Quem é Griselda Blanco, a rainha do tráfico e estrela da nova série da Netflix?
Por Diandra Guedes • Editado por Durval Ramos |
No dia 25 de janeiro, a Netflix lança Griselda, sua nova série de suspense policial que conta a vida de uma das narcotraficantes mais importantes da América Latina. Com Sofia Vergara (Modern Family) no papel título, a obra mostra em seis capítulos como a “madrinha do crime” se tornou uma das mulheres mais poderosas do mundo das drogas.
Nascida na Colômbia em 1943, Griselda Blanco se tornou uma das mulheres mais violentas e perigosas do país, mas sua história começa quando ela tinha apenas 11 anos e matou um menino rico a tiros, depois de tê-lo sequestrado e seus pais não terem pago o resgate. Sua infância caótica e desestruturada fez com que ela enveredasse pelo mundo do crime e também se casasse cedo. Foi assim que em 1964, aos 21 anos, ela emigrou ilegalmente para Nova York com o marido e seus três filhos.
Foi lá que eles começaram a vender maconha e crescer no submundo das drogas. Em 1970, no entanto, Griselda se mudou para Miami e encomendou a morte do seu primeiro marido, devido a alguns desintendimentos que estava tendo com ele.
Viúva, ela se envolveu com o traficante de drogas Alberto Bravo, que a apresentou para o lado mais obscuro do tráfico. E parece que ela pegou gosto, já que ganhou notoriedade pela forma violenta como lidava com suas mulas (pessoas que fazem o transporte da droga) e pelas estratégias ousadas de contrabando. Uma dessas técnicas envolvia fazer mulheres viajarem da Colômbia para os Estados Unidos com cocaína escondida nas roupas íntimas.
O assassinato do segundo marido e a fama de viúva negra
A partir do momento que foi ganhando confiança em si mesma, Griselda passou a se tornar mais independente e ainda mais implacável. Em 1975, ela assassinou seu segundo marido, por acreditar que ele a estivesse roubando.
Não bastasse isso, em 1983, casada novamente, ela matou o seu terceiro marido porque ele saiu de Miami levando o filho do casal, Michael Corleone. Isso lhe garantiu o apelido de Viúva Negra e a fama de uma das mulheres mais impiedosas da região.
No início da década de 1980, ela já era uma das mulheres mais ricas do mundo, e coordenava o tráfico de 1,5 toneladas de cocaína para os Estados Unidos, todos os meses. Ainda assim, mesmo sendo imparável, Griselda permitiu que alguns homem liderasse seus negócios, por vezes, porque vários negociantes locais só aceitam a palavra final vinda de outro homem, em um claro exemplo do machismo estrutural.
O apogeu e a queda de Griselda Blanco
Determinada, inteligente e poderosa, Griselda não se intimidou nem com a misoginia e rapidamente se tornou uma referência no mundo das drogas, abrindo rotas de tráficos que mais tarde viriam a ser usadas por nomes como Pablo Escobar.
Seu império começou a ruir, no entanto, em meados de 1980 quando foi presa em Irvine, na Califórnia (EUA). Ela foi julgada culpada pela fabricação, importação e distribuição de cocaína e por três assassinatos, o que lhe rendeu 20 anos atrás das grades.
Quando saiu, foi deportada para a Colômbia onde viveu seus últimos dias até ser assassinada, aos 69 anos, a tiros por um homem que passava de moto, em Medellín.
O machismo e o apagamento de Blanco
Apesar de ter comando um dos cartéis mais importantes do mundo e ter se tornado um símbolo de crueldade, Griselda Blanco demorou a ser capturada pela polícia estadunidense. Isso aconteceu por dois motivos, o primeiro é que nenhuma autoridade masculina acreditava que uma mulher pudesse ser tão poderosa e comandar tamanhas barbáries, e o segundo é que todos ignoravam os palpites de June Hawkins, analista de inteligência da polícia de Miami que já estava de olho na traficante há muito tempo.
Mas o machismo não parou por aí, e a criminosa mais famosa da Colômbia também foi apagada dos livros de história. Em entrevista à BBC, a própria Sofia Vergara — que é colombiana — comentou que nunca havia ouvido falar de Blanco.
A vida de Griselda na Netflix
Produzida pelo showrunner Eric Newman e o diretor Andrés Baiz, ambos de Narcos, a série da Netflix não chega para fazer uma redenção da protagonista e tampouco para pintá-la como um monstro, pelo menos foi o que eles garantiram à imprensa. Newman comentou que a série vai humanizar o caráter complexo dessa personagem.
"Toda pessoa tem uma explicação, não uma desculpa, mas uma explicação, e como mãe solteira que foge de um relacionamento abusivo, ela pode, às vezes, causar empatia"
Mas apesar das boas intenções da produção da série, o projeto não agradou a Michael Corleone Blanco, o único filho vivo da ex-traficante, que processou a Netflix e Sofia Vergara (que também é coprodutora da obra).
De acordo com a imprensa dos Estados Unidos, Michael não foi procurado pela gigante do streaming e nem por Sofía, e quando tentou entrar em contato com eles, foi convidado para uma reunião na qual lhe foi dito que não havia espaço para ele. Michael e sua representante legal, Elysa Galloway, ainda alegam que a Netflix produziu a série para seu próprio ganho financeiro.
O Canaltech procurou a assessoria da Netflix que até o momento da publicação desta reportagem, não havia respondido às tentativas de contato.