Governo dos EUA estabelece critérios para a criação do dólar digital
Por Roseli Andrion | Editado por Claudio Yuge | 06 de Outubro de 2021 às 23h40
Com o dólar prestes a entrar na era cripto, o governo americano deve, em breve, anunciar mais claramente como isso deve ocorrer. O material deve ser composto de três documentos. Primeiramente, o Federal Reserve Board (Fed, o banco central americano) deve apresentar ainda neste mês um relatório sobre o sistema de pagamentos americano, para apontar se há viabilidade para a emissão de uma moeda digital de banco central (CBDC).
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Depois, o Fed de Boston vai publicar uma pesquisa sobre a tecnologia que poderia sustentar o dólar digital e seu respectivo programa de código aberto. Esse documento pode ajudar a estabelecer padrões tecnológicos para a criação de uma moeda digital americana e que podem, inclusive, ser usados para criptomoedas em desenvolvimento em outras partes do mundo — uma vez que a integração com o sistema de pagamentos americano é essencial para a economia de muitos países.
Por fim, o grupo de trabalho do presidente sobre o mercado financeiro vai apresentar recomendações de como regular stablecoins. As stablecoins são criptomoedas criadas por empresas privadas que mantém preço relativamente estável (em geral, atrelado a uma mercadoria ou a uma moeda ou que têm suprimento regulado por um algoritmo).
Esse material vai servir de guia para que a comunidade financeira saiba como o Fed e a administração Biden veem o futuro cripto do dólar, bem como até que ponto eles apoiam a adoção de uma moeda digital e quais proteções imaginam serem necessárias para defender indivíduos e investidores — já que o mercado hoje ainda não é regulado.
O que antes era um projeto distante ganhou senso de urgência conforme o valor dos ativos digitais chegou a cerca de US$ 2 trilhões. Além disso, outros países, como a China, já se adiantam na criação de suas moedas digitais nacionais. “Isso foi de ‘É uma ideia interessante’ há alguns anos para ‘Precisamos de um projeto-piloto’” diz Josh Lipsky, diretor Centro Geoeconômico do Conselho Atlântico.
Riscos e benefícios
Nos últimos meses, houve discussões sobre se a criação de um dólar digital é uma decisão sensata. Randal Quarles, vice-presidente para supervisão do Fed, diz que os benefícios desse tipo de moeda não são claros, mas seus riscos são significativos e concretos. Paralelamente, os que são a favor da criação de uma CBDC apontam que ela pode acelerar pagamentos, reduzir seu custo e aumentar o acesso ao sistema financeiro para indivíduos não bancarizados.
Um grupo de bancos centrais (que inclui o Fed, o Banco da Inglaterra e o Banco Central Europeu) apresentou um relatório que indica que as CBDCs podem intensificar as corridas aos bancos ao tornar os saques mais fáceis em uma crise. Além disso, a criação de uma CBDC pode demorar anos e, por isso, o Fed prefere que o congresso americano aprove uma lei para autorizar a emissão.
Um levantamento do Barclays Plc, apresentado em setembro, aponta que o Fede teria uma enorme vantagem competitiva em relação os tokens privados se tivesse seu próprio dólar digital. “Com regulação apropriada, uma CBDC do Fed pode impedir a emissão de criptomoedas por empresas privadas.”
Fonte: Bloomberg