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Crítica | Se você abraçar o absurdo da proposta, Ted Lasso é uma série bem legal

Por| 10 de Fevereiro de 2021 às 09h30

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Antes de mais nada, é preciso explicar qual é o mote de Ted Lasso. Vamos lá:

Um técnico de futebol americano (personagem que dá o nome a série, interpretado por Jason Sudeikis) é convidado para dirigir um pequeno time de Londres (o fictício AFC Richmond), que disputa a Premier League - a liga inglesa do verdadeiro futebol. Ao lado de seu fiel escudeiro, Coach Beard (o bom Brendan Hunt), ele mal conhece as regras do esporte bretão e as particularidades do campeonato. Além disso, é alvo de chacota da imprensa e da torcida e, de quebra, a atual dona do clube (Hannah Waddingham) quer afundar a agremiação, em vingança contra o ex-marido, que a traía constantemente e é fanático torcedor da equipe.

A premissa da série parece absurda, não? Bom, para falar a verdade, é mesmo. Principalmente se considerarmos a origem dela: Ted Lasso é um personagem criado por Sudeikis para promover a Premier League no NBC Sports, divisão esportiva dos canais NBC. Em 2013, a emissora pagou US$ 250 milhões pelos direitos do torneio para transmiti-lo nos EUA — uma fortuna se considerarmos que o Tio Sam não é dos mais afeitos ao nosso futebol.

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Assistiu? Com isso em mãos, Sudeikis viu que o material tinha potencial para virar um projeto mais ambicioso e convenceu o Apple TV+ a produzir uma temporada de uma série com o personagem. E o que podia ser um desastre logo no começo do jogo, virou um daqueles golaços inesperados: se você abraçar o absurdo da proposta de Ted Lasso, vai assistir a uma das séries mais legais de 2020.

Trabalho de equipe

No primeiro capítulo da série, a impressão inicial que se tem é: Ted Lasso é aquele caipirão norte-americano, gente boa, e que, apesar da ignorância gritante sobre o universo do nosso futebol, entende muito sobre pessoas. E com isso ele pode tirar o melhor de cada jogador do pequeno Richmond dentro do campo. Ou seja, é algo que você já viu em uma infinidade de filmes e séries sobre esportes. Mais clichê, impossível.

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No entanto, essas impressões vão se desfazendo ao longo dos dez episódios da primeira temporada. Ted Lasso tem muito mais entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia. Todos os seus personagens têm camadas, que vão sendo mostradas ao longo da série, com cada um tendo tempo suficiente para contar a sua história e para que você entenda suas motivações — concordando com elas ou não.


Além disso, o humor, que é a base da série, é trabalhado de forma bastante sensível nos dez capítulos: você não encontrará aquela piada cortante, rasgada, que vai lhe fazer se dobrar de tanto rir. No entanto, elas estão lá, bem encaixadas a cada quatro, cinco minutos, umas mais escancaradas, outras mais sutis (e divertidas), que aparecem em segundo plano, naquela frase entrecortada.

E junto com o texto bem escrito estão os bons atores, que abraçam seus personagens com carinho. Sudeikis é bastante divertido como o simpático Lasso, cujo jeito caipirão boa praça vai conquistando a todos ao seu redor, inclusive os mais resistentes. Isso vale para a dona do time, Rebecca Welton (Wassingham); os jogadores do elenco, como o jovem talentoso e mascarado Jamie Tartt (Phi Dunster) e o veterano temperamental Roy Kent (Brett Goldsteins); o doce roupeiro Nathan “Nate” Shelley (Nick Mohammed); a namorada / modelo / influencer Keeley Jones (Juno Temple) ou o cínico jornalista Trent Crimm (James Lance), entre outros. Todos com arcos muito bem definidos.

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Um diferencial chamado Bill Lawrence

E se Ted Lasso dá muito certo, é porque o criador do personagem soube se cercar de gente competente — e bem experiente em sitcons — para fazer a série. Entre eles estão Joe Kelly (Saturday Night Live e How I Met Your Mother), Brendan Hunt (Key and Peele e Comedy Central News) e, principalmente, Bill Lawrence. E é esse último que dá o tempero especial à atração.

Isso porque Lawrence é criador de diversas séries bem-sucedidas na TV norte-americana (e que já passaram no Brasil). Entre elas, estão Spin City, Cougar Town e a melhor e mais bem-sucedida de todas: Scrubs. E se você acompanhou cada uma delas, vai reconhecer em Ted Lasso uma característica inerente da escrita de Lawrence: sim, há muito espaço para risada. Mas também há uma dose bem regulada de drama.

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Isso significa que boa parte dos personagens de Ted Lasso também tem os seus demônios para enfrentar e isso não é escondido na série. O treinador precisa lidar com a crise do seu casamento e todas as consequências que isso traz e também que a sua filosofia de "ser uma pessoa melhor é mais importante que vencer" não funciona 100% do tempo; a dona do time precisa encarar o seu envelhecimento, que é alvo de escárnio por parte dos impiedosos tabloides britânicos, que a consideram uma mulher amarga e rancorosa ao ser largada pelo marido "garanhão"; há ainda o duelo geracional entre os jogadores do time, as sabotagens que Welton faz contra o próprio clube e o fato de que o simpático Richmond é um saco de pancadas da Premier League, sempre assombrado pelo rebaixamento.

E Bill Lawrence sabe como poucos balancear esses tons de humor e drama e é isso que se vê em Ted Lasso. Não há uma dose exagerada de piadas para você ver os personagens apenas como caricaturas. Mas também não há um excesso dramático, de forma que você se esqueça que está assistindo a uma comédia. Tudo é muito bem equilibrado.

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Sorriso no rosto 

Com tudo isso, Ted Lasso é uma série que vai contra todas as expectativas e se mostra muito legal. Claro, ela usa diversos clichês das sitcons americanas e alguns dos desfechos são previsíveis. Mas também há espaço para boas surpresas. E o futebol aqui é apenas o pano de fundo para contar uma história com fundo bastante otimista — ainda que ela mostre que o caminho não seja inteiramente livre de percalços.


No final das contas, Ted Lasso é aquela série feel good, que você assiste com um sorriso no rosto e que funciona como um bom escape para problemas do mundo por algumas horas. Bom elenco, texto bem escrito e direção segura. E esse tipo de atração estava fazendo falta em nosso dia a dia — principalmente em tempos duros como esses —, tanto que ela caiu no gosto da crítica e foi indicada para dois Globos de Ouro: "Melhor Série de Televisão - Musical ou Comédia" e "Melhor Ator em Série de Televisão - Musical ou Comédia" para Jason Sudeikis.

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Ah sim, antes que eu me esqueça: Ted Lasso já tem outras duas temporadas garantidas no Apple TV+. Afinal, uma série cuja última cena é embalada ao som de Non, je ne regrette rien ("Não me arrependo de nada"), da lendária Édith Piaf, merece todo o respeito.

Você assiste aos 10 episódios da primeira temporada de Ted Lasso no Apple TV+.