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Crítica Fale Comigo | Terror australiano vai além de ótimas cenas de possessão

Por  • Editado por Jones Oliveira | 

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Divulgação/ A24
Divulgação/ A24

Para deleite dos fãs de terror, um novo longa recheado de boas cenas de possessão chega às telonas no dia 17 de agosto. Trata-se de Fale Comigo, filme que marca a estreia dos youtubers Michael e Danny Philippou nos cinemas. Mesmo sem muita experiência no currículo, os irmãos australianos entregaram uma verdadeira obra-prima, dessas que prendem a atenção do início ao fim e despertam vários sentimentos ao longo da trama, desde angústia e aflição, até umas boas risadas.

No longa, somos apresentados a Mia (Sophie Wilde), uma jovem que perdeu a mãe há dois anos e decidiu passar um tempo na casa da amiga Jade (Alexandra Jensen). Juntas, elas decidem participar de uma brincadeira na qual um grupo de adolescentes segura uma mão embalsamada capaz de conjurar espíritos.

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O jogo consiste no seguinte: um adolescente segura a tal mão e, logo em seguida, vê um espírito macabro à sua frente. Aqui não há um nome específico, pode ser qualquer espírito e em qualquer forma física. Assim que vê a assombração, o jovem precisa deixar a entidade entrar no seu corpo para ela se manifestar. É aí que o restante do grupo começa a filmar e rir do que está vendo à sua frente.

O primeiro e principal acerto dos diretores foi retratar os casos de possessão de uma maneira totalmente diferente daquelas já apresentada nos vários filmes sobre o tema. Em Fale Comigo, não há um único espírito zombeteiro querendo acabar com a vida de alguém em específico, como vemos em O Exorcista do Papa, por exemplo. São várias entidades que surgem de maneira aleatória.

Outro acerto diz respeito à crítica levantada pela trama por trás dessa brincadeira. Ao invés de salvarem o possuído dos perigos iminentes, o grupo de adolescentes prefere gravar e dar gargalhadas. Fica claro que a diversão e busca pelos likes é muito mais importante do que a vida e a sanidade de quem está em perigo.

Além disso, ao invés de ficarem assustados, os adolescentes encaram esse contato com o mundo espiritual quase como uma droga. A própria Mia comenta como ela se sente viva ao fazer isso e fica nítido que ela quer sempre mais. O problema é que jogar com espíritos nem sempre é a melhor escolha, e claro que a brincadeira toma rumos absurdos deixando um dos jovens entre a vida e a morte — e o paralelo com o víci é bastante nítido e bem trabalhado pelo roteiro.

Enredo brilhante não cansa e prende a atenção

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Apesar de atrativa, a premissa de Fale Comigo não entrega nem metade do que o público verá nas telonas — e isso é ótimo, pois quem se sentar na cadeira do cinema será surpreendido com uma história cheia de nuances que a cada desdobramento vai ficando mais macabra.

Esse é o grande mérito do roteiro do filme, que não se limitou à mesma narrativa de sempre — uma pessoa possuída e um padre ou demonologista tentando livrá-la do terror — mas inovou ao criar cenas gráficas realmente assustadoras e angustiantes. Sem querer estragar a surpresa do leitor, vale comentar apenas que a cena do “inferno” é chocante e construída com muito primor.

Além disso, é importante ressaltar que o figurino e, principalmente, a maquiagem agradam muito. Com certeza esses dois aspectos são relevantes em qualquer produção, mas em um filme que exige que os atores tenham aparência de quem foi possuído, quanto mais bem feito, melhor!

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A lente preta gigante usada para diferenciar o olho de quem tá com o demônio no corpo foi um excelente acessório. Além disso, a maquiagem também merece elogios. Todos os ferimentos, veias saltadas, olhos roxos e cabeças feridas, deram veracidade à trama e bastante aflição também.

Atuações agradam e novata brilha como protagonista

Falando agora nas atuações, o papel principal ficou com Wilde, uma novata que mostrou que tem muito talento a ser explorado frente às câmeras. Sua atuação é primorosa e ela se sobressai especialmente nas cenas em que está possuída. No longa, sua personagem tem que oscilar entre a alegria e a tristeza, o medo e a coragem, e a euforia e a depressão, e navegar por tantos sentimentos não é tarefa tão simples. A chance de cair no caricato é grande, mas a atriz conseguiu se sair bem.

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Os coadjuvantes também não fazem feio e o destaque fica para Joe Bird como Riley. Sendo o mais novo do grupo, ele carrega a responsabilidade de não desapontar em cena já que é o que mais sofre com a possessão. E, pode se dizer que o menino cujo currículo tem apenas o filme Rabbit (2017) e a minissérie Primeiro Dia (2020) não deixou a peteca cair.

Além dele, Miranda Otto, conhecida pelos filmes Flores Raras, O Portal Secreto e Guerra dos Mundos e, claro, pela série O Mundo Sombrio de Sabrina também faz bonito em cena. A veterana já está acostumada com as câmeras e em Fale Comigo entrega uma mãe cansada e batalhadora.

Um final com gosto de quero mais

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Por fim, o desfecho de Fale Comigo não é o mais surpreendente de todos, mas nem assim tira o mérito do filme. Além disso, deixa um gancho interessante para uma futura sequência. Os irmãos Philippou já se mostraram empolgados com a possibilidade e se continuarem tomando cuidado para criar um roteiro atrativo, deverão lançar mais um sucesso.

No entanto, o que já está mais encaminhado é uma prequência focada na história da mão embalsamada e como ela chegou até Duckett (Sunny Johnson), o primeiro jovem a morrer. Se realmente chegar aos cinemas, o filme deverá explicar as razões que fazem da tal mão um objeto tão amaldiçoado.

Assim sendo, o que fica nítido é que os irmãos australianos têm uma mina de ouro nas mãos e que podem transformar a história em uma franquia de sucesso, basta saber como conduzi-la. Se seguirem os passos do primeiro longa e mantiverem o cuidado com os detalhes e a pós-produção, certamente farão bonito nas telas do cinema de novo.

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E quem ficou com vontade de assistir Talk to Me (como é chamado no original), pode correr para os cinemas a partir do dia 17 de agosto.