Crítica | Umbrella Academy acerta na construção divertida de heróis imperfeitos
Por Natalie Rosa |

A segunda temporada de The Umbrella Academy acaba de chegar à Netflix, trazendo 10 episódios que mostram mais uma batalha para salvar o mundo do apocalipse. A série é uma adaptação dos quadrinhos de Gerard Way, que também é vocalista da banda My Chemical Romance, e de Gabriel Bá, quadrinista brasileiro, e conta a história de um grupo de sete jovens com superpoderes que foram recrutados por um gênio cientista.
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No final da primeira temporada, vemos que a missão de proteger a Terra não funcionou, com Vanya (Ellen Page) atacando a Lua com todo o seu poder, e fazendo com que os fragmentos atingissem o planeta. A solução, então, seria fazer uma última viagem no tempo, segundos antes da destruição total, o que acabou levando o grupo para o início da década de 1960.
Atenção: está crítica contém spoilers da segunda temporada de The Umbrella Academy
Inicialmente, eles caíram no passado separadamente e, por isso, seguiram tentando levar vidas normais até que se reencontraram e descobriram que o mundo estava sendo ameaçado de novo. O melhor do grupo Umbrella Academy é que os personagens, por mais poderosos que sejam, não são retratados como extremamente incríveis e bons no que fazem, mas sim como desastrados, com muitos erros e defeitos, entre outras características humanas.
Isso faz com que as missões quase nunca sejam bem sucedidas, trazendo diversas reviravoltas divertidas e que não os afastam das pessoas comuns, cada um se desenvolvendo da forma que mereciam desde o início. Klaus (Robert Sheehan), por exemplo, teve todas as suas características de personalidade bem desenvolvidas na segunda temporada, se tornando o líder de um culto. Destino mais perfeito impossível para o irmão mais caricato.
Klaus sempre está com Ben (Justin M. Min), que apesar de aparecer na trama apenas em sua versão de espírito, a sua participação é importante nos fatos. Nesta temporada, ele ganha um pouco mais de atenção com seus desejos humanos e o medo de “seguir para a luz”, concretizando de vez a sua morte. No entanto, este está longe de ser o seu final na série.
Allison (Emmy Raver-Lampman, deixa o seu poder de lado e faz parte de um movimento que prega pela libertação dos negros no país, que naquela época sofriam opressões absurdas e descaradas que são muito bem explicadas na trama. Exemplos dessa opressão são colocadas em prática, quando diversos locais aparecem com placas que proíbem a entrada de negros. A personagem acaba tendo um papel muito importante naquele movimento que, com certeza, gerou um impacto no futuro.
Ainda falando sobre preconceitos, Vanya foi atropelada por uma família típica do interior dos Estados Unidos e acaba se apaixonando por Sissy (Marin Ireland), que sofre com abusos psicológicos do marido extremamente conservador e com quem tem um filho. O garoto, claramente, possui alguma condição que o torna incapaz de falar e se comunicar, o que naquela época ainda não havia diagnóstico, mas que se aproxima de autismos mais graves.
Com Luther, a série abraça a bizarrice do corpo de gorila do rapaz e o transforma em um lutador que é usado por um apostador para ganhar dinheiro. Ele também largou toda a pose de herói que tinha na primeira temporada, mostrando toda a indignação pela decepção com o pai. Diego (David Castañeda) foi parar no manicômio e, lá, conhece a personagem mais interessante da temporada: Lila (Ritu Arya), uma jovem que parece ser uma pessoa ordinária, mas que se revela, no final, mais poderosa que eles todos. Ela também está relacionada a uma das personagens mais irritantes que, nesta temporada, assume de vez o papel de vilã: a sociopata gestora da Comissão, interpretada por Kate Walsh.
Juntos, Lila e Diego formam uma dupla que protagoniza os momentos mais cruciais da trama, que se intensifica com a participação de Five e Luther. Entre desconfianças e conflitos normais que só quem tem irmãos sabe quais são, a série traz, mais uma vez, uma proximidade com o mundo real — mesmo que este seja absurdo. Falando em Five, a teoria de que ele seria o Reginald, já que a série faz tantas viagens no tempo, caiu por terra. Mais uma vez, inclusive, não descobrimos o seu nome real, mas conhecemos a sua versão mais idosa, e novamente ele acaba se tornando a cabeça de todo o grupo.
A série brinca com a viagem no tempo de forma mais complexa, mas longe de ser parecida Dark, também produção original da Netflix. Ao contrário dela, The Umbrella Academy não exige que especulações mais detalhadas, teorias e encaixe de peças mereçam muita atenção, pois a trama foi criada para trazer uma forma mais desconstruída da ação já conhecida por produções da Marvel e da DC, por exemplo. Basta sentar, assistir e curtir.
Não é difícil imaginar a série da Netflix nos cinemas, basta aumentar mais o volume da televisão, notebook ou smartphone para conseguir mergulhar no universo criado por Gerard Way, que não só conquista pelos atrativos de cada personagem e da história em si, como da direção de arte e da trilha sonora. Mais uma vez a série traz músicas com o impacto na medida certa para os acontecimentos, como a versão sueca de Hello, da cantora Adele, que é reproduzida quase que completa em um momento de drama dos irmãos suecos, que também não novos personagens.
Definitivamente, a segunda temporada de The Umbrella Academy parece ter se encontrado ainda mais no seu propósito e promete desenvolver novas complexidades entre personagens e suas histórias, além de questões não resolvidas e viagens no tempo, que no final do último episódio parece ter chegado a uma nova dimensão.
As duas temporadas de The Umbrella Academy estão disponíveis na Netflix com 10 episódios cada.