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Crítica | Crimes Temporais é uma viagem no tempo intrigante e cheia de suspense

Por| 05 de Junho de 2020 às 10h12

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Magnolia
Magnolia

Crimes Temporais é um filme espanho de 2007 escrito, dirigido e atuado pelo espanhol Nacho Vigalondo (indicado ao Oscar em 2004 pelo curta 7:35 De La Mañana). Apesar de ter tomado prejuízo nas bilheterias, o filme se tornou algo meio cult e volta e meia é lembrado quando se fala de bons filmes sobre viagem no tempo que pouca gente viu, mas que mereciam mais atenção. Prova disso é a ótima taxa de aprovação de 89% entre os críticos levados em conta pelo Rotten Tomatoes.

A obra segue os eventos na vida de Héctor (Karra Elejalde), um homem comum que viaja no tempo de forma acidental. Diferente de outros filmes do gênero, o protagonista não dá grandes saltos para frente ou para trás na linha temporal, mas apenas retorna algumas horas dentro do mesmo dia, ação mais do que suficiente para iniciar uma onda de desgraças. Isso já o torna instigante e coloca alguns pontos de interrogação bem interessantes na cabeça de quem o assiste.

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Um pouco mais sobre a história: após ver uma jovem (Bárbara Goenaga) nua em um bosque vizinho à sua casa de campo, Héctor vai investigar e se depara com a mesma mulher, agora deitada, completamente nua e desacordada. Ao se aproximar, ele é golpeado com uma tesoura no braço por um sujeito com o rosto coberto por trapos cor-de-rosa e começa a fugir. É aí que a coisa engrena e complica de vez, com o filme entrando em uma espiral de acontecimentos intrigantes.

Quando foge de seu perseguidor mascarado, Héctor encontra um laboratório e, ao tentar se salvar, realiza uma viagem acidental no tempo. Ele então vê a si mesmo com sua esposa na mesma manhã do dia em que tudo começou a dar errado e resolve que precisa ir até lá. A ideia é tentar reparar o erro e não evitar ruído na linha do tempo, mas é justamente na tentativa de fazer com que as coisas voltem ao normal que elas ficam cada vez mais complicadas.

Um dos pontos positivos do filme já aparece logo de cara: ele não se demora em coisas desnecessárias e vai sempre direto ao ponto. Dada a complexidade da história em si, que trata de viagem no tempo e traz fatos que merecem ser olhados com atenção, isso ajuda a não tirar o foco da parte relevante da trama.

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Só que aqui não existem longas e entediantes explicações científicas sobre como funciona a tecnologia por trás da máquina do tempo ou a razão pelas quais aquilo estaria acontecendo. Isso faz de Crimes Temporais (também conhecido por seu título original, Los Cronocrímenes, e pela versão em inglês, Timecrimes) um filme leve e fácil de ser assistido, algo favorecido pela sua duração relativamente curta.

Claro que em seus quase 90 minutos a obra não é um primor irretocável. As atuações nem sempre parecem estar "redondinhas" — o próprio Héctor por vezes aparece em interpretação digna de uma novela adolescente — e a forma como a história segue vez ou outra deve deixar aquela pontinha de “que exagero!” nos mais exigentes — lembre-se disso quando um personagem convence a moça que ficou nua a entrar no bosque. Isso tudo, porém, é amenizado por uma história escrita e contada de maneira excepcional.

Crimes Temporais tem uma proposta bem clara e se desenrola em torno dela de maneira muito competente. O filme vai ao ponto certo sem arrodeios e consegue prender a atenção do espectador, deixando um clima de tensão nos momentos corretos e ampliando essa sensação com uma excelente trilha sonora de suspense no melhor estilo Alfred Hitchcock.

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No fim das contas, o filme tem de tudo: viagem no tempo, paradoxo, momento “não pode ser” e uma conclusão que é um tanto trágica e metafórica (sobre a qual eu escrevo ali embaixo, pois ela pode revelar alguns detalhes sobre o filme). Assistir à obra pela segunda vez faz saltar aos olhos alguns detalhes que passam despercebidos numa primeira olhada, uma característica que apenas reforça como tudo é bem elaborado e conduzido por Vigalondo.

Atenção: não vou abordar aqui de forma aberta nenhum aspecto específico da trama, mas o que será lido a partir do parágrafo seguinte pode prejudicar a sua experiência com o filme. Portanto, se você leu até aqui e ainda não assistiu a Crimes Temporais, considere ver à película antes de prosseguir — você foi avisado.

Uma fuga impossível

A grande metáfora (não sei se intencional) do autor está na perseguição que o protagonista empreende contra si mesmo ao longo da trama. Toda a sua jornada se dá motivada pela própria jornada, tudo acontece porque já aconteceu antes. Perto do fim da história, quando Héctor percebe que não há como escapar do destino trágico ao qual está preso, o filme suscita uma reflexão estilo “seu maior inimigo é você mesmo” e, bem, nesse caso, não tem muito para onde correr.

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Essa percepção acaba por engrandecer o filme, que em nenhum momento puxa para uma crítica social batida, tampouco tem um viés de autoajuda, apesar da óbvia abordagem determinista. Mas olhá-lo dessa forma gera outra reflexão: estaríamos fadados a cumprir um destino pré-escrito e não há o que fazer para driblar tal situação? A fórmula não é inédita em filmes de viagem no tempo, mas é usada com primor em Crimes Temporais.

Talvez alguns acharão o final sem conclusão, pois a história não se encerra de forma clara e incisiva. Mas até a falta de explicação soa bem interessante porque se alinha com a proposta de um filme que vai direto ao ponto, que conta o que precisa ser contado e apresenta seus argumentos sem apelar para construções mirabolantes nem gastar a paciência do espectador.

Crimes Temporais desfila uma estética assustadora e tensa combinada com uma história curiosa, bem original e digna de agradar quem procura um bom filme de suspense/terror psicológico.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech