram materiais entre si por meio de meteoritos, mas a exploração espacial pode acelerar este processo. Assim, para evitar que organismos indesejados acabem contaminando outros mundos, os pesquisadores sugerem mais cuidados nos protocolos de biossegurança associados às viagens espaciais, com foco na detecção antecipada de possíveis agentes biológicos contaminantes.

Dessa forma, seria possível desenvolver planos para uma resposta rápida a essas detecções. A astrobióloga considera que o estudo traz uma ótima visão geral das necessidades atuais e contínuas de regras de proteção planetária atualizada — mesmo com o problema que essas regras não sejam obrigatórias. “A linha entre exploração e conservação é tênue, e uma não deve ser abandonada ao custo da outra; ambas exigem consideração cautelosa e, ainda mais importante, a conformidade”, disse Wadsworth.

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O artigo com os resultados do estudo foi publicado na revista BioScience.

Fonte: BioScience; Via: Live Science