Os 10 melhores filmes que têm a máfia em destaque
Por Sihan Felix • Editado por Jones Oliveira |
Existe uma quantidade considerável de filmes que têm a máfia e os mafiosos em papel de destaque e a grande maioria deles é realmente excepcional. E mesmo aqueles em que o roteiro não compensa, alguns dos maiores diretores da história já tocaram nessa temática, transformando qualquer texto em uma ferramenta para esculpir algo muito próprio.
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Fritz Lang, Howard Hawks, Nicholas Ray, Stanley Kubrick, Sergio Leone, Francis Ford Coppola, Brian De Palma, David Cronenberg e, claro, Martin Scorsese são somente alguns dos medalhões que, com seus filmes, transformaram a máfia em um gênero (ou quase isso) para o cinema, de uma maneira que fica, na prática, impossível definir uma lista curta com uma precisão além da subjetividade pessoal.
Pensando nisso, os filmes citados e brevemente resenhados a seguir servem como indicações para quem não os assistiu ou para quem gostaria de reassisti-los. Para mim, é óbvio que, dentro da história centenária do cinema, podem ser encontrados outros tão bons quanto ou até melhores, mas isso sempre dependerá de questões, na maioria das vezes, particulares.
Sem mais demora, vamos à lista dos 10 melhores filmes que trazem a máfia em destaque.
10. Scarface: A Vergonha de uma Nação
Dirigido por Howard Hawks e codirigido por Richard Rosson, o filme de 1932 é um exemplo clássico que permite até fazer um checklist em cada ponto fundamental para filmes com sua temática: guerras sanguinárias entre gangues (sanguinolência elevada no remake de 1983 dirigido por De Palma), a vida de luxo dos chefes da máfia e o anti-herói.
Por outro lado, Scarface: A Vergonha de uma Nação é uma apoteótica propaganda contra a máfia – o crime organizado estava no auge durante o final dos anos 1920 e a década seguinte – ao mesmo tempo em que Tony Camonte (Paul Muni) é construído como alguém influenciado pelo meio, caindo na vida do crime por não haver oportunidades de conhecer um outro caminho.
O final amargo e sem esperança, com uma ironia dura, é um marco: Tony, solitário, e rumando para a morte, passa por um anúncio onde é possível ler The world is yours (o mundo é seu, em tradução direta), o mesmo anúncio que o fez sorrir tantas vezes durante boa parte dos curtos 93 minutos de duração do filme.
Scarface: A Vergonha de uma Nação pode ser assistido no Looke.
9. O Grande Golpe
É muito interessante perceber como os autores dizem muito sobre si em seus filmes. Kubrick, que sempre foi tido como um perfeccionista e sedento por controle, parece encontrar um alter ego no protagonista de O Grande Golpe. Johnny Clay (Sterling Hayden) só deseja que todos façam exatamente o que foi planejado para, assim, seus planos funcionarem com perfeição.
Essa abordagem, por outro lado, dá uma liga fundamental para que a tensão do filme funcione. Isso porque todo esse controle de Johnny é, ao mesmo tempo, sua perdição, já que ninguém é capaz de agir exatamente como esperado. Essa é somente uma das questões desse terceiro longa-metragem da carreira de um dos diretores mais celebrados da história.
8. O Testamento do Dr. Mabuse
Sucessor de Dr. Mabuse, o Jogador – mas que funciona de forma independente –, O Testamento do Dr. Mabuse conta uma história envolvente, desenvolvida com uma consciência estética que estava além do seu tempo e, acima de tudo, convincente, o que é uma marca dos filmes de Fritz Lang.
É fato que o cinema noir prosperou em solo americano, mas se ele tem raízes sólidas, elas estão no cinema germânico, e se a questão é encontrar as evidências desse fato não há a necessidade de ir além do filme em questão.
De quebra, O Testamento do Dr. Mabuse acrescentou técnicas de edição que serviriam como modelo para o cinema que viria nos anos seguintes e, mesmo sendo o segundo trabalho de Lang em um filme falado, o som é algo para lá de genial, numa demonstração de criatividade fantástica coordenada pelo icônico diretor alemão.
7. Amarga Esperança
Um filme de máfia onde a máfia está a mercê do romantismo. Talvez não exista como definir melhor o diretor Nicholas Ray do que como o fez François Truffaut: “poeta do crepúsculo”. Somente Ray, com seu apuro técnico – que musicalmente o colocaria no período Barroco –, conseguiria transportar um romance tão emocionalmente puro para uma história sobre desilusão, sobre permanecer em um modo defensivo por ter a certeza que o mundo lá fora terá a necessidade de atacar.
Keechie (Cathy O'Donnell) e Bowie (Farley Granger) são excluídos a ponto de serem protagonistas de uma história sobre insegurança, mas, acima de tudo, sobre a necessidade do outro, de amor.
6. O Pagamento Final
Se em sua versão de Scarface De Palma transformou Tony (Al Pacino) em um sujeito através do qual as ambições levavam somente ao poder e suas derivações menores (como a luxúria e a ganância) – desconstruindo um pouco da força social da primeira versão e alimentando tudo com mais violência –, em O Pagamento Final, o diretor torna tudo mais complexo.
Carlito (Al Pacino) não somente cresce e se torna mau, ele amadurece ao nível de conseguir enxergar a si mesmo de fora e, assim, perceber seus erros e buscar fugir de um fim trágico tão comum para aqueles em sua posição.
Mas o roteiro de David Koepp (um dos roteiristas mais emblemáticos de Hollywood há mais de duas décadas) é taxativo: a saída do mundo do crime não pode ser exatamente criada. Cena a cena, Carlito entende que o seu destino pode já estar selado.
O Pagamento Final está no catálogo do Star+.
5. Senhores do Crime
Em uma entrevista na época do lançamento, o diretor David Cronenberg implorou que a trama não fosse revelada. Ele sabia que spoilers seriam fatais na absorção do roteiro de Steven Knight por parte do público. Não é para menos: Senhores do Crime não é um filme sobre meios ou fins, mas sobre inícios e motivações.
Durante boa parte do filme, Cronenberg esconde os porquês da história com uma direção absolutamente hipnótica e, ao mesmo tempo, enérgica. No final das contas, trata-se de um filme que vai muito além de crimes e da máfia (russa no caso). É uma viagem pelos mistérios da natureza humana com uma pegada que somente Cronenberg conseguiria ceder.
4. Os Intocáveis
Os Intocáveis não é somente um filme que traz um dos principais mafiosos da história, Al Capone, sendo perseguido em meio a um tempo de corrupção por um agente federal e uma equipe escolhida a dedo. É um concerto regido por De Palma (ele novamente), protagonizado por Kevin Costner e antagonizado por Robert De Niro.
O elenco ainda tem nomes como Sean Connery e Andy Garcia e, como compositor da trilha sonora, ninguém menos que Ennio Morricone. Um filmaço que merece ser redescoberto com muita atenção – assim como praticamente todos os filmes do seu diretor.
Os Intocáveis pode ser assistido pelos assinantes da HBO Max.
3. Os Bons Companheiros
Uma obra-prima de Scorsese que se utiliza da máfia para falar sobre moral, culpa e ética. Não há, em Os Bons Companheiros, qualquer questão simples. Não existe o estabelecimento do bem e do mal como opostos. Aqui, tudo é construído para que os significados estejam de acordo com o meio e o meio, por sua vez, é quem comanda os códigos de conduta.
O herói que se sente culpado por não defender as regras da máfia é, aqui, os dois lados da mesma moeda. Goodfellas é, talvez, o filme mais estruturalmente complexo de Scorsese e é, sem dúvida, aquele com a melhor atuação da carreira de Joe Pesci.
Os Bons Companheiros está no catálogo da HBO Max.
2. Era uma Vez na América
Um épico com a máfia centralizada dirigido pelo lendário Sergio Leone. Para assistir Era uma Vez na América é necessária alguma concentração por dois motivos: o primeiro é o desenvolvimento do roteiro de Leonardo Benvenuti, que percorre mais de 50 anos e, durante esse tempo, os personagens ganham corpo e vida própria; o segundo é que tudo, a depender da experiência pessoal, pode ser sentido como um sonho (ou pesadelo) ou como uma memória.
É o último dos sete longas-metragens de Leone e, provavelmente, aquele com o maior peso dramático e com maior domínio de sua própria assinatura – tão bem sedimentada nos clássicos do western que compõem a trilogia dos dólares.
Era uma Vez na América pode ser assistido no Prime Video e no Globoplay.
1. Trilogia O Poderoso Chefão
O mais interessante de O Poderoso Chefão e suas duas sequências não é a técnica irretocável, os desenvolvimentos dos personagens que são compostos a partir do figurino até as gesticulações e os roteiros que desfilam sem qualquer problema. O mais impressionante é como tudo isso junto à direção de Coppola convida o público a se sentar à mesa de um mafioso, comer da sua comida, beijar a sua mão e considerar tudo dentro dos seus próprios termos.
A abertura do primeiro, inclusive, com Vito Corleone (Marlon Brando) discutindo a aproximação de Bonasera (Salvatore Corsitto), é uma introdução que parece resumir toda essa idealização do diretor – introdução que nem estaria como tal até decisão tomada na pós-produção.
Nesse sentido, se Don Corleone surge como um personagem simpático e até admirável – e durante todo o primeiro filme esse criminoso faz praticamente nada que possa realmente ser desaprovado –, a decadência de sua moral nasce do seu próprio filho.
Essa dissolução do crime pelo crime e, mais tarde, do crime pela religião (muitas vezes, tão criminosa quanto a máfia – ou mais) é algo que serve como um estudo de humanidades: não no sentido de estudar o homem, mas em como as nossas reações, decisões e pensamentos influenciam e cadenciam a vida dos outros.
Metalinguisticamente, a trilogia de Coppola pode interferir até mesmo no pensar do próprio público, fazendo o cinema transcender e seguir literalmente vivo.
A Trilogia de O Poderoso Chefão está toda disponível na HBO Max.
Bons e ruins filmes para nós!