Austrália inaugura seu "cometa vômito" com experimentos em microgravidade
Por Danielle Cassita | Editado por Rafael Rigues | 23 de Junho de 2022 às 18h15
A empresa australiana Beings Systems realizou no último sábado (18) o primeiro voo parabólico comercial da Austrália. Um avião a jato SIAI-Marchetti S.211 decolou de um aeroporto em Melbourne, na Austrália, levando o piloto Steve Gale e uma série de experimentos científicos no banco do passageiro.
- Vídeo mostra Jeff Bezos flutuando em nave da Blue Origin. Como isso é possível?
- Gravidade zero não existe. Entenda o que astronautas experimentam no espaço!
Havia pequenos pacotes com seis experimentos a bordo do avião. Eles foram desenvolvidos por alunos de ciência espacial da Universidade do Instituto de Tecnologia Real de Melbourne (RMIT), e foram projetados para investigar o efeito da microgravidade no crescimento das plantas e cristais, transferência de calor, entre outros.
O voo foi um sucesso, e os experimentos renderam uma série de dados e fotos: o das plantas, por exemplo, foi voltado para a análise de mudas de brócolis durante o voo, que não mostraram reações adversas à hiper ou microgravidade. Outro formou um cristal de acetato de sódio trihidratado, que ficou muito maior que uma amostra em solo.
Este voo representa um passo para outros que serão necessários para o avanço do programa espacial australiano. A agência espacial do país foi fundada em 2018 e, desde então, alguns projetos espaciais receberam apoio financeiro para serem desenvolvidos. Só que, para terem sucesso, todos os sistemas e componentes vão precisar ser testados.
É aí que entram os voos parabólicos, como este. A demanda de voos do tipo deverá aumentar, e os aviões não devem ficar atrás — a Beings Systems, por exemplo, planeja usar aeronaves maiores em 2023, para que pesquisadores e empresas possam testar equipamentos de diferentes dimensões sem precisar de alternativas de outros países.
Como funciona um voo parabólico
Se você já quis experimentar a sensação de ausência de peso ou "gravidade zero", saiba que é possível fazer isso na Terra mesmo, sem a necessidade de ir ao espaço. Empresas como a Zero-G nos EUA operam voos do tipo comercialmente, onde os passageiros experimentam, por 20 a 30 segundos de cada vez, a sensação de flutuar "sem peso". Devido à tendência de algumas pessoas passarem mal com a experiência, as aeronaves que fazem esse tipo de voo são apelidadas de "cometa vômito".
A sensação de ausência de gravidade vem da condição de “queda livre”, que pode ser alcançada brevemente na Terra. Para entender, imagine que você tem uma bolinha na mão e a jogou para um amigo. A bolinha vai seguir uma trajetória em arco no ar, certo? Pois bem, assim que sair da sua mão, ela estará em queda livre (mesmo durante a subida!). Os aviões dos voos parabólicos fazem algo parecido: conforme a aeronave sobe, os pilotos diminuem a velocidade do motor; assim que ela entra na trajetória parabólica e inicia a queda livre, começa a microgravidade, que dura alguns segundos.
Outro exemplo disso é a Estação Espacial Internacional, que está em queda livre assim como a bolinha imaginária ou o avião — só que, neste caso, o laboratório orbital tem velocidade o suficiente para “cair” sempre e “errar” a superfície da Terra (quase como o colocado por Douglas Adams, autor de O Guia do Mochileiro das Galáxias!), indo sempre para a frente. Ao combinar a velocidade de avanço com o "puxão" gravitacional da Terra, a estação consegue orbitar nosso planeta.
A maior vantagem científica destas condições é que, na microgravidade, os experimentos podem ser executados em um ambiente “limpo” dos efeitos da gravidade na superfície da Terra, e permitem que os fenômenos sejam estudados de forma mais “pura”. Além disso, a microgravidade de voos parabólicos, como este, funciona como um teste para equipamentos e experimentos antes de irem ao espaço.
Fonte: The Conversation