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Thomás Aquino, de Boca a Boca, conta como foi atuar na nova série da Netflix

Por| 03 de Agosto de 2020 às 09h23

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Foto: Vans Bumbeers/Netflix
Foto: Vans Bumbeers/Netflix

Entre as estreias do mês de julho, chegou à Netflix uma nova produção brasileira que, sem querer, acabou se encaixando no cenário atual de pandemia: Boca a Boca. A série, criada e dirigida por Esmir Filho, traz diversas temáticas em uma só, abordando questões atuais enfrentadas pelo Brasil e pelo mundo, como o conservadorismo, preconceitos como machismo e homofobia, além de jogos de poder e corrupção.

Além disso, a trama tem como foco central a transmissão de um vírus que acontece quando bocas entram em contato, ou seja, pelo beijo. As vítimas dessa situação acabam sendo os adolescentes de uma pequena cidade fictícia, chamada Progresso, após participarem de uma festa de música eletrônica. A produção, enquanto cria debates importantes, investe também em muitos efeitos visuais, cores e psicodelias, além de contar uma trilha sonora forte e impactante, nacional e internacional.

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Para falar um pouco mais sobre Boca a Boca e o que a série representa, o Canaltech conversou com o ator Thomás Aquino, que interpreta o personagem Maurílio. Com o estereótipo de peão, que costuma performar a masculinidade, Maurílio precisa esconder quem ele realmente é, simplesmente por sentir atração sexual e afetiva pelo mesmo sexo. Conversamos com Thomás também sobre a sua carreira e como foi fazer parte de uma série tão inovadora.

Thomás contou que a sua participação na série foi através de um teste, e que ele descobriu que havia sido aprovado em uma viagem ao Festival de Cannes pelo filme Bacurau, no qual também participou como o personagem Pacote. "Tive uma conversa com Esmir Filho através do Skype e foi muito bacana. A gente meio que já se paquerava para trabalhos e foi uma conversa muito boa, o que só firmou o nosso contrato para fazer a série", relata. Aquino já marcou presença na série brasileira 3%, também original da Netflix, fazendo participação na segunda temporada, e na série global chamada Treze Dias Longe do Sol.

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Em relação à criação do personagem Maurílio, o ator contou que o seu objetivo, como em todo personagem, é tornar ele crível e que isso demanda muito estudo e muita pesquisa. "Maurílio foi um outro grande desafio para mim, principalmente por ele também tratar da questão homoafetiva, justo nessa sociedade que tem muitos comportamentos muito conservadores e machistas", diz Thomás. "Defender um personagem homoafetivo, para mim, é uma honra. Como artista, representar um personagem com esse cunho filosófico é muito importante", completa.

Então, a construção do personagem Maurílio aconteceu com o ator ouvindo amigos dos movimentos, quais foram suas lutas, dores e desafios, além de outras histórias de pessoas que sofrem abusos pela sua sexualidade. Assim, foi possível também se desvencilhar do estereótipo aplicado em cima de homens gays, que sempre está atrelado à feminilidade. "Eu construí essa pessoa por amor mesmo, que eu acho que é o que tem de mais forte em qualquer ser humano. Maurílio traz muita sensibilidade nos seus gestos, no olhar, e fora do trabalho ele consegue se mostrar como um ser humano incrível, que tem suas dores, suas emoções e sentimentos. Isso é o que eu acho mais bacana em Maurílio", diz Thomás.

Debate atual

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Aquino conta que Boca a Boca traz alguns debates atuais e importantes, mas que acredita que não exista uma temática principal. "Eu acho que a série como um todo é uma força porque ela relata muito de uma bolha, de um ciclo de uma estrutura cultural. A gente vê uma cidade com o nome 'Progresso' mas totalmente conservadora e isso é uma porrada para as pessoas que não querem ver o que acontece hoje em dia", diz.

Em Boca a Boca, o protagonismo principal é dos adolescentes, que são aqueles que são mais impactados pelas gerações passadas e que transformam esse conhecimento em evolução. E para Thomás, cada geração mais nova é, de fato, uma evolução, e que hoje em dia os jovens já estão querendo discutir o que é o machismo, por exemplo, além de levantar as vozes em questões de sexualidade, gêneros, entre outros.

"De certa maneira, isso para mim é uma educação: de você ver um trabalho, uma série, e se envolver com a temática e fazer essas reflexões com amigas e amigos, filhas e filhos, pais e mães, com todo mundo que possa assistir", comenta também o ator, dizendo ainda esperar no futuro que as discussões não sejam mais sobre sexualidade e gênero, o que significa que já seria um preconceito combatido, mas sim sobre como melhorar outros problemas e não sobre as relações pessoais de cada um, "que a vida seja mais igual".

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Boca a Boca, segundo Thomás, é uma série que aborda não só questões de políticas públicas e sociais, independente de partidos ou lados, mas sim da forma em que vivemos, mostrando como ainda podemos progredir como sociedade. O ator relata um momento da série, mais para os episódios finais, quando os familiares dos adolescentes doentes os levam a uma piscina para iniciar um processo de cura que já foi testado e mostrado efetividade.

Dentro desta piscina, pais e irmãos dos pacientes relembram momentos importantes da vida desses adolescentes, fazendo com que todos sempre se lembrem de quem são. "Pais e familiares estão ali com seus respectivos filhos e filhas para tentar sanar essa doença, que ainda não se sabe o que é e nem o motivo, o que, na verdade, é como uma terapia familiar, quando as pessoas começam a olhar mais para os seus e aceitar eles como são", conta o ator. Então, o ponto forte da trama para Thomás é a mensagem de como lutar contra esses preconceitos, e nada melhor do que usar adolescentes para isso, como sinônimo de força e resistência.

Experiência

Para Thomás, trabalhar em Boca a Boca foi mais um grande presente em sua vida. "Eu, como artista, comunicador e por ter escolhido esse ofício, estar dentro de mais um trabalho que tem a resistência como temática, de trazer questões de políticas públicas e sociais, reflexões de defender esse personagem, é muito gratificante e grandioso", comenta. O ator diz ainda que é incrível receber o feedback dos espectadores da série, que o agradecem por levantar tão bem essas bandeiras abordadas na trama, sendo um ponto máximo em sua carreira.

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"Todo trabalho traz essas pessoas que ficam para a vida", diz Thomás, mencionando o elenco que teve a oportunidade de conhecer nas gravações de Boca a Boca. "Inclusive, sobre Esmir FIlho, é o primeiro trabalho que faço com ele e espero fazer outros. Esmir é um cara muito generoso, que tem uma visão à frente e que tem muitas questões interessantíssimas de filmes, séries e pensamentos, que nos deixou livre e à vontade para construir esses personagens e também opinar e levar coisas para o set. Só tenho a agradecer", finaliza Thomás.

Ainda não há previsão de uma segunda temporada de Boca a Boca, mas o retorno vem sendo positivo. Se acontecer, Thomás acredita que será uma continuação ainda mais forte e com mais reflexões. A série está disponível na Netflix em seis episódios.