Crítica | Cirurgiões Inovadores contempla a ciência em tempos de questionamento
Por Natalie Rosa | 15 de Dezembro de 2020 às 20h20
Uma das profissões mais importantes do mundo, sem dúvidas, é a de um cirurgião. São anos de estudo, especialização, pesquisa e muita mão na massa para conseguir salvar a vida de um paciente de uma forma tão invasiva e delicada. E para reconhecer esses profissionais, a Netflix acaba de incluir em seu catálogo uma série documental de quatro episódios que conta a história de quatro cirurgiões renomados em suas áreas, mostrando um pouco de como foram suas trajetórias até chegarem onde estão.
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Na série documental Cirurgiões Inovadores, acompanhamos de perto a rotina de Kypros Nicolaides, profissional da medicina fetal, Alfredo Quiñones-Hinojosa, neurocirurgião, Nancy Ascher, a primeira mulher a realizar um transplante de fígado, e Devi Shetty, cirurgião cardíaco. São quatro histórias que marcaram a área da medicina, com suas inovações influenciando centenas de milhares de outros médicos ao redor do mundo e contribuindo grandemente para a ciência.
Atenção: esta crítica contém spoilers da série documental Cirurgiões Inovadores!
Entre depoimentos às câmeras, atuações para representar acontecimentos do passado e cenas reais das consultas médicas e cirurgias, o documentário Cirurgiões Inovadores pode ser tanto uma produção que sacia a curiosidade de adoradores da ciência e da medicina, como também uma obra de inspiração para quem já está ou pretende entrar no ramo. A série aproxima os cirurgiões do espectador revelando os desafios enfrentados no passado para estar onde estão, mostrando que foi preciso muita dedicação e estudo para se tornarem profissionais renomados.
Dr. Kypros Nicolaides, por exemplo, se apaixonou pela medicina fetal e decidiu dedicar parte da sua vida às grávidas que estão enfrentando complicações na gestação e que correm o risco de perder os bebês antes mesmo do nascimento. Para isso, o médico desenvolveu uma técnica que vem salvando a vida de diversos fetos de bebês gêmeos ao redor do mundo, que sofrem de um problema na distribuição do sangue. De forma menos invasiva, ele consegue fazer operações nos fetos ainda na barriga, com a mãe acordada e acompanhando tudo pelo monitor.
Por mais "milagroso" que um procedimento médico seja, sempre existem suas complicações, e Cirurgiões Inovadores não poupa o espectador disso. Logo no primeiro episódio, acompanhamos mulheres e suas famílias recebendo a notícia em frente às câmeras de que um ou mais de seus fetos não sobreviveram. É possível também observar a compaixão de Nicolaides no momento de dar a notícia, mostrando que a individualidade de cada paciente precisa ser respeitada por mais que seja um procedimento feito diariamente há muitos anos.
No segundo episódio, a série documental tem como tema a cirurgia cerebral, focando nos desafios enfrentados por Alfredo Quiñones-Hinojosa para se tornar um médico renomado nos Estados Unidos, com o profissional contando como foi a sua vida simples e de trabalho braçal na fronteira do México, deixando de ser visto apenas como um imigrante. Enquanto conta a sua história, com o médico visitando onde costumava morar, vemos o quão invasiva é uma cirurgia cerebral e a importância de manter o paciente acordado durante o procedimento.
Já no terceiro episódio, a série aborda a história de Nancy Ascher, a primeira mulher a realizar um transplante de fígado. Ao mesmo tempo em que a cirurgiã fala sobre suas inspirações, os desafios enfrentados por ser uma mulher no ramo, aprendemos um pouco sobre a importância do órgão no corpo humano enquanto acompanhamos um procedimento feito em uma jovem que doou parte do fígado para a sua mãe.
E para encerrar a série documental, conhecemos o indiano Devi Shetty, cirurgião cardíaco, que se especializou na área para ajudar seus conterrâneos que sofrem de uma condição genética no coração. O médico luta pelo acesso gratuito de pacientes à medicina, dizendo que nunca deixou de fazer qualquer cirurgia cardíaca por falta de condições financeiras do paciente.
Cirurgiões Inovadores é uma série documental que inspira, seja o espectador da área da medicina ou não. Um dos conhecimentos mais aprofundados na trama é a de que a ciência funciona praticamente como mágica: quem está de fora, não consegue imaginar como isso é possível, e quem faz sabe que foi preciso estudar o objeto principal, no caso o corpo humano, ter dedicação para desenvolver as técnicas, e contar com a prática para que tudo ocorra bem e, no final, tudo parecer ter sido um milagre.
Em tempos de questionamento da ciência, é importante que produções que valorizem os estudos da medicina sejam disponibilizadas também a leigos. A série mostra que por trás de um médico e de cada procedimento existe uma bagagem e vários anos de vida dedicados a salvar vidas. Além disso, a produção mostra que é preciso observar esses profissionais com bons olhos e depositar a sua confiança neles, o que no final acaba sendo um dos principais objetivos de um médico.
Cirurgiões Inovadores já está disponível na Netflix em quatro episódios.