Como ser tornar um astronauta?
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper | •
Muitas crianças sonham em ser astronautas, sonho que às vezes persiste na vida adulta, transformando-se em paixão pela astronomia. Mas será que é realmente tão difícil ter a oportunidade de receber o treinamento para viajar ao espaço? Afinal, o que é preciso para ser um astronauta?
- Como funciona o processo seletivo de astronautas nas agências espaciais?
- Quem foi o primeiro astronauta brasileiro?
Para os nascidos no Brasil, ou em outros países da América Latina, África ou no Oriente médio, é muito difícil conseguir uma vaga nas turmas de treinamento nos EUA e na Europa. Mas não é impossível — já aconteceu com um brasileiro, quando o ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), Marcos Pontes, foi ao espaço em 2005.
Como ser um astronauta?
Existem quatro principais agências espaciais que fornecem vagas para candidatos a astronautas: NASA, ESA (Agência Espacial Europeia), Roscosmos (Corporação Estatal de Atividades Espaciais Russa) e a CNSA (Administração Espacial Nacional da China). A ESA e a Roscosmos trabalham em parceria com países da União Europeia.
Cada uma delas tem suas listas de exigências, e isso inclui cidadania nos seus respectivos países. A boa notícia é que é possível adquirir a cidadania em alguma das nações (vide a lista nos tópicos abaixo) abraçadas por essas agências. A má notícia é que isso não é algo simples de fazer.
Também há outras exigências, que podem ser ainda um pouco mais complicadas do que conseguir a cidadania de algum país europeu ou nos EUA. Elas incluem formação superior e um mestrado — no mínimo — em Ciências, Tecnologia, Engenharia ou Matemática. Outra via é ter um diploma como piloto ou engenheiro de teste.
Além disso, os candidatos serão selecionados e devem treinar em uma espécie de “escola” de astronautas. Só após a aprovação nesse período eles estarão na lista dos elegíveis para futuras missões no espaço.
Como a NASA escolhe seus astronautas?
Os requisitos da NASA mudaram desde o início de suas atividades, de acordo com os objetivos e missões da agência espacial. Hoje, os candidatos devem atender a qualificações bem específicas, porém com algumas possibilidades a mais em comparação à década de 1960.
Um exemplo é a abertura de vagas para os graduados em STEM (engenharia, ciências biológicas, físicas, da computação ou matemática). Isso porque, atualmente, as missões espaciais têm como destino a ISS, onde são realizados experimentos científicos e manutenção de equipamentos.
Os principais requisitos são:
- Ser um cidadão dos EUA;
- Possuir um mestrado em um campo STEM de uma instituição credenciada ou passar por um programa de escola de piloto de teste reconhecido nacionalmente (pelos EUA);
- Ter pelo menos dois anos de experiência profissional relacionada à pós graduação ou pelo menos 1.000 horas de tempo de piloto em comando em aeronaves a jato;
- Passar no teste físico de voo de longa duração da NASA;
- Ter habilidades de liderança, trabalho em equipe e comunicação.
Entre os qualificados, apenas um pequeno grupo dos candidatos é selecionado para entrevistas no Johnson Space Center da NASA em Houston, Texas. Então, cerca de metade é convidada a voltar para uma segunda entrevista. Desse grupo, os novos candidatos a astronauta da NASA são selecionados.
Os eleitos se tornam "Candidatos a Astronauta" (ASCan, Astronaut Candidate), e recebem treinamento de cerca de dois anos. Isso inclui treinamento de sobrevivência militar na água e qualificação em mergulho — necessário para treinamento de caminhadas espaciais.
Também são realizados treinamentos nos sistemas da ISS, robótica, idioma russo (devido à colaboração com os cosmonautas na estação espacial) e treinamento para voos de aeronaves. No fim do processo, os novos astronautas estão prontos para ser designados a missões espaciais ou a funções técnicas, como suporte a missões em andamento.
Como se tornar um astronauta da ESA?
Para se candidatar na Agência Espacial Europeia os requisitos são bem parecidos — mas o mesmo não é verdade quanto ao treinamento. É preciso:
- Cidadania de um país membro da ESA ou membro associado;
- Pelo menos um mestrado em ciências naturais, medicina, engenharia, matemática ou ciências da computação, ou um diploma como piloto de teste experimental e/ou engenheiro de teste;
- Pelo menos três anos de experiência profissional relevante após a graduação;
- Fluência em inglês;
- Conhecimento de outra língua estrangeira, como Russo; qualquer outra língua adicional é uma vantagem, já que a ESA tem astronautas de vários países;
- Disposição para participar de experimentos de ciências da vida;
- Um certificado médico de classe 2 emitido por um examinador médico da aviação comprovando que é medicamente qualificado para uma licença de piloto privado.
Interessante notar que há vagas para astronautas portadores de deficiência, que a ESA chama de "parastronautas". Para se candidatar, deve ser apresentado um atestado médico padrão e uma ficha médica com detalhes da deficiência. Essas vagas são abertas para pessoas com:
- Deficiência de membro inferior (deficiência de um ou dois pés através do tornozelo; deficiência de perna única ou dupla abaixo do joelho);
- Diferença no comprimento das pernas (membros encurtados no nascimento ou como resultado de trauma);
- Baixa estatura (menos que 130 cm)
Podem se candidatar às vagas da ESA cidadãos de seus 22 Estados-Membros: Áustria, Bélgica, República Checa, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda, Noruega, Polônia, Portugal, Romênia, Espanha, Suécia, Suíça e Reino Unido.
Também estão inclusos países que fazem parte do Conselho da ESA, membros associados e estados com acordos de cooperação: Canadá, Eslovênia, a Letônia, Lituânia, Bulgária, Croácia, Chipre, Malta e Eslováquia.
O processo seletivo dos que atenderem aos requisitos é composto por três etapas. A primeira delas é o treinamento básico de um ano realizado no European Astronaut Centre (EAC), na Alemanha. Inclui introdução ao programa espacial da ESA e de outras agências espaciais e sobre sistemas da ISS.
Os candidatos aprendem sobre os veículos, desenvolvem habilidades básicas para cumprir as tarefas da ISS, estudam russo, aprendem técnicas de sobrevivência e muito mais. A segunda fase é de pré-designação, onde os candidatos aprendem as habilidades com maior profundidade, como manutenção dos módulos da ISS.
Por fim, ao ser designado a uma missão, o astronauta começa o último treinamento para as tarefas específicas que receberá, a serem executadas na estação espacial. Isso inclui conhecimentos científicos, treinamento para manutenções e consertos de componentes com defeito, entre outros.
É possível ser astronauta no Brasil?
Atualmente, não existe nenhum programa de parceria entre o Brasil e as agências espaciais que enviam astronautas ao espaço (como houve na missão que enviou Pontes à Estação Espacial Internacional), mas quem sabe no futuro isso volte a acontecer?
Em junho de 2021, o MCTI assinou um compromisso de colaborar com a NASA no retorno da humanidade à Lua, por meio do Programa Artemis. Isso significa que o Brasil deve contribuir principalmente com tecnologias e desenvolvimento de equipamentos.
Entretanto, o programa da NASA prevê a permanência de astronautas em nosso satélite natural, então existe alguma possibilidade de, no futuro, brasileiros serem novamente recebidos pelas agências espaciais. Só nos resta esperar