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Preview | Gavião Arqueiro não é protagonista nem mesmo em sua própria série

Por| Editado por Jones Oliveira | 23 de Novembro de 2021 às 14h00

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Divulgação/Marvel Studios
Divulgação/Marvel Studios

Há um pequeno detalhe na língua inglesa que abre espaço para uma ambiguidade que, às vezes, pode ser muito interessante. Em boa parte das palavras, o idioma não exige um artigo que indique o gênero de uma palavra e nem exige uma variação entre masculino e feminino. Por isso, quando o Marvel Studios decide chamar sua mais nova série de Hawkeye, há uma pegadinha que pode pegar muita gente de surpresa já em seus dois primeiros episódios: o Gavião Arqueiro não é o protagonista.

Embora os mais de dez anos do personagem no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU, na sigla em inglês) possam nos levar a acreditar que Clint Barton (Jeremy Renner) será o centro da história do novo seriado do Disney+, a verdade é que a estrela do show é outra Hawkeye — a Gaviã Arqueira, como Kate Bishop foi chamada por aqui nos quadrinhos. E não sem razão, já que a estreante rouba a cena logo de início e se prova uma das maiores apostas para o MCU.

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A jovem vivida pela atriz Hailee Steinfeld já vinha recebendo enorme destaque nos trailers e materiais promocionais liberados até agora, mas os episódios que chegam ao streaming nesta quarta-feira (24) deixam claro que ela é o centro da história que a série quer contar, embora isso passe diretamente pelo vingador de arco e flecha. Da sua introdução no MCU à transformação em heroína, não há como negar que a série é de Bishop.

Química que funciona

O segredo para isso é óbvio: Steinfeld entrega uma personagem muito carismática que atrai toda a atenção do roteiro para si. Embora haja um esforço de trazer um lado ainda mais humano de Barton para que a gente se afeiçoe a esse herói que é pai de família e que quer ter apenas uma semana de paz depois de tanta desgraça na sua vida, Kate Bishop tem um magnetismo absurdo que nos faz querer saber mais sobre quem é ela e o que ela tem a oferecer ao MCU.

Por sorte, a série sabe disso e não economiza tempo de tela para isso. Assim, somos apresentados à jovem que decide ser super-heroína, que atrai a atenção do submundo do crime de Nova York ao se fantasiar de Ronin e que acaba tendo a ajuda de seu herói de infância.

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Esse carisma todo se sustenta principalmente na química que ela tem com Barton. É a velha dinâmica de duas gerações entrando em choque. De um lado, o veterano que já está cansado daquilo tudo e quer apenas descansar; do outro, a jovem ainda empolgada e entusiasmada com o mundo que se abre à sua frente. É uma fórmula que vimos à exaustão no cinema e na TV, mas que funciona muito bem graças à entrega dos atores — ainda mais quando eles passam a rir do quão irrelevante o Gavião Arqueiro é dentro dos Vingadores.

E há um fundo de verdade nisso. Nesses episódios iniciais — que correspondem a um terço de toda a série —, ele é usado apenas como escada para que Bishop se destaque. E isso não é algo negativo e que mostra como a ambiguidade deixada pelo título é realmente positiva para subverter expectativas e levar a trama para um lado inesperado.

Ao mesmo tempo, esse começo que precisa apresentar todo um novo núcleo de personagens, suas relações e plantar o mistério que vai se desenrolar pela temporada dá a Gavião Arqueiro um começo lento e que empolga pouco.

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Além de Kate, a série precisa apresentar quem é Eleanor Bishop (Vera Farmiga), a mãe da jovem, e seu recém-noivo, Jack Duquesne (Tony Dalton), um homem que claramente está escondendo algo de todos. E há ainda todo o plot da jovem se envolvendo com criminosos após roubar o traje do Ronin que Barton usou para assassinar criminosos entre Vingadores: Guerra Infinita e Ultimato.

Dessa forma, estabelecer todo esse cenário faz com que o começo da série seja muito introdutório. Tanto que a personagem Maya Lopez (Alacqua Cox), uma das vilãs da temporada e que vai ganhar sua própria série em breve, tem menos de um minuto de cena. E, por mais que Kate seja uma personagem interessante e a gente queira ver mais dela, a série fica muito mais no potencial do que na entrega.

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Acompanhar esse começo de história mostra o quanto Gavião Arqueiro é promissora, seja pela sua clara referência em um dos gibis mais elogiados da história recente da Marvel, ou por retomar uma discussão sobre a humanidade de seus heróis que quase sempre é ignorada dentro do MCU. Contudo, o que temos aqui é apenas uma sinalização de que esses elementos ainda vão ser abordados no futuro, o que faz desse começo uma pequena prévia do que ainda está por vir.

Pequenas trilhas

Ao mesmo tempo, a série também aponta outros caminhos interessantes que podem ser explorados nos próximos episódios. O primeiro deles é a tensão familiar entre Kate, sua mãe e o noivo. Fica evidente que há muito mais nessa história do que foi apresentado até aqui e que nem todos os personagens são o que aparentam ser.

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Durante a coletiva de imprensa com o elenco, por exemplo, o ator Tony Dalton tentou ao máximo evitar falar sobre o que devíamos esperar de seu Jack Duquesne, justamente por ele ser um dos possíveis vilões da série — nos quadrinhos, ele é o vilão Espadachim, que chegou inclusive a treinar o Gavião Arqueiro quando ele era um criminoso. E isso já é um forte indicativo de como as coisas devem avançar nos próximos capítulos.

Aliás, Dalton é um ponto alto do seriado. Ele carrega essa personalidade meio cínica de quem está sempre brincando com a enteada e que não leva a jovem a sério, tratando-a como a criança que não aceita o novo casamento da mãe. É aquele personagem que é tão amigável que se torna irritante — o que casa muito bem para o que é proposto. E, por mais que seja claro que ele guarda um segredo, ele cumpre muito bem esse papel de “cafajeste infiltrado na família”.

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Outro ponto interessante é a própria ambientação de Natal. Ela funciona não só para justificar a semana de folga de Barton com a sua família — a cena do musical é realmente ótima —, mas também para criar a tensão que a trama precisa. De acordo com o presidente do Marvel Studios, Kevin Feige, as festividades de fim de ano carregam um peso emocional e de conflito que atendem muito bem à proposta que Gavião Arqueiro busca. Assim como em todas as famílias do mundo, os super-heróis também têm problemas que acabam eclodindo durante a ceia, com a diferença de que as coisas têm uma escala um pouco maior.

Assim, acompanhar toda essa tensão crescente na casa dos Bishop é algo que pode ser muito interessante, sendo uma das possíveis trilhas que a série apresenta para nos incentivar a acompanhar o restante da temporada. Mais uma vez, é algo promissor e que somente as próximas semanas vão dizer se valeu ou não a pena.

Nova geração

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E onde fica o Gavião Arqueiro nisso tudo? Como dito, o foco inicial dado a Kate Bishop e seu núcleo nesse começo de história deixam claro que o Hawkeye do título é ambíguo e se refere muito mais à jovem do que à Clint Barton. Ele é o ponto de conexão com o MCU e com o restante do universo que conhecemos, mas está longe de ser a parte mais importante da história que vem sendo contada — pelo menos até agora. Ao que tudo indica, é muito mais uma história sobre a ascenção da Gaviã Arqueira do que uma aventura focada em Barton.

Mas ainda há alguns elementos que ainda precisam ser melhor explorados sobre o herói e que devem aparecer nos próximos episódios para puxar esse protagonismo para si, como a culpa pela morte da Viúva Negra e o seu passado como Ronin, mas tudo parece caminhar para uma possível despedida do personagem. Se há uma coisa que Gavião Arqueiro deixa nítido logo de cara é que há mesmo planos para que tenhamos uma passagem de bastão vindo aí. Resta saber se vai ser a altura de um dos veteranos dos vingadores ou se esse vai ser um potencial desperdiçado.

Gavião Arqueiro estreia para todos os assinantes do Disney+ nesta quarta-feira (24).