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Deuses da astronomia | Como os celtas interpretavam os astros

Por| 04 de Outubro de 2020 às 10h00

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Reprodução, Edição/Canaltech
Reprodução, Edição/Canaltech

Na antiguidade, para os seres humanos, tudo era justificado com base nos deuses, algo que também tange a astronomia, principalmente porque independente da época, a humanidade sempre esteve acostumada a olhar para o céu e perceber o dia, a noite, as estrelas. Com isso em mente, desenvolvemos a série "Deuses da Astronomia", justamente para entender de que maneira os astros eram justificados pelas antigas civilizações. Nesta quinta parte da série, abordamos a civilização celta.

De acordo com o filósofo e teólogo Valdecir Ferreira, professor de Antropologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), os celtas foram uma das mais ricas e mais significativas civilizações do mundo antigo. A eles é atribuída, na Idade do Ferro, a introdução da metalúrgica pelos meios antigos na Europa.

O especialista conta que se define o povo celta por elementos culturais e também pela língua celta. Os celtas não foram uma civilização coesa, por isso a definição se dá de maneira diferente. Eles, no Império Romano, ocuparam diversas províncias. Mas as suas maneiras fragmentadas de se organizar fizeram com que fossem derrotados pela força radical dos Romanos.

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"Os celtas eram fragmentados enquanto povo e, por vezes, até inimigos entre eles mesmos. Foram promissores no comércio com as nações estrangeiras, especialmente chineses e etruscos. Eram divididos em clãs, em que os grupos familiares partilhavam das terras férteis, contudo tinham como propriedade particular, o gado. Eram organizados numa espécie de castas: nobres, homens livres, servos, artesãos e escravos. O sacerdote, classificação não contemplada nas 'castas' anteriores, era alguém de grande prestígio", conta o professor.

Ele explica que a relação dos celtas com a astronomia se deu de maneira diferente daquelas já apresentadas em outras culturas: "Estão amplamente amparados pelo contexto ritual, numa associação com a religião. Acreditava-se no poder e regência do sol e, por isso, a divisão por estações. O ponto alto da contemplação, frente às percepções e constatações da astronomia celta, era a marca do solstício de verão que marcava o dia mais longo e mais iluminado do ano. Com a conta para se chegar a este dia, ofereciam-se aos deuses, durantes celebrações, tudo aquilo que de melhor haviam produzido".

As crenças dos celtas

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De acordo com o filósofo e teólogo, a ligação entre a religião e a astronomia teve por protagonistas alguns que eram chamados por druidas. Homens ou mulheres, numa espécie de sacerdócio ligado à astronomia – conhecimento religioso e científico que levava o povo às crenças e à ligação com os elementos da natureza: vento, fogo, calor, sol, dia, noite – e tudo era celebrado. "Além disso, os druidas construíam com pedras lugares de cultos que serviam também como observatórios astronômicos. Alguns desses lugares estão até hoje intactos", explica.

Basicamente, os celtas eram profundamente religiosos e acreditavam em vários deuses, que possuíam poderes únicos ou associavam-se à capacidade de representar algum animal ou elemento natural. Aos poucos, algumas dessas divindades foram sendo incorporadas aos deuses no Império Romano, ou mesmo, associadas aos santos católicos. Como se dividiam em várias tribos independentes, os celtas também acabaram cultuando muitas lendas e deuses diferentes

A história da mitologia celta não é muito concreta por pura falta de relatos escritos, pois em sua antiguidade o ato da escrita era considerado algo sagrado, e por isso evitavam de o realizar por muitas das vezes. E, graças a falta de algo escrito como “realidade” naquele tempo, hoje há inúmeras versões que podem ser consideradas a “criação do mundo” para os celtas, alteradas de região para região e de quem conta para quem ouve. Vale ressaltar, ainda, que a cultura engloba três tipos de diferenciações sobre as mesmas divindades, algo semelhante ao que acontece com o panteão greco-romano, mas de uma forma mais disforme e não detalhada.

Céu

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Diferente de outras mitologias, em que o céu é representado de maneira essencial, dando origem ao universo e à humanidade, no caso da mitologia celta a divindade mais relacionada com o céu, na verdade, é Taranis, que representa o trovão e os relâmpagos. O que acontece é que Taranis cruzava os céus numa carruagem de fogo, produzindo raios através das fagulhas que saíam dos cascos dos cavalos e o ruído do trovão através das rodas da carruagem. A divindade em questão é considerada pelos celtas como mestre da guerra, e seu símbolo é a roda.

Sol

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Toda mitologia que se preze tem pelo menos uma divindade relacionada ao Sol, e com a celta, não é diferente. Nesse caso, quem ocupa esse cargo é Bel. É que os celtas têm diversos deuses da luz e do fogo batizados com a palavra bel, que basicamente significa “brilhante” na língua deles, como Belenus e Beletucadrus, por exemplo. No entanto, os celtas veem esses deuses todos como uma só entidade, por possuírem funções e atributos parecidos.

Tendo isso em mente, Bel é considerado o deus do Sol, do fogo e da luz. Apesar de ser retratado nas lendas por diversos nomes, era sempre representado preservando a característica de um deus solar que inspira o povo celta. Em seu nome, há um festival chamado Belenos que está relacionado às fogueiras que são acesas em colinas para promover a purificação.

Além de Bel, há também o guerreiro Lugh, o deus dos raios solares e da luz (inclusive esse é o significado literal de seu nome). Trata-se de um artesão que cria diversas armas mágicas – inclusive uma espada que pode cortar qualquer coisa. Enquanto jovem, o deus Lugh buscava vingança pela morte injusta de seu pai.

Mestre de todas as habilidades, ele liderou seu povo à vitória durante uma importante batalha. Ficou conhecido como "Lugh Lámfada" - Lugh dos braços longos e "Lugh Samildanach" - Lugh, o artesão múltiplo. Por ser tão habilidoso, Lugh é também considerado o deus dos ferreiros, cujo domínio incluía a magia, as artes e todos os ofícios em geral.

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Lua

Cerridwen é uma poderosa feiticeira da mitologia celta, abençoada pelo dom da sabedoria poética e da profecia. Os celtas a chamavam de deusa tríplice e representavam-na em três diferentes formas: donzela, mãe e anciã (os ciclos da vida). Também conhecida como Grande Mãe ou Senhora, Cerridwen é comumente associada à Lua e suas fases, pois se acreditava que a Lua era a representação do Sagrado Feminino, a energia que move a Terra, influenciando a agricultura, as colheitas e até a menstruação, gestação e fertilidade feminina, o poder de criação da vida.

O poder de Cerridwen vem de seu caldeirão mágico, onde ela prepara grandes poções para ajudar os outros. A divindade também conta com um trono mágico, do qual ela deriva sua soberania e alguns de seus poderes. É conhecida por suas poções produzidas a partir do caldeirão, com efeitos como alterar a aparência de outras pessoas, por exemplo. Embora suas poções concedam o presente, elas também são perigosas. Ceridwen é, portanto, cuidadosa com quem ela dá suas poções, pois não deseja mal aos outros, mas sabe que o poder tem um preço. Os celtas a adoravam como uma divindade proeminente da sabedoria e da criação, embora às vezes fosse misturada com outras deusas.

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Fonte: Com informações de History, Ancient History