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Crítica | The Outpost traz o homem acima do soldado

Por| 25 de Julho de 2020 às 17h00

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Screen Media
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Ainda sem título nacional definido, The Outpost segue uma linha que pode ser bem clara desde o princípio, uma perspectiva que parece dizer que a guerra em si não é tão importante quanto os homens que são enviados para o confronto. Não é, portanto, uma produção que está disposta a revelar todos os horrores de uma batalha do tipo de maneira abrangente. A visão do diretor Rod Lurie (de Sob o Domínio do Medo – filme de 2011) é de muita força unitária, reforçando até mesmo a localização da batalha: um local cercado por montanhas, um alvo fácil para um ataque vindo de cima.

Ali, como se estivessem sendo cozidos em uma panela de pressão, 53 combatentes do exército dos EUA e dois conselheiros militares da Letônia tentam envolver habitantes locais em projetos de desenvolvimento comunitário. Lurie, que é israelense, mostra-se comprometido em não somente fazer uma homenagem aos heróis de guerra, mas parece constantemente preocupado em expor a humanidade de cada um deles. Assim, a partir do roteiro de Eric Johnson (de O Dia do Atentado), o diretor arrisca-se na tentativa de dar voz e complexidade a cada personagem.

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Cuidado! A partir daqui o texto pode conter spoilers.

Humanizando nomes

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Se, por um lado, essa busca por dar complexidade individual é uma tarefa que pode acabar surtindo o efeito contrário, esvaziando qualquer desenvolvimento multidimensional específico, por outro pode criar uma ligação com o espectador. Para isso, desde o início, a intenção de firmar os nomes e as personalidades dos militares é demonstrada por intervenções de letreiros com o posto e nome de cada um, além de todas as cenas introdutórias carregarem, já, o peso da personalidade particular.

Em busca de uma mise-en-scène íntima, Lurie, sem demora, mostra o quanto seus personagens estão cercados por uma imponente formação da natureza e se volta justamente para a intimidade dos homens. Aproveitando o roteiro de Johnson para reforçar a sua visão, o diretor permite que diálogos aparentemente superficiais – com piadas internas e situações do dia a dia – humanizem tanto os superiores quanto os soldados. Aliás, até mesmo brigas internas que poderiam ser supérfluas ganham uma força dramatúrgica através da câmera de Lurie, que, nestas, procura investir em contra-plongées (planos filmados de baixo para cima) que engrandecem situações que, para a batalha em si, não são mais do que irrelevantes.

De toda forma, pode existir um problema pontual na abordagem da direção, porque, na tentativa de dar protagonismo a todos, em alguns momentos o público pode se ver um tanto quanto perdido em definir quem é quem. Essa questão, inclusive, pode ser problemática até em nível da própria idealização, visto que, caso não surta o esperado efeito de ligação e identificação com o espectador, aqueles homens passam a ser somente nomes aleatórios. A batalha transforma-se, então, em uma sopa de letrinhas, no meio da qual rostos mais conhecidos (como os de Orlando Bloom e Scott Eastwood – este que, ironicamente, interpreta o Sargento Clint Romesha) ou não lutam para se destacar e para ter seus nomes lembrados – o que é reforçado por, obviamente, vestirem, na maior parte do tempo, uniformes praticamente idênticos.

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Uma sensação

Apesar de poder chegar a resultados bem diferentes, a depender de quem o assistir, The Outpost é um dos raros filmes que trazem a intenção acima do seu efeito real. Não por não conseguir chegar a um bom resultado, mas por ser realizado com a coragem de fugir do óbvio. Nesse sentido, os atos heroicos do filme não são expostos com grandeza, não existe uma trilha sonora musical arrebatadora (o trabalho do compositor Larry Groupé é quase que minimalista)… Lurie parece compreender que está lidando com vidas e com mortes, evitando, inclusive, investir na pessoalidade dos talibãs, não os estigmatizando e nem os transformando em monstros. Na verdade, eles parecem uma força da natureza junto às montanhas que cercam os militares e, quando começam a descer em ataque, são semelhantes a uma avalanche a ser superada.

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Sem romantizar a guerra, enfim, o roteiro adaptado do livro não-fictício de Paul Tamasy e Jake Tapper expõe o ambiente de terror enfrentado por aqueles homens dentro de um caldeirão. O valor humano buscado pela direção – dimensionado pela decupagem que raramente se abre para planos gerais, permanecendo muito perto dos personagens – aumenta as chances de o filme demonstrar o quanto, muitas vezes, jovens com toda uma vida pela frente são enviados para guerras perdidas (como anuncia o letreiro inicial). The Outpost, por esse ângulo, talvez esteja questionando se os sacrifícios daquelas (e de tantas outras) vidas individuais valeram (e valem) a pena e reforça essa sensação durante os créditos finais, com imagens e depoimentos reais.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech