7 razões que tornam Coração Satânico a “adaptação acidental” de Constantine
Por Claudio Yuge |
John Constantine, o mago de rua moderno da DC Comics, é um dos personagens mais queridos dos leitores e também dos cinéfilos que o conheceram pela versão adaptada por Francis Lawrence, com Keanu Reeves, em 2005; pela encarnação de Matt Ryan, na série que foi ao ar com apenas uma temporada e no universo compartilhado Arrowverse do canal CW; ou nas animações da Warner Bros, com o próprio Ryan fazendo as vozes.
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O anti-herói britânico que vive com um cigarrinho Silk Cut na boca vem ganhando destaque nos quadrinhos nos últimos anos, participando ativamente do tradicional universo de heróis da DC (anteriormente, ele ficava mais restrito às histórias adultas do extinto selo Vertigo).
Embora o longa com Keanu Reeves tenha feito sucesso e a versão de Matt Ryan seja a mais próxima do visual e maneirismos do personagem, ainda há muito a explorar com o querido bruxo. E, revirando os clássicos do passado, o Canaltech encontrou aqui um filme que não é uma adaptação de Constantine e nem mesmo foi inspirado pela franquia dos quadrinhos, mas que tem tanto em comum com as HQs que parece ter sido um "adaptação acidental".
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Coração Satânico, do consagrado diretor britânico Alan Parker, é uma obra-prima do terror que muita gente não viu, especialmente os fãs mais jovens, e seria uma conversão perfeita de Constantine, caso, claro, realmente fosse essa a intenção original. Abaixo vão razões pelas quais podemos afirmar isso — e, desde já, fica a dica para a Warner Bros também revisitar o filme, como uma possível inspiração para os projetos do bruxo marginal favorito dos fãs.
1. Mickey Rourke
Em 1987, o ator estava em franca ascendência, com participação de sucesso em 9 ½ Semanas de Amor, Barfly e O Ano do Dragão. Sua aparência era incrivelmente parecida com a de John Constantine, inclusive com o tradicional sobretudo e o comportamento muitas vezes cínico, frio e evasivo do personagem original.
Em Coração Satânico, ele é Harry Angel, um detetive particular contratado por um misterioso cliente, que busca pelo cantor Johnny Favorite, na Nova York de 1955. No filme, ele parece muito com o lado “investigador do oculto” de Constantine, bem diferente da versão exorcista de Reeves ou do “mago” Matt Ryan. Se tivéssemos o Rourke de 1987 nos dias de hoje, não haveria pessoa melhor para encarnar o personagem nos cinemas.
2. Robert De Niro
O veterano interpretou Louis Cyphre (capitou aí a referência ao diabão com som de seu nome?), que se revela o verdadeiro contratante de Angel. Com uma interpretação digna de Oscar de Melhor Ator, ele deixa o Lúcifer de Peter Stormare, do Constantine com Keanu Reeves, no chinelo — embora Stormare também tenha dado um show à parte.
A sequência do diálogo com Angel na igreja e sua imposição nos momentos finais deixam calafrios na memória.
3. Feitiçaria e assassinato
A trama de Coração Satânico não poderia ser mais apropriada para Constantine: envolve magia sombria, reencarnação, pecados, mistério, violência, mortes estranhas, vodu e a ambientes claustrofóbicos na Louisiana.
4. Ambientação de Alan Parker
Parker é um dos mestres do cinema e sua escalada de tensão, com momentos icônicos em que ele usa recorrentes tomadas de hélices quando a morte se aproxima, deixa tudo ainda mais misterioso e atmosférico.
Assim como Jamie Delano fazia nas primeiras edições do título mensal Hellblazer, o cineasta usa cadência de batimentos do coração para brincar com a ansiedade do público e escala o horror e a revelação do mistério em sequências que tornam a dinâmica da velocidade da narrativa uma emulação de um ataque cardíaco — isso pode ser visto na primeira história da revista, na trama de Hunger, e em outras edições de Delano.
5. Personagens
Além dos próprios interpretados por Rourke e De Niro, há personagens estranhos e moralmente questionáveis, dignos daqueles que fazem parte dos tradicionais cenários das tramas de Hellblazer.
Em Coração Satânico há a presença da feiticeira Margaret Krusemark (Charlotte Rampling), que pode ser considerada o equivalente no filme ao feiticeiro vodu Papa Meia-Noite, rival mágico de Constantine que vive aparecendo em suas histórias; e Epiphany Proudfoot (Lisa Bonet), que tem o charme encantador, irresistível e perigoso, do jeitinho que as coadjuvantes costumam aparecer nas tramas do bruxo moderno.
6. Artefato
Vire e mexe, as tramas de Constantine usam artefatos mágicos ou objetos raros que interagem com a história. Aqui, um pequeno vaso de alabastro, lacrado e guardado com cuidado por Margaret é a peça-chave para a resolução do mistério.
7. Final de tirar o fôlego
Assim como as histórias mais famosas de Constantine, Coração Satânico tem um final daqueles que ficam em nossa memória para sempre — seria um pecado imperdoável contar esse spoiler aqui para quem não viu o filme.
Toda a investigação, as mortes misteriosas e a revelação do paradeiro de Johnny Favorite se entrelaçam com o próprio Angel, que, assim como o espectador, fica estupefato e sem fôlego ao descobrir a verdade. É de tirar o chapéu.