Crítica | Songbird piora a pandemia da COVID para ser um thriller de mau gosto
Por Natalie Rosa • Editado por Jones Oliveira |
No momento em que esta crítica foi escrita, estávamos em um dos piores momentos da pandemia, que já dura mais de um ano aqui no Brasil. Ainda que a vacinação já esteja acontecendo para os grupos de risco, as infecções pela COVID-19 não estão diminuindo e novas variantes do coronavírus apareceram para deixar a situação ainda mais perigosa.
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Algumas séries de televisão, como Grey's Anatomy e This Is Us, já aderiram à temática da pandemia para seus novos episódios, basicamente incluindo a rotina do "novo normal" na vida dos personagens, tanto pessoal quanto profissional. Mas ainda é muito cedo para tocar no assunto de uma forma mais brusca, uma vez que o número de vítimas fatais da COVID-19 é extremamente alto, assim como o número de pessoas que tiveram suas vidas afetadas severamente pela pandemia.
Algumas pessoas, no entanto, acreditavam que era o momento ideal para lançar um filme sobre a pandemia, trazendo um cenário ainda mais desastroso e destruindo qualquer sentimento de esperança para o futuro. Estamos falando de Songbird, que estreou no ano passado, no exato ano do começo dessa nova rotina assustadora.
Atenção: esta crítica contém spoilers do filme Songbird!
Em Songbird, que se passa em um futuro nada distante, em 2022, a situação está ainda mais impactante do que o cenário atual em que vivemos. O vírus passou por tantas mutações que se tornou extremamente contagioso e mortal, matando mais de 110 milhões de pessoas em todo o planeta, e somente 0,01% da população é imune à doença. Aqueles que não podem ser infectados precisam usar uma pulseira de identificação, o que acaba se tornando um fator importante para o desenrolar da história, que aborda questões de corrupção como fatores que agravam a situação ao mesmo tempo em que pode ser um escape da realidade.
A trama também acaba focando no romance, com a tentativa de contar uma linda história de um casal formado por Nico, interpretado por K.J Apa, mais conhecido pelo seu trabalho na série adolescente Riverdale, e por Sara, personagem de Sofia Carson. Enquanto ele é imune e trabalha como entregador, andando pelas ruas com sua bicicleta e sem precisar de qualquer equipamento de proteção, ela vive com Lita (Elpidia Carrillo), uma mulher de idade que eventualmente acaba se infectando. Todo esse romance, no entanto, não comove e acaba passando por irrelevante enquanto problematizamos outras coisas.
Os outros enredos de Songbird também não são muito atrativos, principalmente por serem pouco desenvolvidos e irem direto ao assunto, já que a duração do filme é menos de uma hora e meia. O longa traz Demi Moore no elenco, como a personagem Piper, que é esposa de William, personagem interpretado por Bradley Whitford, que trabalham com a falsificação das pulseiras de imunização e a venda ilegal. Esses crimes formam uma rede que conecta a fonte com os traficantes e, eventualmente, com o protagonista Nico.
Outro enredo fraco é o de May (Alexandra Daddario) com Dozer (Paul Walter Hauser), uma cantora e um veterano de guerra que se conhecem pela internet e desabafam suas frustrações com a vida. Todas as questões, porém, são tão rasas e pouco desenvolvidas que se tornam menos do que coadjuvantes em toda a produção, com a conexão com o enredo principal sendo um mero detalhe. Talvez, o único acerto em toda essa história seja eles se tornam os responsáveis pela execução do "chefão" do esquema de corrupção das pulseiras.
O longa cria um futuro distópico sobre o coronavírus, mas traz uma data muito perto da atual e tecnologias completamente irreais, como o escaneamento do vírus através de um programa no celular. Basta ligar a câmera do aparelho para que ele detecte se o vírus está presente em seu corpo ou não. Se estiver, um grupo de policiais irá imediatamente à residência do infectado para capturá-lo. O cenário é de um completo caos, e a doença chamada COVID-23 é praticamente uma sentença de morte. Absolutamente tudo o que não precisamos no momento atual.
É impossível não assistir ao filme e não se questionar se todos os protocolos de segurança foram seguidos durante a gravação do longa, que aconteceu em 2020, mesmo ano em que começamos a viver esse pesadelo. Já em relação à ficção, vemos os cuidados sendo seguidos com muito mais intensidade do que hoje em dia, deixando tudo ainda mais aterrorizante. Mesmo que o casal de protagonistas da trama consigam ficar juntos, a história chega ao fim sem despertar sentimentos positivos ao espectador, que busca na ficção uma válvula de escape da realidade. Talvez ainda seja muito cedo para fantasiar em cima do coronavírus.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.