Asteroide Ryugu tem os materiais mais primitivos já estudados no Sistema Solar
Por Danielle Cassita • Editado por Patricia Gnipper |
Novas análises de amostras do asteroide Ryugu, coletadas pela missão japonesa Hayabusa 2, revelaram a presença de compostos orgânicos no material, junto de detalhes sobre a composição da rocha espacial e da “infância” do Sistema Solar. Os resultados das análises de pesquisadores das universidades de Hokkaido, Tohoku e Kyushu, no Japão, foram divulgados durante a conferência Lunar and Planetary Science Conference 2022.
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Durante a visita ao Ryugu, a missão Hayabusa 2 coletou amostras da superfície e do interior do asteroide, obtendo 5,4 g de material. “O material do Ryugu é um dos mais primitivos no Sistema Solar que já estudamos”, observou Hisayoshi Yurimoto, líder da equipe de análise química da missão. Segundo ele, o Ryugu é um asteroide do tipo condrito do grupo CI, ou seja, uma rocha rica em carbono com composição parecida com a do Sol.
Estes asteroides são ricos em água e compostos orgânicos e, por isso, são considerados possíveis origens dos blocos construtores da vida, os quais podem ter sido trazidos à Terra há bilhões de anos. Entretanto, os pesquisadores notaram algumas diferenças importantes entre o Ryugu e outros asteroides do tipo, já que as amostras dele parecem ser mais “primitivas”.
Yurimoto explicou que o material parece ter composição química mais parecida com aquela do material do Sistema Solar primordial. É possível que essas características se devam à falta de contato com o ambiente da Terra, que talvez não tenha causado mudanças nelas.
Compostos orgânicos nas amostras
Já a equipe liderada por Hiroshi Naraoka, da Universidade de Kyushu, analisou as amostras em busca de matéria orgânica. Eles descobriram que os fragmentos do asteroide tinham mais carbono, hidrogênio e nitrogênio do que outros condritos carbonáceos conhecidos, e que havia mais de dez tipos de aminoácidos nas amostras — entre eles, estavam a glicina e L-alanina, blocos construtores das proteínas produzidas por seres vivos, com base no DNA.
Durante a apresentação, Naraoka descreveu a descoberta de vários compostos orgânicos prebióticos. “Estas moléculas orgânicas prebióticas podem ser espalhadas pelo Sistema Solar potencialmente como poeira interplanetária da superfície do Ryugu, por causa de impactos ou outras causas”, disse. Devido à ausência processos climáticos e tectônicos, os materiais e a composição química dos asteroides mudam pouco desde quando foram formados, pouco após o Sistema Solar ser formado.
Por fim, as amostras revelaram também um pouco mais sobre o passado do Ryugu. De acordo com a análise de uma equipe liderada por Tomoki Nakamura, da Universidade de Tohoku, o asteroide foi formado após a colisão de um corpo maior, que o estilhaçou. Por isso, o Ryugu é o que os cientistas chamam de “pilha de entulhos”, ou seja, é formado por um conjunto de rochas e fragmentos soltos, unidos pela gravidade.
É possível que o asteroide parental que deu origem ao Ryugu tenha sido formado fora da distância da chamada “linha de neve”, o nome dado à distância de uma estrela em formação, em que as temperaturas são baixas o suficiente para compostos voláteis se solidificarem em gelo. No caso, o asteroide original teria se formado fora da linha de neve do dióxido de carbono e da água.
Fonte: Lunar and Planetary Science Conference 2022 (1, 2); Via: Space.com