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Crítica | Abaixo de Zero oferece muita tensão, catarse e só

Por| 04 de Fevereiro de 2021 às 10h27

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O ator Javier Gutiérrez já é um rosto conhecido para alguns brasileiros, sobretudo para quem acompanha as produções Netflix. Ele esteve também em A Casa, lançado em 2020, e agora pode ser visto novamente em Abaixo de Zero, no qual interpreta um policial. Ainda que ambos os filmes não sejam exatamente muito marcantes, já é possível sentir a potência desse ator, mesmo que em roteiros problemáticos.

Bom ou ruim, é interessante ressaltar que pode ser interessante fugir um pouco das histórias de perseguição e vingança hollywoodianas. Abaixo de Zero claramente não tem um orçamento grande o suficiente para destruir carros em explosões impressionantes, mas compensa com a criação de tensão e por não nos poupar de imagens gráficas que ajudam a construir ou dispersar essa tensão. Pode não ser um grande filme, mas provavelmente é um bom entretenimento.

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Atenção! A partir daqui, a crítica pode conter spoilers.

La policia

Com um título um tanto infeliz, Abaixo de Zero não tem tanto a ver com a temperatura, ainda que o frio e o gelo sejam fatores importantes na trama. O frio, aqui, é apenas mais um obstáculo no caminho do policial que, no primeiro dia de trabalho, acaba com a complicada missão de transportar prisioneiros de uma prisão para outra. Claro que algo dá muito errado e o próprio filme nos dá um sinal do que está por vir quando Martín (Gutiérrez) precisa resolver o problema de um pneu furado na chuva antes de chegar à delegacia.

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Logo de cara o filme nos mostra um departamento repleto de problemas: infraestrutura sem manutenção, má organização e más relações interpessoais, mas tudo isso é exposto de forma muito rápida e, ainda que funcione como uma forma de denúncia, essas características parecem estar ali somente para sustentar a falta de ajuda que será notada mais a frente.

Abaixo de Zero funciona muito bem no sentido de manter o mistério acerca de quem estava falando a verdade (o policial que estava buscando vingança ou o prisioneiro que era seu alvo). Funciona muito bem também ao criar uma história muito tensa com baixíssimo orçamento, o que é beneficiado pelo espaço do blindado, no qual boa parte do filme se desenvolve. Pequeno e repleto de sinais de confinamento, o caminhão é um recurso perfeito para criar uma atmosfera claustrofóbica de urgência.

Ainda que sejamos fisgados por isso, é bastante estranho que nenhum socorro tenha aparecido mais cedo, sobretudo por haver um prisioneiro considerado perigoso no transporte. É bastante pouco provável que não houvesse um monitoramento mais intenso e a falta de apoio policial ao longo de todo o filme faz o helicóptero do final soar como um enorme deus ex machina, ou seja, algo que surge como que do nada para desatar os nós da trama.

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Dilemas

O roteiro e a direção são bastante competentes no que diz respeito a manter a atenção dos espectadores, mas talvez a curiosidade pela “verdade” seja o que mais nos segura até o final. O ritmo e a edição de Abaixo de Zero também são excelentes ao nos mostrar os dois lados da história, às vezes simultaneamente: policiais não são perfeitos e prisioneiros não são necessariamente monstros.

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Nesse sentido, Abaixo de Zero não se distancia dos filmes mais cativantes sobre prisões, em que geralmente desenvolvemos empatia pelos personagens, apesar dos seus “erros”. O roteiro deste, no entanto, toma cuidado para que não nos apeguemos aos personagens inaceitáveis segundo os padrões morais socialmente aceitos. Assim, ao final, não temos apego nenhum por Nano (Patrick Criado) e podemos apreciar seu sofrimento como quem aprecia um bom gore.

Abaixo de Zero evoca questões familiares para o centro da trama e traz um crime que mexe profundamente com o imaginário dos espectadores por ser absolutamente abominável. Com isso, o filme, que já havia nos fisgado pela tensão, agora nos permite a catarse através de Martín: uma terceira pessoa, que não tinha envolvimento algum com o caso, de repente se vê com a oportunidade de fazer justiça com as próprias mãos.

A proteção à família soa como um desejo consensual da humanidade, mas isso não significa que Abaixo de Zero tenha pretensões neutras, afinal, todos os personagens pertinentes para a história podem ser divididos entre policiais e prisioneiros, e não simplesmente como mocinhos e vilões. Apesar de raso por um lado, Abaixo de Zero consegue trazer reflexões muito boas, sobretudo no que diz respeito a dilemas morais, como o que Martín enfrenta ao final. Quase sempre os filmes têm pelo menos um ponto positivo e Abaixo de Zero tem até mais de um, mas, assim como A Casa, esse também não deve demorar para fugir das nossas memórias.

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Abaixo de Zero está disponível no catálogo da Netflix.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Canaltech