Publicidade

Crítica | Mentira Incondicional é um filme justo, mas vazio

Por| 06 de Outubro de 2020 às 22h00

Link copiado!

Blumhouse Productions
Blumhouse Productions

Engavetado durante dois anos pela Blumhouse Productions, Mentira Incondicional (disponível no Amazon Prime Video), a princípio, pode parecer um filme realmente instigante. Existe uma atmosfera de tensão criada pela direção de Veena Sud (de The Salton Sea — filme de 2016), com suas escolhas por planos fechados, que pode ser desconfortável. Esse início, portanto, é fundamental para segurar o espectador e fazê-lo se interessar pelo desenvolvimento e isso, felizmente, é feito com competência.

Acontece que, logo após a apresentação da situação, o filme mostra-se refém de si mesmo. O roteiro da própria diretora, adaptado do filme alemão Wir Monster (de Sebatian Ko, 2015), parece amarrado ao que expõe e Sud, esteticamente, não procura se aprofundar no que quer que seja. Nesse sentido, ela mantém a proximidade visual com seus personagens e, ao mesmo tempo, não os desenvolve, permanecendo em um limbo monótono e sem profundidade.

Continua após a publicidade

Atenção! Esta crítica contém spoilers sobre o filme!

Um imenso quase nada

Continua após a publicidade

Existe, a partir dessa abordagem, o fortalecimento da ligação para com a história contada, mas uma quase completa indiferença pelos protagonistas. Assim, Kayla (Joey King) parece existir somente como uma guia inconsequente do absurdo. Com a motivação para sua atitude dispersa e sem foco sendo exposta somente nos cinco últimos minutos, a personagem só resiste devido à expressividade de King, que faz um esforço para além de sua zona de conforto de filmes como A Barraca do Beijo (de Vince Marcello, 2018).

Seus pais, Jay (Peter Sarsgaard) e Rebecca (Mireille Enos), talvez até criem alguma espécie de subtexto, algo que indique o quanto a família e, especificamente, o amor parental, pode fazer para proteger a pessoa amada. O problema é que qualquer mergulho nessa interpretação pode levar a cabeça a bater no fundo antes mesmo de a água chegar ao pescoço, dada a profundidade inexistente.

Continua após a publicidade

Mentira Incondicional, aliás, não dá espaço para interpretações e nem abre caminho para que o suspense se torne mais intrigante. Tudo caminha em direção ao plot twist final. Este, igualmente, é expulso da história do mesmo modo que Britney (Devery Jacobs) é expulsa da garagem de Jay e Rebecca. Ele (o plot twist) existe somente para causar algum espanto, mas pode ser que, nesse ponto, o desinteresse pelo filme seja tão grande que o susto mesmo é perceber que se passaram 90 minutos e o que aconteceu foi um imenso quase nada.

Descarte

Continua após a publicidade

Tudo, claro, exposto por uma direção aparentemente apoiada na utilização de mais de uma câmera — o que, se for o caso, confirmaria a falta de planejamento. Mas, sendo isso uma especulação de um crítico que sempre se coloca como não mais do que um espectador-que-escreve, pode ser que Sud somente tenha optado por uma decupagem desconfortável para desviar a atenção da fragilidade do filme e, com isso, inserir um elemento sensorial: o único.

E pode funcionar. Porque o desconforto causado até tem seu charme ao se pensar que ele é uma rima direta ao desconforto da situação passada pelos personagens, mas, nesse caso, seria forçar a barra para dizer que um filme que pouco tem a oferecer pode ser rico nas entrelinhas.

Continua após a publicidade

A verdade é que, adicionado ao catálogo do Prime Video depois de dois anos engavetado pela produtora de Jasom Blum, Mentira Incondicional vem em um pacote que dá número, quantidade, ao streaming da Amazon e, no final das contas, esse pacote pode ter apenas o viés de descarrego, da liberação de filmes irrelevantes com a intenção de preencher a grade e nada mais. Justo, porém vazio.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech.