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Crítica Escolha ou Morra | Terror de verdade é assistir a essa bomba

Por| Editado por Jones Oliveira | 19 de Abril de 2022 às 20h00

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A linha que separa o fantástico do horror é bastante tênue — quase uma questão de perspectiva. Bastaria uma leve mudança de tom para que o clássico Jumanji, por exemplo, deixasse de ser uma história mágica e infantil para se tornar um filme de terror. E o novo Escolha ou Morra tenta fazer isso ao misturar esse elemento fantástico do jogo com a violência absurda de Jogos Mortais. É uma virada interessante, mas que o longa não tem a menor ideia de como explorar.

O novo filme da Netflix é pura e unicamente seu conceito: o que aconteceria se as escolhas que você toma dentro de um jogo tivessem consequências reais com pessoas à sua volta? É uma ideia promissora que mostra como o fantástico e o terror estão próximos, mas que é tão mal desenvolvida que o filme se torna bobo.

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A grande questão é que o longa é apenas um bom conceito envolto por situações completamente vazias. Isso é tão verdade que, tão logo você se acostuma com a ideia do game, passa a se perguntar qual é a história que está sendo contada. E não é porque ela não funciona, mas porque ela nem sequer existe.

Fiapo narrativo

Como dito, Escolha ou Morra é inteiramente baseado em seu conceito. A história da jovem programadora fracassada que se depara com um velho jogo de computador dos anos 1980 como forma de resolver seus problemas é só uma desculpa para apresentar cada um dos desafios, costurando situações para criar algo que lembre um roteiro, mas que não chega nem perto disso.

Parece exagero, mas não é. Deixando de lado a dinâmica do jogo amaldiçoado que mexe com a realidade e impõe consequências reais às suas escolhas — um Jumanji mais hardcore, por assim dizer —, toda a trama é jogada sem qualquer peso ou construção e descartada logo em seguida quando essas peças não têm mais interesse para o game.

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Isso é bem evidente quando olhamos para o drama familiar de Kayla (Iola Evans). Ela é essa programadora que tem um subemprego limpando um galpão que vive limpo e que precisa do dinheiro para ajudar a mãe, que sofre de problemas psicológicos desde a morte do filho em um acidente em uma piscina. É por essa razão que ela se empolga quando descobre a existência do Curs>r, um jogo retrô que promete pagar alguns milhares de dólares para quem terminá-lo.

O ponto é que nenhum desses elementos da história da personagem têm peso real dentro da trama. Na verdade, todo esse background serve apenas para ser usado em alguma etapa do jogo e é descartado logo em seguida.

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Isso fica bem claro na suposta culpa que Kayla carrega pela morte do irmão e que resultou nos problemas da mãe. O jogo se aproveita disso e faz com que ela seja obrigada a reviver o acidente em um momento que deveria ser muito traumatizante. Só que, passada essa etapa do game, a morte do menino e a dor da protagonista não são mais mencionadas em momento algum, sendo descartada com pouco mais de 40 minutos de filme.

E esse não é um problema isolado. Tudo em Escolha ou Morra existe para o jogo e apenas para isso. Até mesmo o personagem de Asa Butterfield (Sex Education) sofre desse mal, mesmo sendo um dos rostos do pôster. O nerd viciado em cultura pop retrô embarca nessa história macabra para ajudar a amiga, participa de uma fase e some sem qualquer grande impacto para a protagonista. Até o mistério por trás do galpão em que Kayla trabalha é algo que fica por isso mesmo.

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Assim, não demora para que você perceba que o filme não tem história alguma para contar. No máximo, são justificativas para a próxima fase do jogo e que vão ser esquecidas tão logo o longa já prepare o próximo nível. É o tipo de narrativa tão pobre que nem mesmo os jogos de videogame dos anos 1980 se limitavam a isso.

O que era ruim, piora

Essa tentativa de roteiro é tão desconjuntada que ela surta em determinado momento e decide não querer mais ser um filme de terror para virar algo que tenta se aproximar de um super-herói. Há até mesmo a tentativa de emplacar uma frase de impacto ao dizer (mais de uma vez) que “uma maldição também pode ser um dom”.

Só que é óbvio que isso não funciona. Se Escolha ou Morra tem dificuldades para se sustentar diante de uma história simples de uma menina tentando sobreviver a um jogo maldito, imagina só quando ele pretende trazer uma mensagem a mais nisso tudo. O resultado é uma reviravolta que mira em Death Note, e não acerta em absolutamente nada.

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Vale a pena ver Escolha ou Morra?

No fim, a impressão que fica é que Escolha ou Morra foi escrito por um adolescente, daqueles que se empolgam apenas com o absurdo e com o gore e não com a história que conecta todos esses pontos. E perceba que nem falo em sentidos para além dessas imagens, pois isso já seria pedir demais. O novo longa da Netflix não é capaz nem mesmo de entregar o básico, que é uma história que faça sentido em sua camada mais superficial.

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A proposta em si é boa, mas não é suficiente para sustentar um roteiro. No caso de Jumanji e Jogos Mortais, tanto a fantasia quanto o terror existem para justificar as histórias para além do jogo e da violência. Esses elementos estão ali apenas para conectar essa grande trama que gira em torno de seus personagens.

É a coisa mais fundamental em qualquer roteiro. Não importa o quão interessante seja a ideia, ela deve servir para contar a história daqueles personagens — e nada disso acontece por aqui. E é irônico que Escolha ou Morra tenha tomado uma decisão tão equivocada para si. O resultado está aí: uma produção fadada a morrer em sua própria irrelevância.

Escolha ou Morra está no catálogo da Netflix.