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Crítica | Cidade dos Mortos mostra a atitude humana diante de uma grave epidemia

Por| 16 de Outubro de 2020 às 09h45

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Divulgação: Netflix
Divulgação: Netflix
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Até que ponto uma civilização consegue fazer jus ao que esse termo significa? No dicionário, o conceito diz que uma civilização consiste em um "conjunto de aspectos peculiares à vida intelectual, artística, moral e material de uma época, de uma região, de um país ou de uma sociedade".

Foram anos de construção de regiões civilizadas, mediante costumes e culturas próprias de um país ou continente, tudo para que os seres humanos pudessem conviver em grupo, com pessoas diferentes e obedecendo regras e leis. Porém, basta um imprevisto aparecer e trazer risco de morte para que tudo vá para o ralo.

É o que vemos representado na série Cidade dos Mortos, conhecida também como To the Lake ou Epidemiya, que acaba de estrear na Netflix. A produção é original da Rússia e foi lançada em 2019, mas com a plataforma de streaming adquirindo seus direitos, o lançamento internacional aconteceu em outubro de 2020.

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Atenção: esta crítica contém spoilers de Cidade dos Mortos

Ao ver algumas imagens da série e uma breve sinopse, parece que Cidade dos Mortos se trata de uma produção sobre zumbis, mas não é bem assim. A trama conta a história do momento em que uma epidemia chegou à Rússia, concentrada em Moscou, que faz com que o infectado tenha sintomas de gripes severas, seus olhos se tornem brancos e ela morra em apenas três dias. Nada de morto-vivo, apenas pessoas cegas, doentes e desesperadas buscando por ajuda.

Por também se encaixar no gênero drama, a série aborda também muitas questões familiares e relação entre amigos e conhecidos, como foco em três famílias. A primeira é composta pelo milionário Leonid (Aleksandr Robak) e sua namorada mais jovem e grávida chamada Marina (Natalya Zemtsova), e sua filha adolescente alcoólatra Polina (Viktoriya Agalakova) que deixou a reabilitação (que não adiantou nada) no dia em que a epidemia fugiu do controle.

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A segunda família é de vizinhos de Leonid, Sergey (Kirill Käro), que vive com a sua nova namorada Anna (Wiktorija Issakowa) e o filho dela chamado Misha (Eldar Kalimulin), um adolescente no espectro do autismo. Já a terceira família conta com a ex-esposa de Sergey, Irina (Marjana Timofejewna Spiwak) e Anton, filho pequeno do casal.

Todas as três famílias, que moram perto umas das outras, protagonizam não só uma fuga e tentativa de sobrevivência, como também casos de novela, que acabam trazendo uma distração para toda a desgraça que está acontecendo no país. A mãe de Polina morreu e não demorou muito para que ele se juntasse e engravidasse Marina, que trabalhava com stripper, e a jovem acabou se tornando uma pessoa viciada em álcool e que não liga para a nova família.

Leonid é odiado por Anna, que por sua vez é odiada por Irina, pois foi abandonada por Sergey para ficar com Anna, que era sua psicóloga. Polina, a todo tempo, fica tentando seduzir o jovem Misha, o que acaba funcionando. Confuso, mas no decorrer dos episódios esses dramas vão se tornando mais intensos e as peças vão e encaixando. Juntos, esse grupo precisa não só lidar com essas diferenças, como também sobreviver e chegar vivo ao destino final: uma casa no lago de Leonid.

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Então, a série mostra toda a brutalidade que vem acontecendo no caminho até o lago, que conta não só com pessoas desesperadas e tentando entender o que está acontecendo, como também um grave golpe militar de oficiais que estão tentando tomar conta do país. Para isso, eles saqueiam casas e matam quem cruza sua frente, estejam essas pessoas infectadas ou não. A crueldade da equipe é tamanha que eles até usam um ônibus para simular a coleta de pessoas saudáveis para levar a um local seguro, quando na verdade é para que elas sejam assassinadas a sangue frio.

Como se proteger, então, quando quem era deveria salvar é quem está matando? Vale tudo pela sobrevivência? O grupo indaga todas essas questões e optam por proteger a si mesmos, mas também a olhar por quem cruza o seu caminho e acreditar em boas intenções. Mas como o caminho não é nada fácil, essas indagações acabam sendo colocadas a prova, com o objetivo sendo unicamente de manter todos os que estão juntos vivos e aguardar por um final positivo.

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É interessante ver, no decorrer da história, que ao mesmo tempo em que os dramas pessoais não são esquecidos, muito menos as desavenças, eles continuam se importando um com o outro. Isso acontece principalmente entre Irina e Anna, que protagonizam cenas absurdas de disputa por Sergey, por mais que seja algo próximo da realidade, mas que sentem empatia uma pela outra por ambas serem mães.

Pouco se sabe sobre a gripe, o que inclusive é contado nos primeiros episódios, mas de forma mascarada pela mídia, que não quis entregar o quão grave era a situação. Mas, no fim, isso pouco importa já que a intenção da série parece ser compreender o comportamento humano diante de um cenário apocalíptico. Para quem nunca havia assistido uma produção russa, Cidade dos Mortos impressiona e justifica o desejo da Netflix de apresentar a série de forma internacional.

A trama acerta não só nas suas histórias, com thriller, mistério e drama nas medidas certas, como na qualidade visual digna de cinema. Em alguns momentos pode até parecer que os personagens não estão indo para lugar nenhum, mas isso só reforça a incerteza de um novo mundo e a necessidade de sobreviver dia após dia, pois o amanhã segue como um grande mistério. A série termina com abertura para uma segunda temporada, mas ainda não há informações sobre essa possibilidade.

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Cidade dos Mortos já está disponível na Netflix em oito episódios.