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Sandman na Netflix: o que esperar da adaptação da melhor obra de Neil Gaiman

Por| 24 de Abril de 2020 às 08h15

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Sandman, uma das melhores histórias em quadrinhos de todos os tempos e a obra mais importante da carreira do escritor britânico Neil Gaiman, finalmente vai dar o ar da graça em uma adaptação para as telinhas. O projeto já esteve atrelado a um filme várias vezes, mas quem conhece a saga de Morpheus e seus irmãos Perpétuos sabe que o formato de seriado é muito mais apropriado para cobrir os vários detalhes e nuances de cada arco. E o que esperar dessa conversão, que deve chegar à Netflix somente no ano que vem?

O Canaltech montou uma listinha com sete pontos que devem definir essa adaptação para o serviço de streaming. Antes de entrarmos em cada um, vale destacar que Gaiman “treinou” bastante antes de conseguir compreender o que funciona ou não quando levamos o material bem-sucedido dos quadrinhos à sua linguagem-irmã cinema. As particularidades da Sétima Arte, por exemplo, valorizam o drama e os sons, algo que a Nona Arte tem dificuldade para caracterizar.

Em Mirrormask (ou Máscara da Ilusão, de 2005), por exemplo, Gaiman tentou reproduzir o visual do artista plástico Dave McKean, o incrível capista de Sandman. Mas se a ambientação até evocava às imagens surrealistas da história original, faltou mais contato entre o protagonista e a audiência. Anteriormente, na adaptação de Neverwhere (1996), as limitações de orçamento já tinham deixado tudo bastante a desejar.

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Foi com Stardust — O Mistério da Estrela (2007) que Gaiman passou a entender como poderia ajudar melhor no processo de conversão de suas obras impressas para a mídia audiovisual. Com elenco de peso, com direito a um jovem Charlie Cox (o Demolidor da Netflix) e de nomes como Robert De Niro e Michelle Pfeiffer, ele aprendeu a valorizar mais o trabalho dos atores em comunhão com os personagens — ali Gaiman notou que é preciso que o elenco encarne as versões originais e as transformem em algo novo, específico para a nova maneira de contar a mesma história.

E como Gaiman sempre disse que “as melhores histórias já foram contadas, nosso papel é recontá-las para uma nova geração”, é realmente isso que passou a fazer. Com Deuses Americanos (2017) e Good Omens (ou Belas Maldições, de 2019) ele encontrou um equilíbrio entre suas fábulas góticas e multimitológicas com uma maneira mais popular e acessível de narrar suas tramas. E é isso que esperamos que aconteça com Sandman.

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1. Arco mais autocontido

Cada edição de Sandman já é uma viagem completa para outras realidades, mas as idas e voltas são constantes em toda a série, com arcos que se interligam de uma maneira nunca antes vista nas HQs. Coisas que Gaiman escreveu mais recentemente, em 2018, na minissérie Sandman Overture, comunicam-se com eventos simultâneos que foram mostrados em Sandman #4, de abril de 1989. É incrível.

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Só que, na TV, vai ser necessário cortar muita coisa para que a trama ande e não fique muito presa ao que acontece no plano maior ou nas centenas de referências. Então, Prelúdios e Noturnos, que basicamente mostra Sandman voltando de um tempo aprisionado, deve mostrar e o Mestre dos Sonhos reconstruindo seu reino, o Sonhar, em busca de três artefatos perdidos. As histórias paralelas que conectam aos outros arcos devem ficar limitados apenas às citações para evocar a segunda temporada — Gaiman diz que já tem material desenvolvido para dois anos, o que possivelmente deve resultar em uma adaptação de Estação das Brumas, no embate entre Morpheus e Lúcifer (sim, o mesmo personagem da série de TV, que, aliás, veio parar na Terra por causa desse capítulo).

2. Referências ao universo Vertigo

Pode ser que vejamos várias outras citações a personagens do extinto selo Vertigo, braço adulto da DC Comics que foi casa de Sandman, Hellblazer, Monstro do Pântano, Lúcifer, entre outros títulos que tanto fazem falta nos dias atuais. Como a trajetória do Mestre dos Sonhos é recheada de participações especiais de personagens desse cantinho mágico da editora, é bem possível que o mesmo aconteça, pois algumas dessas propriedades já foram bem representadas nas telinhas — como o Constantine de Matt Ryan e o Lúcifer de Tom Ellis.

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Os dois atores talvez não participem, mas a edição número 4 dos quadrinhos, que é uma das mais importantes de toda saga e traz um dos momentos mais memoráveis da Nona Arte, tem a participação de ambos os personagens, Constantine e Lúcifer. Seria um desperdício não usar a popularidade dessas franquias e não adaptar essa passagem. Assim, espere por referências a outros “colegas de trabalho” do Vertigo.

3. Referências pop e mundiais

O Coríntio, que veio parar na Terra para influenciar serial killers nos anos 60 (Reprodução/DC Comics)

Uma coisa que sempre divertiu os leitores e aproximou a divindade dos Perpétuos com a audiência foi as citações à cultura pop, mitologia e história real da humanidade. Gaiman, por exemplo, explica que a “doença do sono” (que chegou a ser tema do longa Tempo de Despertar, com Robin Williams e Robert De Niro) aconteceu na época que Sandman ficou aprisionado. Ou que os serial killers se multiplicaram quando Coríntio, o responsável pelos pesadelos no Sonhar, começou a mastigar globos oculares na Terra nos anos 60.

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Essa é a pitada fundamental no caldeirão de feitiços de Gaiman para conquistar a audiência mais jovem. Se bem dosadas e aplicadas no momento certo, podem brincar com a memória afetiva ao ponto de conquistar de vez os espectadores.

4. Ambientação caprichada

Sandman nunca teve desenhistas populares, a não ser em Sandman: Overture e Sandman: Noites Sem Fim. Os anos 1990 foram de decadência para o mercado de super-heróis, então as editoras apelavam muito para cenas de ação ou sexualização de temas, exaltando os desenhos em detrimento ao texto. Como o título foi lançado na época, Gaiman basicamente segmentou sua obra para os que realmente quisessem entrar em sua jornada, que em boa parte é literária. Para isso, ele buscou ilustradores que estavam fora do padrão comercial. Ele obrigava as pessoas a lerem antes de entenderem o que acontece nos desenhos.

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Isso levou a uma melhor ambientação e construção da identidade visual da obra. E, assim como vimos em Belas Maldições e Deuses Americanos, Gaiman tem buscado jovens profissionais com grande senso estético. Espere por algo assim também em Sandman, que exige uma aura gótica e soturna constante, em uma combinação de drama com terror.

5. Morte, mas só ela por enquanto

Os Perpétuos são difíceis de explicar. “Eles estavam aqui antes da criação e estarão por aqui depois do fim”, sempre dizia Gaiman. Para quem não os conhece, são eles, todos com a inicial “D”: Dream (Sonho), Destiny (Destino), Desire (Desejo), Delirium (Delírio, que um dia já foi Deleite), Destruction (Destruição), Despair (Desespero) e Death (Morte). Cada um é a representação física de seu nome, o que pode ser um conceito muito vago na TV.

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Como Prelúdios e Noturnos envolve uma apresentação da Morte, é bem possível que ela apareça com destaque, mas somente ela, por enquanto. Isso porque, além de ser uma favorita dos fãs, ela seria um contraponto ainda mais palpável pela audiência. De todos os Perpétuos, ela é quem mais se comporta como um humano, toda alegre e extrovertida. É bem possível que faça tanto sucesso quanto sua versão de papel.

6. Sandman mais jovem e vulnerável

Uma das coisas que Gaiman demorou para responder foi o porquê de Sandman ser capturado com tanta facilidade no início da saga. Em Sandman: Overture, contudo, ele explica que o Mestre dos Sonhos vinha de uma batalha pesada, por isso ele também estava vestido com seus artefatos de guerra. Embora a série não deva abordar o passado do personagem, pode ser que o escritor mostre Morpheus bem menos poderoso que nas revistas.

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Isso porque é isso que mais conecta os leitores ao personagem. Embora seja legal viajar pela divindade do Mestre dos Sonhos, com todos seus imensos poderes, são os momentos de falhas é o que o tornam humano. E, de acordo com a sinopse de Netflix, essa é uma jornada que vai mostrar o protagonista “corrigindo erros cósmicos — e humanos — que cometeu durante sua vasta existência”.

7. Humanização de personagens

Aliás, essa “humanização” dos personagens deve acontecer com todos que aparecem por ali, inclusive os que já são humanos. Ou seja, a dramatização, como já citamos, é a grande diferença de ler uma história e vê-la na TV. São as expressões faciais e corporais, o jeito de falar, as pausas de texto, enfim, todas as coisas que uma atuação tem e que faltam nos quadrinhos. E são justamente o que nos faz sorrir ou chorar com mais intensidade.

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E, por isso, a expectativa é de que Gaiman aproveite melhor os momentos especiais de cada personagem na história com um bom trabalho dos atores. Há rumores, por exemplo, que destacam maior caracterização e tempo de tela de Alex Burgess, filho do bruxo que prendeu Sandman e que fica responsável pela guarda do Mestre dos Sonhos após a morte do pai; e do já citado Coríntio.

As notícias até agora são empolgantes, o jeito é aguardar para ver. A expectativa é de que a primeira temporada tenha 11 capítulos.