Como funciona o telescópio que fotografou o buraco negro da Via Láctea?
Por Danielle Cassita • Editado por Rafael Rigues |
Revelada nesta quinta-feira (12), a primeira imagem já capturada de Sagittarius A*, o buraco negro supermassivo no coração da Via Láctea, foi produzida pelo projeto Event Horizon Telescope (EHT). Ele é formado por uma rede de radiotelescópios em observatórios de diferentes lugares do mundo que, juntos, formam um telescópio "virtual" quase do tamanho da Terra.
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Conforme nosso planeta gira, cada um deles captura a luz emitida pela matéria que orbita ao redor do buraco negro — este, tão distante de nós que parece ter um tamanho comparável ao de uma rosquinha na Lua. Contudo, esta nuvem de matéria é visível somente em comprimentos de ondas milimétricos observados por radiotelescópios, que devem ser grandes o suficiente para detectar o sinal de rádio emitido por um objeto tão distante.
Cada antena está preparada para capturar dados de determinada frequência de onda, e a equipe do EHT trabalhou em observações do buraco negro ao longo de anos. De posse dos dados, a interferometria (técnica que une diferentes antenas de rádio treinadas para “ver” um único objeto) foi usada para que os astrônomos pudessem capturar os detalhes de Sagittarius A* (ou, se preferir, apenas "Sgt A*").
Desafios da foto do buraco negro
A imagem é fascinante, mas é importante lembrar que ela não mostra o buraco negro propriamente dito (afinal, este é completamente escuro e não pode ser visto). O que vemos ali é o brilho do anel de material acumulado ao seu redor, o chamado "disco de acreção" e, ao centro, a sombra do buraco negro.
“Ficamos maravilhados com o quanto o tamanho do anel correspondia às previsões da Teoria da Relatividade Geral, de Albert Einstein”, disse Geoffrey Bower, cientista de projeto do EHT.
A colaboração Event Horizon já havia feito história com a imagem do buraco negro M87*, o primeiro que conseguimos fotografar, mas tiveram que encarar novos desafios para registrar Sgt A*. Apesar de estar mais próximo, os gases orbitam o buraco negro da Via Láctea a velocidades muito maiores do que em M87*. “Isso significa que o brilho e o padrão do gás a redor de Sgr A* estava mudando rapidamente conforme o EHT o observava. Era quase como tentar tirar uma foto nítida de um cachorrinho correndo atrás de seu rabo”, explicou Chi-kwan, cientista do EHT.
O registro é o resultado de cinco anos de trabalho de mais de 300 pesquisadores de 80 institutos em todo o mundo, aliado a novas ferramentas desenvolvidas para observar Sgt A*. Agora, com duas imagens de dois buracos negros diferentes, os cientistas podem testar teorias e modelos de como o gás se comporta ao redor destes objetos, o que poderá trazer respostas importantes sobre a formação e evolução das galáxias.
Fonte: Event Horizon Telescope; Via: Phys.org