Cometa Atlas pode ser pedaço de outro cometa maior visto na Terra há 5 mil anos
Por Daniele Cavalcante | Editado por Patricia Gnipper | 20 de Agosto de 2021 às 17h40
No início de 2020, astrônomos esperavam que o cometa Atlas C/2019 Y4 se tornasse visível a olho nu, mas, em abril, o objeto se desintegrou antes que pudesse ser observado em nosso céu noturno. Agora, pesquisadores descobriram que ele talvez seja um pedaço de um antigo cometa que nos visitou há milhares de anos.
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Há cerca de 5 mil anos, um cometa com pelo menos 1 km de largura se aproximou do Sol a uma distância menor que a do planeta Mercúrio. Ele deve ter sido uma visão espetacular para as civilizações no final da Idade da Pedra, mas não há relato algum sobre ele. A única pista sobre sua existência é o Atlas C/2019 Y4, um de seus fragmentos que voltou para contar a história de seu “pai”.
Foi o astrônomo amador Maik Meyer quem primeiro percebeu que o cometa Atlas poderia ser “parente” de um cometa orbital visto em 1844. Os indícios desse parentesco é que os dois objetos apresentam a mesma “linha férrea”, sugerindo que ambos são provavelmente produtos da desintegração de um cometa original.
Com imagens do telescópio Hubble, os autores de um novo estudo observaram os dois principais fragmentos do cometa Atlas, denominados C/2019 Y4-A e C/2019 Y4-B, e logo notaram uma curiosidade: eles eram relativamente diferentes um do outro. Enquanto o primeiro teve vida bem mais curta, com “sinais de perda de massa e mudanças na distribuição de tamanho ao longo de três dias”, o segundo durou semanas.
Contudo, o que realmente chamou a atenção foi que, ao contrário do “pai”, o ATLAS se desintegrou enquanto estava mais longe do Sol do que a Terra. "Se ele se separou tão longe do Sol, como ele sobreviveu à última passagem ao redor do Sol há 5.000 anos?”, questiona-se Quanzhi Ye, que conduziu o estudo. “Esta é a primeira vez que um membro da família de cometas de longo período foi visto se separando antes de passar para perto do Sol”.
O fato dos fragmentos do cometa Atlas durarem tempos diferentes sugere que parte do núcleo era mais forte do que a outra. Isso oferece pistas sobre como esse cometa era estruturado, embora seja muito difícil criar um modelo exato, já que ainda nem sequer sabemos porque ele se desintegrou. “Uma possibilidade é que serpentinas de material ejetado possam ter girado o cometa tão rápido que forças centrífugas o rasgaram”, comenta Ye.
Outra explicação é que ele tinha substâncias chamadas gelos supervoláteis em seu interior, que ao receber calor do Sol, simplesmente estouraram o objeto “como fogos de artifício aéreos explodindo”. O irmão sobrevivente do cometa ATLAS — aquele visto em 1844 — não retornará até o século 50.
Fonte: NASA