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Deuses da astronomia | Como os maias interpretavam os astros

Por| 27 de Setembro de 2020 às 10h00

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Reprodução, Edição/Canaltech
Reprodução, Edição/Canaltech

A humanidade sempre depositou a sua fé em alguma entidade superior. Na antiguidade, para os seres humanos, tudo era justificado com base nos deuses: desde os fenômenos da natureza até as emoções. E com a astronomia, não foi diferente. Foi com isso em mente que nós do Canaltech desenvolvemos a série "Deuses da Astronomia", justamente para entender de que maneira os astros eram justificados pelas antigas civilizações. Nesta quarta parte do especial, focamos na civilização maia.

De acordo com o filósofo e teólogo Valdecir Ferreira, professor de Antropologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), assim como a civilização asteca, os maias também tinham uma cultura rural, pautada pela agricultura. "Com a observação dos astros, verificavam o melhor dia para os rituais, para o plantio e para as colheitas. Organizaram um calendário lunar e, posteriormente, um solar auxiliando nas questões mais elementares, como o culto ou a agricultura. Mesmo com instrumentais não tão ágeis, conseguiram estabelecer com precisão o ciclo lunar, solar e de Vênus. Muito antes que os europeus, descobriram que a Terra era esférica e que não era o centro do universo".

A civilização maia possui grande valor histórico por sua rica cultura, arquitetura, arte e escrita., que posteriormente influenciou diversos povos com suas características. Uma delas, marcante em especial, é o aspecto religioso. Eles acreditavam, basicamente, em três planos: o submundo, a Terra e o Céu. A civilização também era politeísta, ou seja, acreditava em vários deuses, cada um com uma especialidade em particular, e o adoravam de acordo com a época e situação adequada para determinado deus.

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Entre os europeus, a astronomia só começou a avançar mais rapidamente lá pelo século XVII, e é difícil saber como os maias chegaram a essas conclusões porque suas cidade-Estados foram saqueadas e tiveram bibliotecas e templos queimados pelos espanhóis. Sobrou apenas uma pequena parte do conhecimento que eles tinham construído, como o Código Dresden, um manuscrito onde há o que se sabe sobre esse povo, com a descrição de rituais religiosos e os cálculos.

Os maias dominaram boa parte das Américas antes da chegada dos europeus ao continente, no século XVI. Essa civilização foi a primeira a se consolidar como um império, atingindo o auge no final do século IX, época em que seu território se estendia do sul do México à Guatemala. As paredes de seus templos e palácios são cobertas de inscrições em hieróglifos. Os textos, em boa parte já decifrados, registravam principalmente as histórias das dinastias maias, suas guerras contra cidades rivais e o sacrifício de inimigos para agradar aos deuses.

Enquanto estiveram no auge, os maias foram uma das civilizações mais avançadas do planeta. Eles calcularam que Vênus passa pela Terra a cada 583,935 dias – bem perto do número correto, que é entre 583,920 e 583,940 e que o ciclo lunar dura 29,53086 dias (também muito perto do que atualmente os astrônomos apontam: 29,54059). A partir do ciclo de Vênus, traçavam uma referência para a data das colheitas e para a escolha da época mais favorável para guerrear. Além disso, eles registraram que o Sol completa seu ciclo em 365,2420 dias (com o número atual sendo 365,2422). Em outras palavras: eles entendiam muito de astronomia, e em sua mitologia, não faltaram deuses que representassem essa área.

Céu

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Nas mitologias, sempre há um deus ou uma deusa (para dizer o mínimo, já que em várias ocasiões, mais de um deus é ligado à mesma coisa) que seja a personificação do céu. Acontece que o céu é algo que todos os povos viram, de qualquer lugar do mundo, de qualquer época. No caso da mitologia maia, o responsável pelos céus era Itzamna.

Além de deus dos céus, Itzamna também era a divindade do dia e da noite, e um poderoso curandeiro, que auxiliava a humanidade com os seus poderes. Para mutios maias, esse deus era considerado por muitos maias como o inventor do calendário, da escrita e dos rituais religiosos de forma geral. Ele era frequentemente representado com uma aparência muito idosa, sem dentes e com um nariz torto.

Itzamna era casado com Ixchel, deusa da fertilidade, da gravidez e do parto. Ela também era representada como uma idosa (embora tivesse uma peculiaridade: no lugar de cabelos ela tinha serpentes, as quais agitava quando estava insatisfeita com algo), e assim como o marido, ela era portadora de grandes poderes: era capaz de prever acontecimentos futuros e era a protetora das tecelãs.

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Outro deus com ligação direta aos céus era Pauahtun. No entanto, diferente de Itzamna, Pauahtun era responsável por sustentar os céus (algo que na mitologia grega é bem equivalente ao Atlas, por exemplo). Pauahtun também tinha poderes voltados aos ventos e aos trovões. No entanto, mesmo com essas funções de grande importância para o panteão maia, era representado como um bêbado e instável, retratado com uma concha ou um casco. Dentro da cultura maia, a concha da tartaruga é um símbolo de força e proteção, pois foi em um deles que o Sol e a Lua se esconderam durante a destruição do mundo.

Já a chuva era representada por Chac, um guerreiro que, ao chorar, derramava as lágrimas sobre a terra. Como as chuvas são essenciais para o plantio, ele se tornou também o deus da agricultura, e era adorado como quatro entidades diferentes – cada uma representando um dos pontos cardeais. Enquanto isso, Huracán era o senhor das tempestades, e destruiu a primeira raça humana. Seu nome originou a palavra espanhola para “furacão”.

Sol

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Outro aspecto frequentemente representado nas mitologias é o Sol. No caso do panteão maia, esse astro é personificado por Kinich-Ahau, cujos poderes eram voltados à mudança de forma. Acontece que a divindade, ao longo do dia, era representada como um pássaro de fogo. Em contrapartida, ao longo da noite, Kinich-Ahau vagava pelo Xibalba (um lugar na mitologia maia descrito como um mundo subterrâneo governado por espíritos de doenças e morte) na forma de um jaguar, felino temido e admirado.

Mas se você acha que apenas uma divindade maia era envolvida com o Sol, está muito enganado. Vucub Caquix disputava o lugar desse grande astro. Basicamente, tratava-se de um pássaro monstruoso, e era um dos deuses-demônio de Xibalba.

Lua

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Normalmente, o Sol e a Lua são tidos como opostos, de alguma maneira, na mitologia, e representam uma relação (ou de parentesco, ou uma relação amorosa mesmo). Entretanto, quando se fala do panteão da civilização maia, esses dois astros são simplesmente representados pela mesma divindade.

Acontece que, assim como o Sol, Vucub Caquix também costumava representar o satélite natural da Terra. Ele era representado como um ser cheio de arrogância, disputando com os deuses pelo lugar de principal líder do panteão, e proclamava a si mesmo como o Sol, a Luz e a Lua (o pássaro tinha olhos de prata, dentes incrustados de jade e penas cintilantes para justificar essa associação aos dois astros). Vale ressaltar, ainda, que Vucub acabou derrotado por Hunahpu e Xbalanque, conhecidos como os heróis gêmeos. Ambos eram humanos e se tornaram deuses quando foram ao submundo para vingar a morte do pai, Hun Hunahpu, que era irmão de Vucub.

Fonte: History, Ancient