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Crítica | Hollywood recria a história da diversidade e inclusão no cinema

Por| 06 de Maio de 2020 às 08h24

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A Netflix estreou no dia 1º de maio sua nova série original Hollywood. A trama de Ryan Murphy, conhecido por American Horror Story, Glee e Pose, é baseada em acontecimentos reais e se passa na capital do cinema norte-americano, Hollywood, na década de 1940. Alguns personagens são fictícios, enquanto outros realmente existiram.

A produção retrata de forma trágica e dramática a realidade de como as coisas funcionavam em Hollywood naquela época, levando à tela questões como racismo, homofobia e misoginia, contando com personagens divertidos e que, apesar de vivências diferentes, se unem por um único e grande objetivo: se tornarem pessoas influentes no mundo do cinema.

Atenção! Daqui em diante este texto pode conter spoilers.

Nem tudo o que é mostrado ao longo dos sete episódios da primeira temporada, de quase uma hora cada, é verdadeiramente real, mesmo que discutam assuntos que representam a mudança na história de Hollywood na busca pela igualdade. A trama começa focada em Jack Castello (David Corenswet), que sonha em se tornar ator. Casado e com a esposa grávida, ele faz de tudo para conseguir as melhores audições e, claro, passar em alguma delas, mesmo que inicialmente a sua beleza clichê seja a sua maior característica. Mas como as coisas não são nada fáceis neste universo, ele acaba se esbarrando com Ernie (Dylan McDermott), um "cafetão" que tem um ponto de encontro de prostituição masculina disfarçado de posto de gasolina.

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Sem dinheiro para seguir o seu sonho, ele acaba topando trabalhar como garoto de programa, até que descobre que o posto também tem homens como clientes. É quando a trama começa a abordar a homossexualidade e o quanto homens e mulheres eram muito mais reprimidos naquela época, além do fato de que se assumir publicamente era algo fora de cogitação. A partir desse momento, entram na série personagens como Archie Coleman (Jeremy Pope), um homem negro, gay e aspirante a roteirista. Com os caminhos de Archie e Jack se encontrando, Hollywood começa de verdade a contar sua história.

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Se você está por dentro do que vem acontecendo em Hollywood nos últimos anos, deve conhecer a história de Harvey Weinstein, um ex-produtor de cinema que foi acusado por inúmeras mulheres da indústria de abuso sexual e estupro. Sua história, inclusive, serviu de motivação para movimentos que começaram a soltar as vozes das vítimas e revolucionar.

O abuso de poder em troca de sexo, infelizmente, não é de hoje. Em Hollywood, isso é retratado com o personagem Henry Wilson, interpretado por Jim Parsons, um produtor que via a sua homossexualidade como perversão e utilizava isso para abusar de jovens rapazes em busca do sonho de ser ator. A série começa a abordar o tema de forma pesada e que pode ser gatilho para algumas pessoas que possam ter passado por esse tipo de abuso, inclusive desencorajando qualquer tipo de adoração pela indústria hollywoodiana.

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No entanto, além de Archie e Jack, outros grandes personagens começam a aparecer na trama para mostrar que nem tudo o que acontece nos bastidores do cinema é revoltante, e que foi (e ainda é) preciso muita revolução para Hollywood ser o que é hoje, apesar de ainda existirem vários outros preconceitos graves para serem quebrados.

A série nos conquista mostrando grandes histórias de inclusão e diversidade, como a primeira atriz negra ganhando um Oscar de Melhor Atriz, um roteirista negro ganhando o mesmo prêmio pelo seu trabalho impecável, e pessoas brancas, ricas e poderosas vendo na prática como o racismo não havia sido deixado de lado com o fim da escravidão e arriscando retaliação para que a comunidade negra tivesse visibilidade. A discriminação racial era tão intensa na época que é bastante difícil assistir e ouvir que negros não poderiam ser protagonistas de filmes e não podiam sentar na primeira fileira na plateia do Oscar, por exemplo.

Essa lição sobre a relação do que é ser mulher e negra em Hollywood é muito bem retratada por Camille, interpretada por Laura Harrier, e Hattie McDaniel, personagem de Queen Latifah. As duas se envolvem em discussões importantes sobre como a comunidade ainda era tratada nos Estados Unidos naquela década, além de tudo o que seria enfrentado a partir daquele momento em que ela iniciaria a sua vida de estrela. Hattie, inclusive, existiu e foi a primeira mulher negra a ganhar um Oscar em 1939, de Melhor Atriz Coadjuvante, pelo clássico E O Vento Levou.

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Já a homofobia é discuta por Archie e o seu namorado Rock Hudson (Jake Picking), também aspirante a ator, que foi uma das vítimas de Henry Wilson que não se calou. O casal protagoniza uma das cenas mais intensas da série, quando chegam juntos e de mãos dadas na cerimônia do Oscar. Na década de 1940.

Com fotografia e figurino impecáveis, Hollywood não é só agradável aos olhos e uma grande aula sobre a diversidade no cinema, como também entretém com personagens carismáticos e suas histórias de identificação. Juntos no mesmo objetivo, eles se uniram e mostraram empatia um pelo outro, sem mostrar desafetos por concorrência, muito pelo contrário. Em um certo momento, parece que Camille e Claire Wood (Samara Weaving) irão começar uma competição para pegar um papel principal, mas nada disso acontece. Talvez por já estarmos acostumados em ver esse tipo de competição feminina no cinema e na televisão, isso não ter acontecido foi algo muito inesperado e diferente, principalmente por Claire ser filha do dono do estúdio e poder se achar superior por isso.

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A série se mostra como uma grande homenagem à indústria do cinema californiana, não apenas pelo filme produzido pelo Ace Studios contar a história de uma atriz frustrada que se jogou do letreiro de Hollywood, mas também provando o quão importante para a História é questionar seus privilégios e entender que o entretenimento não oferece as mesmas chances para todos. Foi preciso que pessoas como Camille, Archie e Rock passassem pelas consequências primeiro para amenizar o espaço para os próximos.

A primeira temporada de Hollywood está disponível completa na Netflix.