5 filmes essenciais do terror italiano que você precisa assistir
Por Laísa Trojaike • Editado por Jones Oliveira |
Gostou muito do que viu na Trilogia Rua do Medo e está querendo se preparar para o lançamento de Um Clássico Filme de Terror? Então vem com a gente para conhecer uma das raízes mais importantes (e menos comentadas) do terror pop. Conhecido como giallo, o subgênero italiano do terror influenciou muito do que vimos ao longo de décadas e tem, hoje, uma retomada nos cenários submersos em luzes neon.
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Talvez você já esteja familiarizado com os termos da língua inglesa pulp fiction e penny dreadful, que (não) coincidentemente são nomes de, respectivamente, um filme de Quentin Tarantino e de uma série criada por John Logan. Ambos os termos denominavam histórias de grande apelo popular e publicadas em material barato, geralmente focadas em gêneros fantásticos ou com grandes doses de ficção.
Na Itália, existiam os giallos, publicações semelhantes a essas, mas que traziam em sua maioria histórias de detetive e de serial killers. Com o tempo, a literatura influenciou o cinema e muito do que você gosta no terror contemporâneo pode ter raízes lá em 1960 ou 1970, quando floresceu esse subgênero do terror italiano. Os nomes mais cultuados desse movimento são os de Mario Bava e de Dario Argento, embora outros nomes sempre devam ser lembrados: Francesco Barilli (O Perfume da Dama de Negro), Luigi Bazzoni (A Mulher do Lago), Massimo Dallamano (O quê Vocês Fizeram com Solange?), Ruggero Deodato (que acabou no gore com Holocausto Canibal), Luciano Ercoli (A Morte Caminha de Salto Alto), Lucio Fulci (Pavor na Cidade dos Zumbis), entre muitos outros.
Essa citação não deve servir apenas como um sumário que complementa a lista a seguir, podendo servir também como uma boa amostra dos excelentes e cativantes títulos que os giallos recebiam — e que ficam ainda mais incríveis no original, já que a sonoridade do italiano contribui para deixar os títulos ainda mais poéticos ou apelativos. Depende do caso.
Infelizmente, esses filmes não são mais tão populares e seu espaço online é reduzido. Ainda assim, quando o título puder ser encontrado em alguma plataforma de streaming ou VOD, faremos as indicações e seu trabalho será apenas clicar no play e aproveitar essa viagem na história do terror.
5. Seis Mulheres para o Assassino
6 donne per l'assassino (1964) também tem um título encantador em inglês, Blood and Black Lace, e o claro apelo sexual vai além do título, perpassando toda a estética do filme e de todos os gialli (plural de "giallo"): as mulheres são sempre pertencentes a certos estereótipos de beleza, morram elas ou não, e o objetivo era ver essas mulheres sendo assassinadas em um fetichismo macabro que se estende ao longo da história do terror, passando a ser questionado sobretudo pelo terror pós-Pânico, bem mais crítico sobre os estereótipos que propaga.
Esse é um dos títulos mais cultuados de Mario Bava e mostra “um assassino mascarado” que “assassina brutalmente as modelos de uma escandalosa casa de moda em Roma”. A ideia de um assassino mascarado pode ser familiar para o espectador contemporâneo, mas vale lembrar que slashers como Halloween são netos dos gialli.
4. Uma Lagartixa num Corpo de Mulher
Una lucertola con la pelle di donna (1971)é dirigido por Lucio Fulci, mais conhecido por seus trabalhos de zumbi, como Pavor na Cidade dos Zumbis (1980), Zumbi 2 - A Volta dos Mortos (1979) e A Casa dos Mortos Vivos (1981), que também podem ser considerados gialli, ainda que não sejam essencialmente filmes de detetives e assassinos. Na trama, “a filha potencialmente perturbada de um político britânico é acusada de matar seu vizinho hedonista depois de testemunhar o assassinato em um sonho”.
Essa é uma obra que mostra a influência do suspense fantástico (mais especificamente do terror hitchcockiano de filmes como Os Pássaros) na construção da tensão do giallo. O cinema se retroalimentando diante dos nossos olhos: o suspense estadunidense influencia o giallo italiano, que faz nascer o slasher, uma corrente que segue forte e viva, lançando grandes títulos até hoje — quando provavelmente encontra seu caminho para uma linguagem cada vez mais refinada e mais afastada do trash, de onde tanto bebeu também.
3. A Maldição do Demônio
Gótico, preto e branco e um pouco distante dos padrões mais exploitation de muitos gialli, La maschera del demonio (1960) é outro grande título do mestre Mario Bava e segue sendo discretamente referenciado como um código reconhecido provavelmente apenas pelos fãs mais aficionados do gênero. Este também é um título que marcou a carreira de Barbara Steele, até hoje considerada uma das musas do terror. E tem mais: a maravilhosa esteve no elenco de dublagem da série animada Castlevania, na qual interpreta a personagem Miranda.
Embora a cor seja um elemento bastante característico do giallo, o preto e branco de A Maldição do Demônio não deve ser ignorado. A direção de arte e a fotografia são espetaculares por serem pensadas para potencializar o terror através dos contrastes e da iluminação, com todo o set construído em tons de cinza. Além disso, o filme também serve como um marco do cinema gótico e ainda presta uma homenagem à raiz disso tudo, que é o expressionismo alemão (mais raiz do terror do que isso, só Georges Méliès e a literatura).
2. Prelúdio Para Matar
Profondo rosso (1975) evoca Hitchcock e diversos gialli nas referências, mas a estética é a influência de muitos outros filmes de assassinato que adoramos. O vermelho evocado pelo título original (“vermelho profundo", em tradução livre) se repete em filmes como os de Pedro Almodóvar e pôde ser visto ainda em filmes como O Maníaco (1980), Kill Bill: Volume 1 (2003) e Vestida para Matar (1980).
Com um boneco instantaneamente assustador, Prelúdio Para Matar demonstra a maturidade de Dario Argento pouco antes de ele embarcar na trilogia iniciada por Suspiria. Quando dirigiu esta obra-prima, o cineasta já havia passado pela direção de outros títulos que hoje também são considerados gialli clássicos: O Pássaro das Plumas de Cristal (1970), O Gato de Nove Caudas (1971) e Quatro Moscas Sobre Veludo Cinza (1971). Todos com títulos no mínimo curiosos.
Prelúdio Para Matar pode ser assistido no Oldflix.
1. Trilogia das Mães
No topo da lista não apenas um, mas três filmes: Suspiria (1977), A Mansão do Inferno (1980) e O Retorno da Maldição: A Mãe das Lágrimas (2007), todos de Dario Argento. Cada um dos filmes apresenta uma Bruxa Mãe (Mater Suspiriorum, Mater Tenebrarum e Mater Lachrymarum), mas cada filme tem sua própria história e atmosfera, quebra que pode ser sentida com peso na terceira parte, lançada muitos anos após os dois primeiros filmes.
Claro que a indicação é para assistir à trilogia toda e tirar suas próprias conclusões, mas vamos focar em Suspiria, que foi o primeiro da trilogia e responsável por colocar a iluminação super-colorida e nada justificada como um dos marcos estéticos do giallo de Argento (inspirado em Bava, claro). A fotografia que aproveita iluminações mais baratas e relativamente fáceis de serem montadas em comparação às “realistas” ganha uma nova vida através dos slashers contemporâneos que absorveram também a moda da fotografia neon sedimentada pela franquia John Wick no cinema.
Ainda além, vale lembrar que o cineasta italiano Luca Guadagnino, de Me Chame pelo Seu Nome, ousou fazer o remake que muitos fãs acreditavam ser impossível: em 2018, ele lançou seu Suspíria: A Dança do Medo, com Chloë Grace Moretz (Deixe-me Entrar), Tilda Swinton (Doutor Estranho) e Dakota Johnson (Cinquenta Tons de Cinza), e deu um tapa na cara da sociedade. O remake não apenas é super respeitoso com o original, como atualiza a narrativa e deixa ela ainda mais assustadora para o público contemporâneo... tudo isso embebido em um profondo rosso inesquecível.
Suspiria pode ser assistido no Amazon Prime Video e no Oldflix; A Mansão do Inferno está no catálogo do Looke; e O Retorno da Maldição: A Mãe das Lágrimas pode ser comprado ou alugado no Looke. O remake Suspíria: A Dança do Medo está disponível para os assinantes do Amazon Prime Video.