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Astronautas na ISS conversam com pessoas na Terra usando radioamador

Por| 29 de Dezembro de 2020 às 18h00

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Nasa
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Imagine ter a oportunidade de conversar com astronautas a bordo da Estação Espacial Internacional (ISS)? E melhor ainda, de graça! Pois é, muitas pessoas ao redor do mundo conseguem uma chance de trocar algumas palavras com os exploradores espaciais, e tudo com a ajuda de um simples equipamento — o radioamador.

Se você tiver um equipamento desse, em teoria basta sintonizá-lo na frequência da ISS e conversar com o astronauta que estiver disponível. Bem, na verdade, não é tão simples assim. Primeiro, você precisa esperar que a estação orbital esteja passando sobre a sua região. Então, você precisa monitorar os momentos em que a ISS passa pelo Brasil e torcer para que consiga fazer o contato. Depois, torça para que algum astronauta esteja em horário livre durante esse momento, disponível para bater um papo.

A vida lá em cima é bastante agitada. Os astronautas estão sempre realizando experimentos científicos, manutenções, atividades físicas ou, claro, se alimentando e também descansando. Os momentos livres para conversar no rádio são curtos, mas o suficiente para que eles consigam fazer contato com uma grande quantidade de pessoas na Terra — tanto que isso se tornou uma espécie de hobby para muitos deles, desde a década de 1980, quando a NASA começou a permitir o uso do radioamador no espaço.

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Foi em 1983 que aconteceu a primeira transmissão do tipo no espaço, quando o astronauta Owen Garriott, um radioamador licenciado, estava no ônibus espacial Columbia e conseguiu pegar ondas aéreas. Quando voltou para a Terra, Garriott e o astronauta Tony England pressionaram a NASA a permitir o equipamento a bordo dos ônibus espaciais. “Achamos que seria um bom incentivo para os jovens se interessarem por ciência e engenharia se eles pudessem ter essa experiência”, disse England, que foi o segundo astronauta a usar radioamador no espaço para se comunicar com a Terra.

Desde então, os astronautas usam um pouco do tempo livre para conversar com pessoas da Terra. É uma espécie de loteria — normalmente o astronauta não sabe com quem vai conversar, assim como as pessoas na Terra que tentam entrar na frequência não sabem se vão conseguir um minutinho para conversar com os aventureiros espaciais. Quando alguém pede para falar com a ISS e há um astronauta para responder, a conversa pode gerar até mesmo uma amizade.

David Pruett, médico emergencial de Hillsboro, Oregon, foi um desses sortudos. Ele usou seu radioamador com uma antena colocada em uma bandeja de pizza, para melhorar o sinal. Depois de muitas tentativas sem nenhum sucesso, ele finalmente conseguiu conversar com o astronauta Douglas Wheelock. “Bem-vindo a bordo da Estação Espacial Internacional”, respondeu Doug. “É apenas incompreensível”, afirmou Pruett ao relatar a experiência de conseguir o primeiro contato. Ele conversou muitas outras vezes com os tripulantes da ISS, e acabou criando um canal no YouTube para publicar crônicas sobre esses contatos.

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Outros contatos de Wheelock causaram nele um certo impacto. Houve, por exemplo, um homem de Portugal com quem ele falou tantas vezes que se tornaram amigos. Wheeler e seus colegas astronautas até mesmo cantaram “parabéns a você” para ele através do radioamador. Wheelock também contactou alguns dos primeiros homens que trabalharam no resgate dos 33 mineiros chilenos presos no subsolo por 69 dias, em 2010. “Eu só queria dar uma palavra de incentivo [...] para que soubessem que há alguém em cima que se preocupava com o que estavam fazendo", disse ele.

A iniciativa também é interessante para os estudantes. Existe uma organização quase que totalmente voluntária chamada Radioamadorismo na Estação Espacial Internacional (ARISS, na sigla em inglês), que ajuda a organizar o contato entre estudantes e astronautas. Todos os anos, cerca de 25 escolas de todo o mundo são escolhidas e os alunos se preparam para fazer perguntas rápidas, um após o outro, no microfone do radioamador. São apenas 10 minutos para ouvir as respostas, pois a ISS viaja a uma velocidade de 27.700 km/h. O sinal se perde rapidamente.

Para os astronautas, conversar com alunos é uma grande oportunidade de inspirar uma próxima geração de cientistas ou astronautas. “Tentamos pensar em nós mesmos como semeadores”, disse Kenneth G. Ransom, coordenador do projeto ISS Ham no Johnson Space Center da NASA em Houston.

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E no Brasil também há radioamadores que tentam a sorte. Quando o ex-astronauta brasileiro Marcos Pontes viajou em uma missão à ISS em 2006, muitos tentaram falar com ele. Fabiano Moser, por exemplo, além de conseguir um rápido contato com Pontes, já conversou com astronautas russos e americanos. As chances podem ser poucas, mas se você insistir, é provável que em algum momento consiga, já que alguns astronautas costumam fazer muitos contatos. Isso os ajuda a lidar com o sentimento de isolamento que sentem no espaço, apenas olhando para a Terra a distância.

Um desses entusiastas é o astronauta da NASA William McArthur, que, durante uma missão de seis meses, entre 2005 e 2006, falou por radioamador com 37 escolas e fez mais de 1.800 contatos individuais com pessoas de mais de 90 países. “Eu queria compartilhar com pessoas que talvez fossem aleatórias, que talvez não tivessem uma conexão especial ou conhecimento sobre a exploração espacial”, disse.

Fonte: Phys.org, Folha de Londrina