Publicidade

Comitê propõe novo limite para a exposição de astronautas à radiação espacial

Por| Editado por Patricia Gnipper | 29 de Junho de 2021 às 18h30

Link copiado!

NASA
NASA

Quando o assunto é a exposição de astronautas à radiação espacial, a NASA utiliza atualmente um aumento de 3% no risco de morrerem de câncer causado pela exposição. Agora, um relatório recente da U.S. National Academies of Sciences, Engineering, and Medicine incentiva que a agência espacial norte-americana adote um novo padrão de exposição máxima, de 600 milésimos de Sievert, que permitiria que mulheres ficassem mais tempo no espaço. Se a NASA utilizá-lo, todos os astronautas serão limitados à dosagem permitida para mulheres de 35 anos.

Para Hedvig Hricak, radiologista e diretora do comitê que fez o relatório, a mudança faz jus aos dados atuais e é um passo para a igualdade de gênero na exploração espacial. “Não há evidências de diferenças significativas de gênero em relação à exposição e ao risco associado de câncer”, afirma ela. Essa possível mudança chega também no momento em que a NASA se prepara para levar astronautas novamente à Lua, além dos planos para missões tripuladas para Marte, no futuro não muito distante.

Por isso, Paul Locke, especialista de saúde ambiental na Johns Hopkins University, acredita que a alteração, caso aconteça, deve excluir o gênero da lista de critérios considerados para a escolha dos astronautas que vão nas missões. “As mulheres não serão penalizadas, porque elas estão sob risco maior no modelo antigo”, diz. Contudo, embora alguns especialistas tenham elogiado a mudança, outros temem que a proposta ignore as outras variáveis envolvidas em viagens espaciais profundas — no caso de Marte, os desafios são variados, envolvendo a segurança da tripulação, produção de energia, impactos da radiação e microgravidade no corpo humano, entre outros.

Continua após a publicidade

Em uma missão com destino ao planeta vizinho, os astronautas podem ser expostos a 1.000 milésimos de Sivierts. Por isso, Albert Fornace, radiobiologista da Georgetown University, propõe que o risco máximo seja aumentado para 5% — mas isso somente após pesquisas de contramedidas e análises de marcadores genéticos que reduzam os riscos de os astronautas terem câncer.

Já Francis Cucinotta, biofísico da Nevada University, não concorda com a dosagem única. Para ele, essa igualdade deveria vir de um risco igual, e não de dosagens iguais, já que ele considera que a idade, gênero e raça são fatores que afetam o risco de desenvolvimento de câncer e que devem ser levados em conta para determinar o tempo que astronautas podem ficar no espaço. “Quando eles são selecionados para serem astronautas, há muitas coisas em que não há igualdade, porque é tudo baseado no desempenho; mas esse modelo não está sendo aplicado aqui”, diz.

Há missões regulares para levar astronautas à órbita baixa da Terra, como aquelas que levam tripulações para revezar a estadia a bordo da Estação Espacial Internacional. Por outro lado, serão poucos os astronautas que vão viajar em missões para destinos mais distantes. Além disso, a maioria dos dados usados para definir os limites de exposição deles à radiação vem de sobreviventes das bombas atômicas no Japão e de estudos de pessoas que são altamente expostas devido a seus trabalhos.

O Canaltech está no WhatsApp!Entre no canal e acompanhe notícias e dicas de tecnologia

Como as missões tripuladas rumo ao Planeta Vermelho ainda devem levar uma década para acontecer, os cientistas têm tempo para desenvolver maneiras de proteger os astronautas de maiores níveis de radiação. Enquanto isso, a NASA já vem trabalhando em maneiras para informar melhores os astronautas sobre os riscos, e uma das ideias para isso envolve um sistema de cores, que funciona como um semáforo — o verde seria para as missões de menor risco, amarelo, com maior risco e, por fim, vermelho para aquelas que excedem o limite.

Se algum astronauta quiser ultrapassar o limite, ele teria que assinar um termo de responsabilidade. Ann Bostrom, especialista em comunicação de risco da Washington University e membro do comitê, teme que, talvez, este sistema seja simplista demais para transmitir informações complexas, e considera que a NASA precisa testá-lo bem. Já Scott Kelly, ex-astronauta que esteve no espaço durante quase um ano, gosta da simplicidade do sistema de semáforos: “não significa, necessariamente, que seja a melhor ferramenta, mas é uma com o qual fiquei muito feliz”, comenta.

Fonte: Science Mag