Prévia Cavaleiro da Lua: Série surpreende com atuação incrível e tom aventuresco
Por Durval Ramos • Editado por Jones Oliveira | •
Até outro dia, ninguém fazia a menor ideia de quem era o Cavaleiro da Lua — e, agora, o personagem surge como a grande novidade do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU, na sigla em inglês). Afinal, estamos falando do primeiro personagem que vai estrear de verdade no mundo das séries do estúdio, ou seja, apresentando um novo mundo de histórias não tão atrelado aos filmes, como vimos até aqui.
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Tanto que os quatro primeiros episódios mostram justamente o quanto a ideia da Marvel é fazer com o que seu novo herói seja algo descolado do restante do MCU, algo que fica evidente tanto em termos de narrativa quanto na própria estrutura. Tanto que, se não fosse a logo do Marvel Studios no início, Cavaleiro da Lua poderia facilmente ser vendido como algo independente.
Isso não é algo ruim e tampouco novo dentro do MCU — basta lembrar como o primeiro Guardiões da Galáxia, por exemplo, também destoa muito do que vinha sendo feito na época. E, em tempos em que já começamos a nos questionar sobre a tão comentada Fórmula Marvel, encontrar algo novo é sempre muito bem-vindo.
Assim, além de (ainda) não ter apresentado nenhum tipo de ligação com as histórias que conhecemos, Cavaleiro da Lua é estruturalmente diferente dos outros filmes e séries. A história desse personagem com sérios problemas psicológicos é muito mais uma aventura de exploração ao estilo Indiana Jones e até A Múmia do que um bando de gente fantasiada trocando soco — embora não negue sua origem nos quadrinhos.
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É uma aposta interessante e bastante promissora justamente pelo ar de novidade, com uma história simples e divertida e muito bem apoiada por um protagonista que consegue carregar a série inteira nas costas.
Dois em um
A trama de Cavaleiro da Lua é exatamente aquilo que os trailers já apresentaram: Steven Grant (Oscar Isaac) é um desajeitado funcionário de um museu em Londres que sofre de múltipla personalidade e descobre não só ser também o mercenário marc Spector como também o avatar do deus egípcio da Lua Khonshu. Assim, ele se vê em meio a uma disputa com uma seita religiosa liderada por Arthur Harrow (Ethan Hawke) para impedir o fim do mundo.
É claro que existem alguns poréns aí no meio que enriquecem um pouco mais a trama, mas ela segue sendo bastante simples no geral. Contudo, o que torna a série realmente interessante até mesmo para quem nunca ouviu falar no personagem é justamente o foco dado em sua personalidade civil e na questão psicológica da coisa toda.
Embora se chame Cavaleiro da Lua, o seriado é muito mais focado na relação entre as duas personalidades que habitam o mesmo corpo. Pelo menos nos quatro primeiros episódios disponibilizados pela Marvel, temos poucas cenas de ação dedicadas ao herói uniformizado e muito mais nos conflitos entre Marc e Steven — e isso é o que há de mais interessante por aqui, sobretudo por causa da ótima atuação de Oscar Isaac.
Muita gente estranhou o fato da escolha de um ator desse quilate para viver um herói tão desconhecido assim. Contudo, basta ver alguns episódios para entender a importância de ter alguém realmente muito bom à frente do show. Isaac não só vive muito bem esse indivíduo de personalidades tão conflitantes como consegue entregar interpretações completamente diferentes para dar uma delas a ponto de parecer que estamos diante de personagens diferentes.
E é realmente impressionante ver o quanto ele se transforma em cena a depender da personalidade dominante. Quando é Steven Grant, ele parece pequeno e frágil, falando quase como se fosse para dentro e muito mais contido. Porém, quando assume a persona de Marc Spector, o ator fica maior e toda sua fisionomia, postura e até sotaque e jeito de falar mudam por completo.
Essa atuação tão impressionante é algo que funciona tão bem que Cavaleiro da Lua se apoia quase que inteiramente no embate entre eles — ao menos nos episódios iniciais. É muito interessante e divertido acompanhar as discussões entre eles sob o controle do corpo e sobre as ações que cada um toma diante do perigo. E a série sabe que isso é muito bem que não se preocupou em acelerar esses momentos de diálogos e optou por pisar no freio na ação para que a gente veja mais dessas duas personalidades. Um acerto e tanto.
Isso não quer dizer que não vamos ver um herói uniformizado por aí. Na verdade, essa briga de personalidades é algo que se reflete também de forma muito divertida no lado heroico da coisa. Quando Spector está no comando, temos o Cavaleiro da Lua clássico por aí, com seu capuz e manto e uma atitude muito mais brutal e incisiva. Porém, a coisa muda de figura quando Spector usa o poder de Khonshu, virando o Mr. Knight, alguém muito mais desajeitado e até ingênuo em combate — e, por isso mesmo, tão bom de ver em cena.
E a porradaria?
Apesar de a expectativa de todo mundo é de que Cavaleiro da Lua seja uma série mais madura e pesada do que as outras produções da Marvel, essa comparação é bem relativa e até mesmo questionável. Ainda que ela tenha uma estrutura bem mais aventuresca do que heroica e algumas cenas de combate que vão um pouco além do que vimos no MCU, não é nada muito radical no fim das contas.
O personagem é realmente alguém muito mais cinza do que os heróis que a gente conhece. Por ser um mercenário, Spector não tem medo de fazer o que é preciso e não são poucas as vezes que vemos o personagem com sangue nas mãos já nos episódios iniciais. Só que essa violência toda é algo muito mais sugerido do que mostrado.
Os dois primeiros capítulos de Cavaleiro da Lua deixam bem claro qual é o tom adotado pelo Marvel Studios para abordar essa questão. A persona mais brutal do herói existe e ele realmente mata os inimigos e suja suas mãos de sangue, mas isso não é necessariamente exposto ao público. O que temos é Steven tendo um lapso de memória e acordando com as mãos sujas e com vários inimigos mortos ao seu lado.
Essa é uma solução que se repete algumas vezes e que mostra que Cavaleiro da Lua é uma série pesada, pero no mucho. Até mesmo a cena socando monstros é bem amenizada pelo modo como a câmera é posicionada — sem contar que matar um bicho em computação gráfica não conta.
Só que, mais uma vez, isso não fica nem perto de ser um incômodo. A promessa nunca foi fazer algo brutal ao estilo do que eram as séries da Netflix e a abordagem mais aventuresca não exige esse tipo de coisa, de modo que não faz falta.
Além disso, o foco na exploração e nessa coisa mais Indiana Jones é tão mais forte que, nos quatro primeiros episódios, mal temos grandes cenas de ação em que o Cavaleiro da Lua teve a oportunidade de mostrar sua ferocidade. São pelo menos duas grandes cenas de ação no segundo e terceiro capítulo que mostram do que o personagem é capaz, mas que não são o grande cerne da história e tampouco o ponto alto da série como um todo.
Por isso, antes de você embarcar na trama, talvez seja o caso de calibrar suas expectativas.
Mais fantástico e menos urbano
Por falar em calibrar expectativas, outro ponto que a série entrega diferente do que se esperava é a tônica da história. Ao invés daquela abordagem mais urbana que muita gente esperava — afinal, o Cavaleiro da Lua é basicamente o Batman da Marvel —, toda a jornada de Marc/Steven é baseada no mundo fantástico dos deuses egípcios.
E isso não está só na presença constante de Khonshu, mas em toda a ameaça oferecida pelo personagem de Ethan Hawke. Ele é apresentado desde a primeira cena do seriado como alguém com algum tipo de ligação com os deuses antigos e vemos ele usar esses poderes divinos de diferentes formas — e que nada têm a ver com as outras fontes mágicas que vimos antes no MCU.
É a partir disso que Cavaleiro da Lua abre também espaço para que criaturas fantásticas apareçam, como os Chacais — a criatura que a gente achou que era um lobisomem no trailer —, uma espécie de múmia e até outros deuses do panteão egípcio.
Aliás, a representação de Khonshu é outro grande acerto. A divindade não é apresentada em momento algum como algo bondoso e a sua própria relação com o protagonista é bastante dúbia, quase como se ele mantivesse o personagem como seu refém. É uma dinâmica inesperada e que funciona muito bem.
Inesperado e promissor
Como dito, ninguém tinha ideia de quem era o Cavaleiro da Lua até ontem. O personagem era desconhecido até para boa parte dos leitores de quadrinhos e, por isso, sua chegada ao MCU era uma grande incógnita. E a Marvel sabe aproveitar muito bem essa folha em branco deixada pela dúvida para criar algo novo e surpreendente.
Ainda que continue apoiado em uma trama bem simples e até bastante rasa — a velha corrida contra o tempo dos heróis para impedir que um enigmático vilão traga a vida uma entidade antiga —, o clima aventuresco e a ênfase dada ao conflito interno do personagem são pontos inesperadamente bons. A ação está presente em um nível timidamente acima da média do estúdio, mas não é isso o que importa aqui.
Oscar Isaac vive de forma excelente esses dois indivíduos tão distintos e acompanhar as o conflito entre eles é o que há de mais divertido e interessante em Cavaleiro da Lua — a ponto de a parte heroica da coisa toda ser quase desnecessária.
Talvez não seja o suficiente para fazer o personagem um fenômeno, mas é mais uma aposta certeira da Marvel que funciona muito melhor do que o esperado e que vai deixar todo mundo empolgado pelas próximas semanas.
Cavaleiro da Lua chega ao Disney+ nesta quarta-feira (30). Ao todo, a primeira temporada terá seis episódios.