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Balão capaz de detectar terremotos pode ser adaptado para estudar Vênus

Por  • Editado por  Patricia Gnipper  | 

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NASA/JPL-Caltech
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Em julho de 2019, pesquisadores do Laboratório de Propulsão a Jato, da NASA, ao lado de especialistas da Caltech, tiveram a chance testar um equipamento científico preso em balões de grande altitude, quando uma sequência de terremotos atingiu Ridgecrest, na Califórnia. O objetivo era detectar, pela primeira vez, o fenômeno a partir do ar e, com isso, avaliar sua aplicação para o planeta Vênus, onde estes balões munidos de um barômetro — instrumento que mede as mudanças de pressão no ar — poderiam flutuar entre a densa atmosfera do planeta.

A sequência de terremotos em julho 2019 provocou mais de 10.000 tremores secundários em um período de seis semanas e, em 22 de julho daquele mesmo ano, a equipe conseguiu detectar as ondas de baixa frequência causadas por um tremor que se originou no solo, graças ao barômetro de alta sensibilidade a bordo em um dos balões. Em estudo publicado em 20 de junho deste ano na Geophysical Research Letters, os pesquisadores envolvidos no desenvolvimento dos balões descrevem uma técnica semelhante que poderia nos ajudar a descobrir os mistérios venusianos.

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O sismologista Quentin Brissaud, do Laboratório Sismológico da Caltech e do Norwegian Sismic Array (NORSAR) em Oslo, Noruega, explica que tentar detectar terremos que ocorrem naturalmente é um desafio, pois a maior parte desses tremores de baixa magnitude não produz ondas sonoras fortes o suficiente para se propagar pela atmosfera. “Todos os tipos de ruído ambiental são detectados; até os próprios balões geram ruído”, explica.

Em 22 de julho de 2019, um balão detectou uma vibração acústica de baixa frequência — chamada de infrassom. Através de análises e comparações com modelos computacionais e simulações, os pesquisadores confirmaram a primeira detecção de um terremoto natural a partir de um instrumento transportado em um balão. Os testes continuarão, pois a equipe espera localizar a origem dessas atividades sem o auxílio de uma estação terrestre.

Balões na atmosfera de Vênus

Boa parte do conhecimento sobre o interior do nosso planeta se deve às análises das ondas sísmicas, provocadas por terremotos, que atravessam suas mais profundas camadas. Ao estudarmos o que existe em seu interior, podemos entender como um planeta rochoso evoluiu. Aqui na Terra, os diferentes materiais presentes em suas camadas internas refratam estas ondas de maneiras diferentes e, através da força e da velocidade delas, sismólogos podem determinar a natureza desses materiais abaixo da superfície.

Em sua juventude, Vênus possuiu oceanos e clima temperado — um ambiente muito semelhante ao da Terra —, mas, por alguma razão ainda desconhecida, o planeta evoluiu para um ambiente extremamente hostil para a vida. Por isso, os “venusquakes” (nome em inglês para os tremores em solo venusiano) podem revelar o que há por dentro do planeta e fornecer algumas peças do quebra-cabeça que narra sua evolução.

A missão Vegas, liderada pela então União Soviética, implantou dois balões em Vênus em 1985, que foram capazes de transmitir dados para a Terra por mais de 46 horas, cada. No entanto, nenhum deles possuía instrumentos para a detecção de atividades sísmicas no planeta. A equipe de sismólogos do novo estudo acredita que sua técnica baseada na leitura do infrassom seja capaz de funcionar da mesma forma em Vênus — como sua atmosfera é mais densa do que a da Terra, as ondas viajam com mais eficiência pelo ar.

Enquanto não mandamos balões para a atmosfera de Vênus, a NASA desenvolve duas missões destinadas a chegar ao "planeta infernal" entre 2028 e 2030: a missão VERITAS, que estudará a superfície e o interior de Vênus; e a DAVINCI+, focada em sua atmosfera. Além disso, a Agência Espacial Europeia (ESA) enviará para lá a missão EnVision.

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Fonte: NASA