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Crítica Mestres do Universo | Uma parte 2 para agradar a gregos e troianos

Por| Editado por Jones Oliveira | 25 de Novembro de 2021 às 18h20

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Divulgação/Netflix
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Mais do que conquistar o mundo ou qualquer ladainha que o valha, o grande objetivo de um vilão é superar o herói. A relação entre essas duas forças é tão complementar que um não sabe viver sem o outro, o que os força a viver nesse ciclo vicioso sem fim. E é justamente essa a força motriz da segunda parte de Mestres do Universo: Salvando Eternia.

A primeira metade da temporada da nova animação da Netflix já havia levado a história nesse sentido, mostrando o que aconteceria caso o mundo vivesse sem o He-Man e sem a magia de Grayskull. Contudo, os novos episódios vão além e mostram o que aconteceria caso o vilão realmente conquistasse a Espada do Poder e se tornasse o novo campeão de Eternia. Nesse caso, o que resta ao homem que tem tudo?

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Em Batman: Cavaleiro das Trevas, há uma fala do Coringa que explica bem toda a tônica dos novos episódios de Mestres do Universo: ele se compara com um cachorro que persegue carros e que, no fim das contas, não tem ideia do que faria caso alcançasse um. E é justamente isso o que vemos com o Esqueleto — e o que torna a conclusão de Salvando Eternia tão interessante.

Os verdadeiros protagonistas

Se a primeira parte do desenho foi bastante criticada por ter escanteado o He-Man da história, os novos episódios dão bastante destaque ao herói, principalmente em como o Esqueleto depende dessa figura do campeão de Eternia para existir. Ao conquistar a Espada do Poder e ter acesso a toda magia do universo, o vilão ainda segue obcecado por seu inimigo e arranjando desculpas para continuar a antagonizá-lo. Mesmo poderoso o suficiente para obliterar qualquer ameaça, o He-Man ainda é o seu foco.

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Essa abordagem dá a Mestres do Universo uma camada que o desenho original nunca apresentou. Até então, tudo o que tínhamos visto desse mundo era algo muito superficial e infantil — afinal, a trama era apenas uma premissa para vender brinquedos — e a história nunca saiu do maniqueísmo básico. Assim, o que Salvando Eternia faz é evidenciar o quão pobre são as motivações do Esqueleto e usar isso para dar uma nova complexidade ao personagem.

O vilão passou tanto tempo tentando derrotar o herói que, quando finalmente consegue, ele não sabe mais o que fazer. É a metáfora do cachorro atrás do carro apresentada pelo Coringa: o que fazer depois de alcançar aquilo que você acreditava ser impossível? No caso, o Esqueleto segue criando novas rodas para perseguir, o que mostra que ele nunca saiu do lugar mesmo com todo o poder do universo.

E é aqui que a gente vê a verdadeira protagonista dessa segunda metade de Salvando Eternia: Maligna. Ela já tinha recebido bastante destaque nos episódios iniciais e, aqui, assume de vez o papel principal ao ser a responsável por questionar essa postura vazia de seu mestre, seja na obsessão com o He-Man ou no mau uso da Força agora que ele domina toda a magia do mundo.

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Isso puxa a personagem para um crescimento bem legal que a transforma na verdadeira ameaça de Mestres do Universo. Sem entrar em spoilers, é um desenvolvimento bastante curioso e que contrasta com a jornada que ela teve nos episódios iniciais. Enquanto a primeira parte de Salvando Eternia quase redimiu a feiticeira do mal, agora vemos ela sucumbir a um niilismo que entende que não existe nada no universo além do caos — uma visão de mundo originada de uma vida inteira baseada em um relacionamento tóxico que simplesmente a tornou nesse alguém sem alma.

Mais Adam, menos He-Man

E qual o papel do He-Man nisso tudo? Como dito, a parte final de Mestres do Universo: Salvando Eternia dá muito mais destaque ao personagem dos episódios iniciais. Só que, por mais que ele apareça para lutar e salvar o dia como sempre, há uma ênfase muito maior na relação do príncipe Adam com os demais habitantes de Eternia que é interessante ver, pois explora frentes que o desenho clássico nunca se aprofundou.

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E por mais que isso possa ser novamente alvo de críticas dos fãs mais xiitas que querem só lutinha, é curioso ver como o roteiro contrasta a figura de Adam com a do Esqueleto em relação ao uso da Força: enquanto o vilão se apoderou dela e segue a consumindo sem parar, o herói compartilha e a devolve ao universo sempre que preciso.

Esse aprofundamento na dinâmica de poder abre espaço para mostrar que Adam nunca dependeu de sua espada para se transformar e, assim, o desenho apresenta o He-Man Selvagem, uma forma muito mais brutal do personagem e que rende excelentes cenas de ação. Não é um personagem memorável, mas ainda assim muito divertido.

A partir dessa versão mais brutal do Campeão de Eternia, o desenho deixa claro que Adam não precisa da força física para ser vital para o reino em sua hora mais escura e é aí que vemos o quanto Adam é muito mais do que o cara de cabelo chanel e colete rosa dos memes antigos — mais uma vez desenvolvendo um personagem pouco explorado.

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Muito mais divertido

Um ponto muito positivo dessa conclusão de Mestres do Universo: Salvando Eternia é o quanto ele é divertido. Enquanto a primeira parte abordava o impacto do fim da magia no mundo, os novos episódios mostram o reinado de terror do Esqueleto sobre Eternia — e, curiosamente, há um enorme bom humor em tudo o que é apresentado.

Não se trata de um erro de tom, mas de abordar essa nova realidade sob a perspectiva do vilão, destacando o quanto ele é patético. Não por acaso, ele também se torna o alívio cômico da temporada, reagindo mal a vários eventos e com comentários engraçadinhos quando confrontado. De longe, é a melhor coisa da animação. E, como ele é o centro da história, há muito espaço para que a gente ria e se divirta.

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Esse bom humor funciona ainda mais na versão brasileira, que parece ter encontrado o tom certo na hora de adaptar as vozes. Na primeira parte de Salvando Eternia, era perceptível o quanto os dubladores estavam tentando emular as vozes do desenho clássico, mas aqui já fica claro o quanto todos já estão mais confortáveis em seus papéis e tudo soa muito mais natural — o que abre espaço para improvisos e brincadeiras que funcionam muito bem.

E, é claro, há toda a ação que a gente tanto queria ver. Da batalha entre o Deus Esqueleto e He-Man Selvagem ao retorno do herói que a gente conhece em uma enorme batalha campal em frente ao Castelo de Grayskull, tudo é muito ágil e empolgante e com aquele mesmo clima de quando você colocava todos os seus brinquedos para lutar de uma só vez.

Nostalgia e novidade

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A conclusão de Mestres do Universo: Salvando Eternia entrega tudo aquilo que os fãs poderiam esperar, seja aqueles que gostaram do começo da animação ou aqueles que criticaram os rumos que a história tomou. A Netflix conseguiu acertar o tom e agradar tanto o público mais nostálgico e conservador quanto aqueles que esperavam ver esse universo ser aprofundado.

O foco dado aos vilões aqui é o maior exemplo disso, pois oferece a ação que muita gente queria ver ao mesmo tempo em que mostra as motivações vazias do Esqueleto e as consequências disso em Maligna. Não por acaso, são os melhores personagens desse revival, ganhando camadas que nunca foram apresentadas no clássico da década de 1980.

E o mais interessante é o quanto Salvando Eternia deixa espaço para que novos episódios venham no futuro, conectando a história aqui mostrada com outros elementos desse universo, como o vilão Hordak — o mesmo de She-Ra. Embora a franquia tenha nascido para vender bonequinho e nunca tenha se importado em fazer muito mais do que isso, esse revival de Mestres do Universo mostrou o quanto um pouco de coesão ajuda a enriquecer a história e, principalmente, nos deixar ainda mais saudosistas e sedentos por mais disso tudo.

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A parte 2 de Mestres do Universo: Salvando Eternia está disponível no catálogo da Netflix para todos os assinantes.